O governador Eduardo Leite fez um discurso inflamado nessa segunda-feira, durante a assinatura dos primeiros contratos para obras de infraestrutura resilientes.
Com uma retórica de muito talento, relembrou algumas afirmações infelizes do presidente Lula, quando em agosto de 2024 disse que o governador gaúcho “nunca estava contente”, “que deveria agradecer pelo tratamento que o governo federal dava ao Rio Grande do Sul”.
O mandatário do Piratini falou que “jamais seria subserviente” e aproveitou para disparar contra a renegociação da dívida dos estados.
A proposta tramita em Brasília e faz parte do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Em tese, é uma oferta vantajosa. No entanto, o impacto imediato incluiria a redução de R$ 5 bilhões do Fundo de Reconstrução do RS (Funrigs).
Em vez dos R$ 14 bilhões para obras, o Estado teria R$ 9 bilhões. O fato é que, na narrativa inflamada do governador, essa medida deixou a entender que seria impositiva e não propositiva. A estratégia de Leite é clara: posicionar-se como um nome forte de centro-direita. Ele usa uma abordagem bem articulada, mar- cada pelas críticas e que exploram a frustração com um sistema que centraliza recursos em Brasília.
Esse embate revela o risco das meias verdades. Ao passo que Leite ganha pontos ao defender o Funrigs, a narrativa desconsidera que se trata de uma proposta em discussão, não algo de cima para baixo.
Comunicação atabalhoada
Do lado federal, a forma de explicar as medidas apresenta falhas difíceis de suplantar. Também é preciso dizer que existe muita má-vontade em analisar qualquer movimento do governo Lula, pois é notório o pressuposto de alguns pedagoga, terapeuta quântica e diretora executiva da Quanticamente Linda grupos de que nada que vem de Brasília vai dar certo.
Mesmo com a mudança de Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação, o governo parece incapaz de romper a bolha tecnocrática, deixando brechas para que narrativas adversárias ganhem força.
O próprio Pimenta, agora de volta ao Congresso Nacional como deputado federal, foi às redes sociais tentar contrapor o governador gaúcho.
Dentro das forças sociais do RS, as críticas de Leite reacenderam o discurso de uma histórica “injustiça” sofrida pelo Rio Grande do Sul. Do Estado que contribui com 6,5% do PIB nacional e ocupa o quarto lugar na economia brasileira. A argumentação tem fundamento: é verdade que o RS colabora muito e frequentemente se sente alijado em termos de retorno.
Por outro lado, a proposta federal também não é um bicho de sete cabeças. Há uma previsão de economia de até R$ 45 bilhões entre 2027 e 2035, com investi- mentos desonerados nos próximos anos.