As sucessivas quebras nas safras gaúchas motivam mobilização de produtores rurais e lideranças políticas. Em audiência pública na Câmara dos Deputados, terça-feira em Brasília, dirigentes de diversas entidades do estado expuseram as dificuldades enfrentadas pelo setor e cobraram medidas para atenuar a crise financeira, garantir maior seguridade das safras e assim viabilizar investimentos a longo prazo, como a irrigação. As dívidas com vencimentos em 2025 somam R$ 28 bilhões.
O debate ocorreu na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural a pedido do deputado federal Afonso Hamm (PP/RS). O principal pleito trata-se da pressão política para dar andamento nos projetos de securitização de autorias do senador Luís Carlos Heinze (PP/RS) e do deputado federal Pedro Westphalen (PP/RS). Ambos propõe reeditar em partes o processo que ocorreu no Brasil em 1999, prorrogando dívidas dos agricultores por 20 anos com 4 anos de carência.
Propositor da securitização há duas décadas o agora Ministro do TCU Augusto Nardes participou da audiência. “Salvou o agro naquela época. Se o Brasil não apoiar o Rio Grande do Sul, o Estado vai para uma situação de calamidade. Investidores vão começar a migrar para outras regiões.”
O Vale do Taquari esteve representado na audiência por entidades de classe e pela organização SOS Agro RS, coordenado pela produtora rural Graziele Camargo. Ela destaca que nos últimos sete anos o RS sofreu cinco estiagens e duas enchentes, condições que obrigaram os agricultores a prorrogarem créditos de forma consecutiva. “Os gaúchos foram os que mais honraram a securitização dos anos 90. Se não nos importássemos com isso, não estaríamos aqui pedindo socorro há um ano.”
A agricultora ressalta que dentro de algumas semanas inicia-se a preparação para os cultivos de inverno e teme a insegurança no campo. “Pleiteamos que os financiamentos sejam suspensos de agora em diante até que tenha ocorrido a tramitação dos projetos de securitização e dos ajustes propostos no ProAgro.”
São 314 municípios atingidos pela estiagem somente neste no estado, destes 191 com decretos reconhecidos pelo governo. No Vale do Taquari, Arvorezinha e Boqueirão do Leão tiveram a situação de emergência homologada. Em ambos, as prefeituras seguem abastecendo diversas propriedades com água potável.
Prejuízos diretos de R$ 106,6 bilhões
Presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e da Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm), Gedeão Silveira Pereira, detalha que nos últimos seis anos o Estado deixou de colher cerca de 50 milhões de toneladas de grãos o que gerou um prejuízo direto ao produtor na casa de R$ 106,6 bilhões. “A situação era grave no ano passado, quando já dizíamos que se em 2025 tivéssemos uma safra boa já seria difícil equilibrar as contas. Agora a situação é gravíssima.”
A Farsul participou ainda na mesma manhã de encontro com bancos e o cenário é de dificuldade no sistema financeiro. “Não queremos migalhas. Queremos a oportunidade de renegociar e de pagar. As baixas taxas de inadimplência do RS comprovam que honramos com os nossos compromissos.”