As enchentes de maio de 2024 expuseram a vulnerabilidade do Vale do Taquari e de outras regiões do RS diante de eventos climáticos extremos. Em busca de soluções para minimizar os impactos das cheias, uma delegação do governo estadual esteve nos Países Baixos entre os dias 18 e 26 de fevereiro. O grupo participou de uma missão oficial para conhecer estratégias de gestão hídrica adotadas pelos neerlandeses, que enfrentaram inundações severas nas décadas de 1990 e desenvolveram o programa Room for the River.
A comitiva contou com a participação da secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado, a lajeadense Marjorie Kauffmann, que destacou a importância de buscar alternativas eficazes para a prevenção de enchentes. “Não há uma solução única, mas podemos aprender com quem já passou por situações semelhantes e implementou medidas eficientes.”
Durante a visita, a delegação conheceu o programa Room for the River, desenvolvido pelos neerlandeses após as inundações de 1993 e 1995, que resultaram na evacuação de mais de 200 mil pessoas. O projeto utiliza a inteligência da natureza para minimizar impactos, permitindo que os rios tenham espaço para escoar a água excedente. Entre as medidas adotadas estão o afastamento de diques, aprofundamento de canais laterais e criação de áreas de inundação controlada.
Kauffmann ressaltou que o conceito de gestão hídrica precisa ser pensado em nível de bacia hidrográfica, levando em conta os efeitos em diferentes municípios. “Não adianta resolver o problema em Lajeado sem considerar o impacto que isso vai causar em Arroio do Meio ou Cruzeiro do Sul”, afirmou. A secretária destacou ainda que cada região demanda soluções específicas, mas que os princípios do Room for the River podem ser adaptados ao Rio Grande do Sul.
A missão também incluiu visitas ao Museu da Inundação, que preserva a memória de grandes cheias e reforça a importância de manter o conhecimento sobre eventos climáticos extremos. “Fomos ao museu que traz o histórico das enchentes para que as pessoas não percam a memória do que aconteceu”, contou Kauffmann.
Outro ponto destacado foi a necessidade de mapeamento e planejamento do uso do solo, especialmente em áreas sujeitas a inundações. “Os três maiores parques de Lajeado eram zonas de enchente com ocupação humana. Precisamos definir os usos adequados para essas áreas, mas não é possível transformar tudo em parque”, afirmou.
A comitiva também conheceu uma solução inovadora para contenção de cheias: barreiras flexíveis feitas de material plástico, que podem ser transportadas com facilidade e, quando preenchidas com água, formam barreiras de até cinco metros de largura e um metro de altura. “A própria água se torna uma barreira contra a enchente”, explicou Kauffmann, destacando que essa tecnologia pode ser utilizada em kits da Defesa Civil.
Na próxima semana, está prevista uma reunião online com o criador do programa Room for the River, que demonstrou interesse nos desafios hidrológicos do Vale do Taquari. Segundo a secretária, a combinação entre a diferença de altitude e a força das águas da região chamou a atenção dos especialistas neerlandeses. “Ele ficou impressionado com a hidrologia do Vale e quer entender melhor o nosso desafio”, afirmou Kauffmann.