Entre os prejuízos para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, e os riscos aos crimes digitais, a exposição excessiva às telas pode ser prejudicial em todas as idades. Em um mundo hiperconectado, a dependência da internet é tema de estudos científicos e revela a necessidade de mudança de hábitos.
Na lista de malefícios das telas, está a piora da saúde mental e física, relacionada a problemas de visão, dor de cabeça, insônia, ansiedade e dificuldade de concentração e aprendizagem.
O uso excessivo das tecnologias ainda pode impactar no desenvolvimento infantil, em áreas cognitivas e sociais da criança, além de problemas relacionados à redução da criatividade e imaginação.
Diante desse cenário, são tomadas medidas para equilibrar o uso dos aparelhos eletrônicos, a exemplo da utilização de celulares na escola.
Alerta aos crimes
Na última década, esse uso excessivo da internet ainda representou risco à segurança dos usuários. Em dez anos, o número de estelionatos registrados no Vale aumentou 428,5%. Em janeiro de 2025, foram registrados 35 crimes de estelionato, enquanto em janeiro de 2025, foram 185. Os dados são do portal da Segurança Pública do estado. Segundo a delegada regional, Shana Luft Hartz, a maioria dos estelionatos estão ligados aos crimes cibernéticos, já que o risco para o criminoso é menor.
A delegada afirma que há muitos casos em que as vítimas não registram a ocorrência, por vergonha, ou por acharem que não terão o dinheiro recuperado. Ela destaca a necessidade de atenção.
“O banco dificilmente faz ligações. Desconfie e entre em contato com o seu gerente de contas. Não adote nenhuma providência por telefone.”
Segurança
Coordenador de Controles Internos da Sicredi Integração RS/MG, Odair Thomas também exemplifica os malefícios do uso excessivo dos dispositivos para a segurança dos usuários. “Quanto mais tempo uma pessoa passa online, maior a chance de encontrar conteúdos maliciosos, como phishing e sites fraudulentos, aumentando a probabilidade de cair em golpes”, ressalta.
Thomas afirma que o uso contínuo de dispositivos eletrônicos pode levar à fadiga digital, diminuindo a capacidade de discernimento e atenção, contribuindo para que as pessoas sejam menos cautelosas ao clicar em links ou compartilhar informações pessoais.
Utilizar senhas fortes, ativar a autenticação de dois fatores, e ser cauteloso ao compartilhar informações pessoais online são algumas das alternativas para mitigar os riscos. Entre os crimes e golpes mais comuns, Thomas cita o golpe da falsa central de atendimento, o golpe do link falso, do falso investimento e do perfil do WhatsApp.
Caso o usuário caia em um golpe virtual com perda de valores, ele afirma que as empresas bancárias e cooperativas de crédito oferecem informações e possíveis maneiras de recuperar a quantia.
Segundo ele, quanto mais rápido a vítima agir, maiores as chances de reduzir os prejuízos. O primeiro passo é bloquear contas e cartões afetados e entrar em contato com a instituição financeira. Depois, é recomendado separar provas, como mensagens, prints, boletos, comprovantes de pagamento e e-mails. “Qualquer informação pode ser essencial para rastrear o golpista.”
Registrar um boletim de ocorrência também é fundamental. Além de formalizar a denúncia, o documento será importante se houver chance de recuperar o dinheiro perdido. Ele também serve como uma forma de proteção, caso os dados roubados sejam utilizados em outros golpes.
Tipos de crimes mais comuns
- Golpe da falsa central de atendimento: quando o fraudador entra em contato com a vítima se passando por um funcionário do banco.
- Golpe do Phishing – Link falso: essas mensagens são enviadas por e-mails, SMS, em redes sociais e aplicativos de mensagens, incluindo o WhatsApp, que busca induzir as pessoas a clicarem em links falsos, compartilhando senhas e seus dados pessoais.
- Golpe do falso investimento: os golpistas entram em contato oferecendo investimentos com retornos rápidos e imediatos.
- Golpe do WhatsApp: o criminoso se passa por um conhecido da vítima através do contato pelo WhatsApp e pede dinheiro urgentemente, geralmente alegando uma emergência.
Prejuízos à saúde e educação
- Problemas de visão, como miopia, fadiga ocular, olho seco e irritação
- Dores de cabeça
- Transtornos posturais
- Risco de transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão
- Alterações no humor, impulsividade e intolerância
- Dificuldade em desenvolver habilidades de atenção, foco e autocontrole
- Problemas de aprendizagem
- Dificuldade no desenvolvimento da fala]
- Transtornos alimentares, como obesidade e anorexia
Entrevista
Vagner Peruzzo • Doutor em Educação, escritor e palestrante
“A parte exacerbada não está dentro da escola, está na falta de mediação”
Quais são os principais efeitos do uso excessivo de telas no desenvolvimento cognitivo e emocional?
Há alguns estudos clínicos de 2023, 2024, que falam em dependência da internet. Isso pode ter uma série de efeitos biopsicossociais, que são classificados como transtorno de controle de impulso, devido à sua semelhança com o jogo patológico e o vício com substâncias. A dependência da internet foi definida por pesquisadores como a dificuldade de uma pessoa resistir ao desejo de usar a internet. Veja, nós já temos um cenário patológico aí, com efeitos negativos no bem-estar psicológico, na vida social, no desenvolvimento cognitivo, na vida acadêmica e, inclusive, na vida profissional.
Quais prejuízos desse uso são percebidos?
Os sintomas estão relacionados, especialmente, à modificação do humor, à intolerância, à impulsividade, à exposição a diversos conflitos. Tem um estudo que mostra que, em circunstâncias graves, as pessoas com dependência na internet podem sentir dores intensas no corpo, inclusive reverberar em problemas de saúde como síndrome do túnel do carpo, olhos secos, hidroses, sono interrompido. Sem olhar que os indivíduos com dependência à internet estão significativamente associados à comorbidades, com transtornos psiquiátricos.
Como isso interfere na infância e adolescência?
Quando a gente olha para o uso excessivo das telas na primeira infância, ele está intimamente relacionado aos prejuízos nesse desenvolvimento, porque tu tem menos contato com as pessoas, têm menos socialização, menos verbalização, conversa menos. Nós temos sentido na escola um número muito significativo de crianças com dificuldades na fala. A gente também consegue observar que quanto maior o uso de telas na primeira infância, mais dificuldades surgem nas habilidades de atenção, de autocontrole, de autorregulação emocional. O pensamento da criança que não usa tela no dia a dia, ela não sabe o que fazer, então ela imagina alguma coisa para fazer e aí ela brinca. É tédio, imaginação, brincadeira. A criança que faz uso da tela de forma excessiva, vai do tédio para a brincadeira. Não existe a parte da imaginação. Quando a gente olha para esse uso excessivo das telas na adolescência, que também é uma fase crucial no desenvolvimento, cria risco de vulnerabilidade psicopatológica. Estudos científicos já fazem esse mapeamento.
A tecnologia na educação tem sido usada de forma saudável?
O que a gente precisa é que a sociedade compreenda que todos os excessos são prejudiciais para a saúde e o excesso de tela também. Nós precisamos da presença e do acompanhamento deste pai, desta mãe, orientando a utilização do celular. Por outro lado, muitos pais, hoje, não sabem orientar, porque não viveram a era da tecnologia quando eram adolescentes. Do ponto de vista pedagógico, a escola tem administrado da melhor forma possível o uso da tecnologia para potencializar o desenvolvimento. A parte exacerbada não está dentro da escola, está na falta de controle de mediação. De proximidade da família.