A pequena Isabelle Cristina Silveira Bender, 3 anos, tinha poucos meses quando foi morar com a avó Mara Elizabete Flores Silveira. Para alimentar o bebê, a avó deu seu próprio peito, pingando nele o leite de uma mamadeira para simular uma amamentação e amenizar o desejo da criança. Após duas semanas, inesperadamente, seus seios cresceram e ela começou a produzir leite materno aos 50 anos. Mãe de três filhas adultas a mulher vive, novamente, a fase de acompanhar o crescimento de uma criança e com o ato conseguiu afastar-se de uma depressão profunda. Juntas avó e neta descobrem dia a dia a fórmula de serem felizes, vivendo como mãe e filha.
Aos 15 anos a filha de Mara, Tamires Cristina Flores Silveira, 21 anos, destacou-se nas pistas de dança de Porto Alegre e Rio de Janeiro como DJ Tammi. Quando começou o sucesso artístico conheceu um rapaz de Lajeado e engravidou. Abandonada por ele, Tamires foi mãe solteira e teve que escolher entre acompanhar o crescimento da filha ou continuar sua carreira e buscar um sonho de ser atriz. Mara auxiliou a filha na decisão e pediu para criar a recém-nascida Isabelle.Com a experiência adquirida na criação das filhas biológicas, Mara via na neta, ainda bebê, uma novaforma de ser mãe. “Não me vejo como avó de Isabelle, mas como uma mãe”, conta.
A menina ainda não sabe diferenciar quem é sua mãe verdadeira, mas diz que tem duas mamães e dois pais, mesmo que o verdadeiro não a tenha assumido como filha. A família deixa claro a historia de seus pais para a menina.Quando a criança foi morar com Mara, Tamires ainda a amamentava, isso foi o maior empecilho que viveu até agora, pois a avó precisava encontrar uma ama-de-leite, mas não conseguiu.
O marido de Mara desconfiou dela pensando que ela estivesse grávida, e de outra pessoa, já que ele fez vasectomia. Desencadeou-se outro problema, brigas entre o casal. Mesmo assim, ela suportou todos os acontecimentos e continuou criando a neta ao lado do marido, que entendeu a situação após uma consulta médica.
Depressiva ela tentou o suicídio três vezes
Antes de Isabelle chegar ao convívio de Mara, ela sofreu com uma depressão profunda. Ingeria diariamente 12 comprimidos e passava os dias sobre uma cama em um quarto escuro sem expectativas de vida. Os médicos diziam à família que Mara teria que querer melhorar, mas não tinham mais esperanças. Três vezes ela tentou o suicídio, até que Tamires engravidou e Isabelle nasceu. Os acontecimentos deram a ela novos objetivos.
A menina deve ter pais e avós
Conforme a psicóloga Graziela Ely, é papel da família esclarecer para a menina a diferença entre mãe e avó. A criança elege uma figura de exemplo, que pode ser a avó, porém ela tem mãe, seja essa presente ou ausente. Considera-se importante que a criança conviva com os avós, pois são figuras de exemplo. Sobre o fato da amamentação por parte da avó, a psicóloga explica que Mara pode ter tido pseudogravidez, ou seja, gravidez psicológica. “Os desejos da criança em alimentar-se e da avó em alimentá-la, além do fato de a criança sugar o seio da avó, provocaram o estímulo de produzir leite”, diz.
A obstetra Brigitte Ranck confirma e diz que é possível sair leite do seio de qualquer mulher quando ele é estimulado pela sucção. Cada vez que o seio é estimulado, as terminações nervosas do mamilo também são. Esses nervos levam o estímulo para a glândula que produz a prolactina (leite). Essa, por meio da circulação sanguínea, atinge as mamas que produzem o leite. Essas etapas são chamadas reflexo de produção ou reflexo da prolactina.
“Vale a pena começar tudo de novo”
Para Mara, depois de anos, criar novamente uma criança e passar a educá-la foi sua salvação. Ela comenta que vê na Isabelle a sua filha Tamires quando pequena, e assim pode realizar o que deixou de fazer anos atrás. “Uma criança é tudo na vida de uma mulher”, diz. A mãe relata que as filhas Thais, 34 anos, Mara Lúcia, 28 e Tamires, 21, continuam no seu coração e que Isabelle veio para complementá-lo.
Hoje ela considera-se uma mulher de sorte e realizada. Comerciante possui uma empresa de confecções e ali teve um sonho realizado. Durante o dia trabalha, enquanto que a criança fica na creche, e à noite convive com a família. Seu marido, Osvaldino Casagrande, foi um de seus apoios. Ela conta que Casagrande entendeu e aceitou tudo o que aconteceu ao longo dos anos. “Agora sei que tenho que viver o hoje, porque o amanhã é uma promessa”, afirma.