Jornal A Hora – O desfile da semana passada pode ser considerado um marco de sua volta às passarelas? Já tem algum trabalho previsto? Para quem?
Shirley Mallmann – Não é necessariamente um marco de volta, pois somente fiz um desfile de exclusividade e não vários, mas estou estudando uma proposta de ir a Paris para a temporada de lá. Ainda não confirmamos, pois não é tão fácil viajar pelo mundo e ficar fora por semanas com dois filhos em casa.
Eu realmente gosto muito de desfilar e se conseguirmos agendar tudo direito, talvez volte a fazer alguns desfiles, mas sempre com exclusividade. Assim não é uma loucura e nesse meio tempo continuo fotografando para os catálogos e outros projetos que faço. Semana que vem vou estar trabalhando no Canadá e logo depois na África do Sul.
A Hora – Qual foi a maior mudança dos desfiles do passado e do presente?
Shirley – Pessoalmente o que mais gostava no desfiles era o fato deles nos levarem a um mundo da fantasia, do glamour, e todos tínhamos uma parte nisso. As modelos, os estilistas e os maquiadores faziam um trabalho em grupo e todos se conheciam. Hoje em dia tudo parece mais rápido. As pessoas mudam muito de um ano para o outro e a parcerianão parece mais a mesma. Ainda continua o efeito fantasia, mas não tanto quanto háalguns anos. Acho que muito disso tem a ver com a economia mundial. Osestilistas não correm mais tantos riscos, e o dinheiro gasto nas produções também foi cortado.
A Hora – Você acredita que os padrões de beleza impostos pelo mercado detrabalho mudaram? Como?
Shirley – Eu acho que os padrões mudaram bastante. Quando comecei o tempo de vida de uma modelo no mercado era muito mais curto. Hoje os estilistas gostam de modelos e rostos mais maduros, especialmente no mercado comercial. Veja por exemplo modelos como Kate Moss, ela tem 36 anos e continua trabalhando muito. A maioria das clientes que compra as roupas que vestimos são mais velhas que nós e acho que elas se identificam melhor com uma mulher de 30 do que com uma mulher de 15 a 20 anos.
A Hora – Muitas meninas na adolescência almejam ingressar na carreira de modelo, outras entram, mas ficam por pouco tempo. Conte a elas seu segredo para estar no mundo da modae voltar às passarelas com 33 anos e dois filhos.
Shirley – Eu realmente me considero sortuda nesse aspecto. Estou trabalhando há muito tempo, já passei por várias mudanças do mercado e sempre consegui trabalhar, mesmo durante as minhas duas gestações. Parte disso com certeza é o meu aspecto físico, sou naturalmente magra e sempre consegui ficar com o corpo no padrão necessário. Outro fato é o meu rosto, que mesmo tendo traços fortes, ainda é feminino o suficiente para meadaptar a vários mercados. Acho que o profissionalismo também conta muito, sempre vi o meu trabalho como profissão e sempre dei o meu melhor. Com o passar do tempo os clientes sabem em quem podem confiar para que o trabalho saia bem-feito. Isso com certeza é uma coisa que se conquista com experiência.
A Hora – Quais são seus planos para o futuro? Brasil e sua cidade natal, Santa Clara do Sul, estão neles?
Shirley – Meus planos para o futuro mudam a cada ano que passa (risos). É difícil você definir uma coisa certeira num mundo onde não há horários, feriados ou fim de semana. O futuro é muito inconsistente. Mas eu quero muito que meus filhos cresçam com a cultura brasileira, além da americana. Então estamos com planos de eventualmente morar no Brasil. Aqui moramos na praia, vamos para a cidade para trabalhar, esse é o tipo de vidaque gostamos e tentaremos ter no Brasil. Sinto muita falta da minha família, então gostaríamos de estar por perto deles. Mas isso são planos para o futuro.
A Hora – Como está sua irmã na carreira de modelo?
Shirley – Tenho muito orgulho da Veridiana, torço por ela, trabalhou muito duro para chegar onde está. Ela trabalha e mora na Itália. Infelizmente é longe daqui, então a vejo pouco. Na verdade a família toda está espalhada pelo mundo e é difícil conseguirjuntar todos, mas a gente sempre consegue dar um jeitinho.
A Hora – Com que frequência você visita o Brasil?
Shirley – Tento vir ao Brasil para ver os meus pais e irmão pelo menos três vezes no ano. Venho também outras vezes para trabalhos e projetos que me trazem fora de época. Mas eles também vêm para Nova Iorque quase todos os anos.