Adotada por uma família em Lajeado, Iraci Bondan, 39 anos, conheceu no feriado de 1° de maio sua mãe biológica, Dalmi Lurdes Bondan, 60 anos, da qual não tinha lembranças e tampouco notícias. A mãe viajou de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, onde mora para reencontar a filha em Lajeado que teve de abandonar quando a criança tinha 3 meses de idade.Naquele sábado, Iraci, sentada no sofá da casa de seus parentes, não sabia que a mãe havia chegado e estava escondida esperando para revê-la. Ela é distraída pelos familiares, enquanto Dalmi entra na sala por trás da filha e fecha seus olhos. “Adivinha quem é”, pergunta antes de se revelar. No mesmo instante, Iraci começa a chorar de emoção e a outra completa “sou eu minha filha querida, sou sua mãe”.
As lágrimas corriam nos olhos de todos os que assistiam ao encontro e no rosto de mãe e filha que se abraçavam e se descobriam. “Minha filha amada e querida, a mãe nunca te esqueceu”, confessa Dalmi à filha que abandonou obrigada.A filha Mariza Farias que veio com a mãe de São Miguel do Oeste, feliz por conhecer a irmã mais velha, deixou a posição de espectadora e abraçou a nova família. Juntaram-se a elas os netos Eduardo e Eva, filhos de Iraci, que a avó acabara de conhecer. “Agora eu tenho uma netinha”, alegra-se Dalmi que só ganhou netos homens de suas outras quatro filhas.
Sozinha, ela foi obrigada a dar a filha
Dalmi tinha 21 anos quando engravidou e foi rejeitada pelo pai da criança. Sem a aceitação de seu pai que considerou o acontecimento um mau exemplo para as irmãs, ela veio para Lajeado ter o bebê junto de sua madrinha. O parto foi feito em casa com o auxílio de uma parteira. Iraci nasceu muito pequena e doente, pois na época a gestante não recebeu os cuidados pré-natais que deveria. Dalmi cuidou do bebê nos três primeiros meses, até que seu pai veio buscá-la. Ele levou Dalmi, mas não permitiu que ela carregas
se a criança consigo. Numa conversa de bar, acertou com Pedro Polis que estava bêbado, a adoção do bebê. Conforme contam os parentes, Pedro chegou em casa e anunciou à esposa Leonora que adotariam uma menina. Ela protestou porque possuíam cinco filhos, mas ele estava decidido, pois havia dado sua palavra e acreditava que “quem cria cinco, cria seis”.
No dia marcado Dalmi foi até o casal Polis e aos prantos, forçada pelo pai, entregou o bebê. “Ela não queria dar a menina. Ficamos chorando de ver a mãe ir, deixando a filha para trás”, lembra a filha mais velha do casal, Maria Luiza Garcia, que na época tinha 21 anos. Iraci estava doente, tinha problemas no pulmão e foi internada no hospital durante uma semana para se recuperar. “Criamos ela com muito sacrifício, mas criamos”, orgulha-se.
Procura durou cerca de três meses
Depois que os pais adotivos faleceram e com a lembrança do pedido da mãe Leonora “procure sua mãe verdadeira”, Iraci, que sempre soube da sua história, decidiu pedir ajuda do primo Nestor Polis para iniciar a busca. “Não fiz isso antes porque não sabia como meus irmãos reagiriam”, justifica.
Apenas o nome de Dalmi na certidão de nascimento de Iraci era a pista para encontrá-la. Foi com esse documento em mãos que o primo de criação iniciou a pesquisa na internet sobre o paradeiro de Dalmi. Anúncios na emissora de rádio local auxiliaram na busca. “Encontrei uma pessoa com o mesmo nome, Dalmi Lurdes Bondan, mas que não era ela. Falei com essa por telefone, mas pelos dados e como ela tinha menos idade percebi que não era a mesma”, conta. Entretanto, a mulher sabia que tinha uma homônima que morava em Santa Catarina e conseguiu o contato para repassar a Nestor. Ele ligou e a filha Mariza foi quem atendeu. Sem conhecer a história, ela não acreditou no que Nestor lhe contou. “Eu me apavorei com o que ele falou. Dizia: da onde? tu tá louco! A minha mãe não!”, recorda. A única irmã que sabia ter nascido antes dela, era a que Dalmi abortou, como aconteceu com outros três filhos por falta de cuidados médicos.
Mariza e seus irmãos nunca ouviram falar de Iraci. Seu pai, depois que casou com Dalmi, proibiu a esposa de contar para qualquer pessoa que tinha uma filha e menos ainda sobre o abandono. Depois do telefonema de Nestor, Mariza foi à casa da mãe e a chamou para uma conversa particular. Ao ser questionada Dalmi confessou a história. “Meu pai fez isso de vergonha. Minha mãe sofre com problemas mentais e ele quis preservá-la”, opina Mariza.
Tal mãe, tal filha
Sentadas uma ao lado da outra, Dalmi e Iraci não tinham dúvida do parentesco. “Não precisa nem fazer DNA”, brincava Nestor referindo-se à semelhança física de ambas. O sorriso e até o corte de cabelo parecidos chamavam a atenção de todos. A casa encheu de parentes e vizinhos querendo conhecer a “nova” mãe de Iraci.
A irmã biológica Mariza revelou sua maior alegria: a de deixar de ser a filha mais velha. “Era tão ruim, toda a responsabilidade ficava comigo. Agora posso dividir”, diverte-se.A novidade impressionava e confundia a todos. “Ainda não caiu a ficha. Parece uma novela dentro da minha cabeça. Ainda mais por se tratar da mãe que depende de nós para tudo”, define. Iraci contou que estava nervosa com o reencontro e que havia dormido apenas duas horas durante a noite. “Eu sempre queria conhecer ela. Estava muito ansiosa”, afirma.A neta Eva fez um desenho para a avó e outro para a tia levarem de lembrança. Mariza emocionou-se porque