A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência das Famílias (PEIC) de agosto mostra o terceiro aumento consecutivo. O percentual atingiu 92,9%. Resultado mais de um ponto percentual acima da edição anterior do estudo.
Feito pela Fecomércio-RS, o diagnóstico considera as enchentes de maio como ponto de corte para a elevação nos indicadores, pois até o episódio climático extremo, havia queda tanto no endividamento quanto na inadimplência.
“O endividamento é algo comum nas famílias. É quando recorremos a uma instituição de crédito para antecipar algum tipo de investimento. Isso faz parte da vida. Mesmo assim, 92% é muito significativo. No RS, tivemos a catástrofe que elevou esses patamares. Algo atípico que exigiu um gasto adicional”, destaca a economista e professora da Univates, Fernanda Sindelar.
O presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, afirma que esse resultado da PEIC era esperado. Para ele, a preocupação é quanto aos próximos meses, caso esses percentuais se repitam. “No curto prazo é natural uma deterioração da condição financeira das famílias depois de uma tragédia de proporção como a que vivemos. O grande problema é se esse quadro persistir.”
Pelo relatório, há uma piora na condição financeira das famílias. As pessoas que se dizem “muito endividadas” chegam a 29,6%. Quanto a parcela da renda comprometida com o pagamento de dívidas alcança 28,1%.
Quase 40% de inadimplência
Sobre contas em atraso, 39,1% dos entrevistados afirmam estar inadimplentes. O tempo de pagamento das dívidas vencidas foi de 32,8 dias. Já o percentual de famílias que não terão condições de quitar nenhum dos atrasos nos próximos 30 dias teve a quarta alta consecutiva e atingiu 3,7%.
“A inadimplência é muito mais preocupante do que o nível de endividamento. Pois se não posso pagar o que contratei no mês, quer dizer que daqui a 30 dias, terei duas parcelas em atraso. É dívida sobre dívida”, ressalta Fernanda Sindelar.
Cartão de crédito
A parcela mensal do cartão de crédito lidera as dívidas em atraso, com quase 65% dos entrevistados. “Temos uma condição cultural de comprar a prazo. Isso é diferente de outras regiões do mundo. O problema disso é que as pessoas comprometem a renda futura com o consumo. Não são itens de acréscimo de capital, como um carro ou o financiamento de um imóvel. São compras com lazer ou alimentação”, avalia o economista e consultor, Eloni Salvi.
Esse comportamento, diz, faz com que a renda mensal das famílias seja cada vez menor. “Isso é duplamente perverso, pois a compra a prazo reduz o potencial de consumo para o próximo mês. Junto com isso, paga-se juros. É jogar dinheiro fora, pois o alcance da renda fica menor.”
Na análise do economista, é preciso também avaliar o contexto. O fato das inundações podem ter exigido um gasto maior. “As pessoas tiveram de comprar material de construção, trocar móveis e eletrodomésticos. Alguns tiveram ajuda governamental, mas a maioria foi por conta própria. Então é natural aumentar o endividamento.”
Números
Nível de endividamento
- Muito
29,6% - Mais ou menos
35,6% - Pouco
27,6% - Nenhuma dívida
7,1%
Principais tipos de dívidas
- Cartão de crédito
64,9% - Consignado
10,5% - Crédito pessoal
9% - Carnês
37,2% - Financiamento do carro
9% - Financiamento da casa
10,4% - Outros
0,9%