“Esconder-se é um prazer, mas, não ser encontrado é uma catástrofe.” – Donald Woods Winnicott
Há quinze dias o universo me abençoou com o nascimento saudável da pequena Emma, ela veio se juntar aos manos Cecília e João Guilherme e me fez novamente refletir sobre o papel da paternidade.
A primeira missão de um pai acontece antes do filho nascer: nessa etapa a futura mamãe deve se sentir compreendida e acolhida em todas as modificações corporais que vai sofrer, bem como toda insegurança que surge sobre a capacidade de levar uma gestação até o fim, de ter um filho saudável e de ter um ambiente acolhedor.
A segunda missão começa ao nascimento: um homem deve aprender a amar aquele pequeno ser gerado fora do seu corpo, mas com partes suas. Deve ainda proteger o pequeno ser, bem como amparar a mãe naquelas primeiras semanas que ela mal dorme porquê fantasia que algo irá acontecer com o bebê se ela fechar os olhos.
Mais tarde um pai deverá ajustar a dose de autoridade para estabelecer limites, mas sem castrar. Deverá ainda fornecer a dose de amor e compreensão que permite florescer aquela voz interna que depois que surge nunca mais nos abandona, e que os psicólogos chamam de ego.
Com o passar do tempo, um pai preparado perceberá o surgimento da autocrítica (ou superego) daquele filho e perceberá aos poucos a introjeção dos valores da família e daquela sociedade.
Ocorre que a vida não para por aí e logo depois os pais tem começar a preparação para o afastamento e depois para a separação: afastamento primeiro para o micro mundo dos amigos do mesmo sexo (lembrem que durante um período as meninas acham os meninos chatos e vice versa), depois para os primeiros amores, para as festas e a explosão dos hormônios. Finalmente temos de nos preparar para separação, a saída daquele filho amado, seja para estudar ou formar uma nova família. Hora de pai e mãe voltar a ser casal, novamente apenas dois, mas agora com parte do coração vivendo fora deles.
Se um pai conseguir fazer isso, terá sido um “pai suficientemente bom”, essa é a forma que o psicanalista britânico Winnicott chama aqueles pais que ajudam o bebê a se tornar um ser unitário e que cria junto com a mãe, um ambiente que ofereça cuidados amorosos, suporte emocional e segurança.
Claro que esse ambiente não vive só de amores e deve permitir inclusive que a criança se desiluda com os pais e o mundo sem, no entanto, destruir sua capacidade de aceitar a realidade.
Não é tarefa fácil, mas é uma alegria encará-la outra vez.