Endividamento aumenta depois das enchentes, diz Fecomércio

PESQUISA NO RS

Endividamento aumenta depois das enchentes, diz Fecomércio

Pesquisa revela piora na condição financeira das famílias em agosto. Quase 65% das dívidas são com o cartão de crédito

Endividamento aumenta depois das enchentes, diz Fecomércio
Conforme análise da Fecomércio, famílias buscaram crédito no mercado financeiro para compras voltadas à recuperar perdas provocadas pela catástrofe climática de maio. (Foto: Filipe Faleiro)
Estado
oktober-2024

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência das Famílias (PEIC) de agosto mostra o terceiro aumento consecutivo. O percentual atingiu 92,9%. Resultado mais de um ponto percentual acima da edição anterior do estudo.

Feito pela Fecomércio-RS, o diagnóstico considera as enchentes de maio como ponto de corte para a elevação nos indicadores, pois até o episódio climático extremo, havia queda tanto no endividamento quanto na inadimplência.

“O endividamento é algo comum nas famílias. É quando recorremos a uma instituição de crédito para antecipar algum tipo de investimento. Isso faz parte da vida. Mesmo assim, 92% é muito significativo. No RS, tivemos a catástrofe que elevou esses patamares. Algo atípico que exigiu um gasto adicional”, destaca a economista e professora da Univates, Fernanda Sindelar.

O presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, afirma que esse resultado da PEIC era esperado. Para ele, a preocupação é quanto aos próximos meses, caso esses percentuais se repitam. “No curto prazo é natural uma deterioração da condição financeira das famílias depois de uma tragédia de proporção como a que vivemos. O grande problema é se esse quadro persistir.”

Pelo relatório, há uma piora na condição financeira das famílias. As pessoas que se dizem “muito endividadas” chegam a 29,6%. Quanto a parcela da renda comprometida com o pagamento de dívidas alcança 28,1%.

Quase 40% de inadimplência

Sobre contas em atraso, 39,1% dos entrevistados afirmam estar inadimplentes. O tempo de pagamento das dívidas vencidas foi de 32,8 dias. Já o percentual de famílias que não terão condições de quitar nenhum dos atrasos nos próximos 30 dias teve a quarta alta consecutiva e atingiu 3,7%.

“A inadimplência é muito mais preocupante do que o nível de endividamento. Pois se não posso pagar o que contratei no mês, quer dizer que daqui a 30 dias, terei duas parcelas em atraso. É dívida sobre dívida”, ressalta Fernanda Sindelar.

Cartão de crédito

A parcela mensal do cartão de crédito lidera as dívidas em atraso, com quase 65% dos entrevistados. “Temos uma condição cultural de comprar a prazo. Isso é diferente de outras regiões do mundo. O problema disso é que as pessoas comprometem a renda futura com o consumo. Não são itens de acréscimo de capital, como um carro ou o financiamento de um imóvel. São compras com lazer ou alimentação”, avalia o economista e consultor, Eloni Salvi.

Esse comportamento, diz, faz com que a renda mensal das famílias seja cada vez menor. “Isso é duplamente perverso, pois a compra a prazo reduz o potencial de consumo para o próximo mês. Junto com isso, paga-se juros. É jogar dinheiro fora, pois o alcance da renda fica menor.”

Na análise do economista, é preciso também avaliar o contexto. O fato das inundações podem ter exigido um gasto maior. “As pessoas tiveram de comprar material de construção, trocar móveis e eletrodomésticos. Alguns tiveram ajuda governamental, mas a maioria foi por conta própria. Então é natural aumentar o endividamento.”

Números

Nível de endividamento

  • Muito
    29,6%
  • Mais ou menos
    35,6%
  • Pouco
    27,6%
  • Nenhuma dívida
    7,1%

Principais tipos de dívidas

  • Cartão de crédito
    64,9%
  • Consignado
    10,5%
  • Crédito pessoal
    9%
  • Carnês
    37,2%
  • Financiamento do carro
    9%
  • Financiamento da casa
    10,4%
  • Outros
    0,9%

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