Interrupção na BR reforça necessidade de nova ponte

TRAFEGABILIDADE

Interrupção na BR reforça necessidade de nova ponte

Obra na travessia sobre o Rio Taquari bloqueia trânsito na ponte Norte por até 120 dias. Entidades defendem articulação regional e discurso unificado para viabilizar projeto. Prefeito de Lajeado encaminha contratação de empresa para elaborar estudo de viabilidade

Interrupção na BR reforça necessidade de nova ponte
Desde sábado passado, fluxo restrito na ponte causa lentidão na rodovia. (Foto: Felipe Neitzke)
Vale do Taquari

Limitação do tráfego de veículos. Quilômetros de congestionamento no trecho mais movimentado da BR-386 e impacto sobre outras rodovias. Ausência de alternativas para desafogar o trânsito. A enchente de maio trouxe severas consequências. E evidencia a necessidade de uma nova ponte sobre o Rio Taquari.

A interrupção do trânsito na ponte Norte (sentido Estrela/Lajeado) no sábado, 21, gerou reações imediatas. No âmbito municipal, o governo de Lajeado anunciou que vai contratar uma empresa para elaboração de um estudo de viabilidade técnica para execução da obra. O assunto passa a ser tratado como “prioridade absoluta”.

Um dos principais desafios que se apresentam em torno do projeto é o da escolha do local. Ainda que o estudo vai apontar a área mais viável, diferentes ideias já foram apresentadas, inclusive com propostas de ligações alternativas em outras cidades. Por isso, líderes de entidades defendem, além da soma de esforços, um discurso único.

“Dentro da CIC já falamos de forma constante sobre esse projeto, inclusive no seminário eu participei de um painel de mobilidade, onde falei dessa necessidade. Precisamos de um discurso alinhado”, frisa o diretor de Infraestrutura e Logística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Diego Tomasi.

Para minimizar transtornos, CCR implantou terceira faixa na ponte. (Foto: Divulgação)

Alerta antigo

Não é de hoje que Tomasi defende a construção de uma nova ponte. Em de março 2021, esse debate havia ganhado corpo após um caminhão explodir na ponte sobre o Arroio Boa Vista. A fatalidade – que deixou uma pessoa morta – também trouxe impactos significativos a logística regional. Como o problema foi solucionado com relativa velocidade, o tema caiu no esquecimento.

“Já alertávamos bem antes do assunto surgir nas eleições. Desde aquele episódio do acidente. Depois daquilo, de forma constante, ocorrem problemas nesse complexo de pontes. Tem que ter uma atitude. Se não, todo mês vamos nos lamentar, seja por enchentes, acidentes ou pela própria questão estrutural”, observa.

Ainda que pontue a importância de centralizar a discussão num único foco, o próprio Tomasi reconhece a dificuldade de apontar uma localização ideal. “Existem frentes que apoiam uma construção mais próxima da atual, outras que citam um anel viário sobre o Vale, com uma rota alternativa de Cruzeiro do Sul a Estrela, ou a ponte de Arroio do Meio a Colinas”.

Apoio municipal

Ainda no sábado passado, o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo fez ligações e reuniões extraordinárias para tratar da situação da ponte. Um dos pedidos – abertura de uma terceira pista – foi colocado em prática. Além disso, o município se colocou a disposição da CCR ViaSul para auxiliar em medidas que visam mitigar os impactos da paralisação.

“São 120 dias. Mas, conforme for avançando a obra, quem sabe podemos liberar o fluxo de veículos leves e carros em uma pista na ponte norte? São situações que somente com o desenrolar dos trabalhos que podemos ver. Faremos um acompanhamento presente”, frisa.

Também no sábado, Caumo confirmou a contratação de empresa para realizar estudo de viabilidade. A ideia é avançar no processo durante esta semana. “Se fala em nova ponte, mas ninguém consegue dizer o local indicado. E é para isso que estamos nos movimentando. Definindo um local, podemos dar andamento do projeto. Vamos nos dedicar a isso”.

Antes de qualquer definição, Lajeado vai sugerir dois pontos para o estudo, sendo um deles nas proximidades do morro do bairro Conservas, próximo à avenida Beira Rio, e outro perto do “paredão” do bairro Carneiros, em área próxima ao terreno da Univates.

“São palpites. Por isso, a necessidade do estudo. Tem que avaliar também o lado de Estrela”, detalha Caumo. Procurada, a administração municipal de Estrela afirma que não irá se manifestar neste momento.

Discussão com a União

Presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cintia Agostini frisa a importância da BR-386 para além do Vale, pois se trata de um corredor de exportação. Por isso, destaca o fortalecimento o debate pela nova ponte, ainda que não esteja previsto no concessão da rodovia, em vigor desde 2019.

“Toda a produção do Norte do RS passa por aqui. Então, não temos como nos imaginar sem condições logísticas adequadas para atender não só a nossa região, mas boa parte do Estado. Já tivemos um aumento no custo logístico de cerca de 30% em função de tudo o que estamos vivendo. E isso é cobrado na conta dos produtos que a gente consome”, ressalta.

Cintia saúda a iniciativa de Lajeado em buscar um estudo, mesmo com BR-386 sendo uma rodovia federal. “Tem que ser pensado em função de uma logística que não é só da região, mas também estadual. Isso vai ser levado em conta para que se ache tecnicamente o melhor local, e aí se tem uma projeção de orçamento para que possamos discutir junto à União e compreender as possibilidades”.

A nova ponte já estava entre as prioridades do Codevat. A obra esteve em pauta em discussões com Estado e União, lembra Cintia, e, há dois meses, foi iniciado trabalho com um grupo de alunos da engenharia da Univates para desenvolverem croquis iniciais da estrutura.

Fundo da reconstrução

Procurado pela reportagem, o secretário da Reconstrução do RS – ligado à União –, Maneco Hassen diz que o governo federal está “de portas abertas” para discutir o projeto junto a região, mas entende que, por se tratar de uma rodovia concedida, a obra deve tramitar junto à CCR para depois ser levada à Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT).

Uma sugestão feita por ele é dos municípios trabalharem para incluir a execução desta ponte via Fundo da Reconstrução, com recursos federais, mas geridos pelo Estado. “Trata-se de uma ponte de grande importância para o RS”.

Interdição da ponte após a cheia de maio de 2024

  • 1º de maio Ponte da BR-386, sobre o Rio Taquari foi bloqueada no fim da tarde, como medida de prevenção, já que nível do rio apresentava rápida elevação;
  • 2 de maio Ponte ficou submersa pelas águas da enchente que ultrapassou 33 metros;
  • 5 de maio Ponte foi liberada de forma emergencial;
  • 14 de maio Ponte foi liberada em duas vias, com algumas interdições parciais;
  • 28 de maio Liberação total da travessia sobre a ponte;
  • 10 de junho BR-386 entre Lajeado e Estrela sofre novo bloqueio, na pista sul (sentido Lajeado-Estrela), desta vez, sobre o Arroio Boa Vista;
  • 21 de setembro Sentido norte da ponte é bloqueada para reparos nas bases da estrutura.

Campanha

A partir de hoje, o Grupo A Hora estampa na capa do jornal e também nas plataformas digitais o slogan da campanha “Ponte nova já”, lançada ontem para reforçar a luta pela nova travessia. O selo segundo o diretor Editorial e de Produtos, Fernando Weiss, só deixará de ser veiculado quando o projeto e a obra estiverem encaminhados.

“Muito se falou nessa campanha eleitoral, na mobilização necessária por uma nova ponte. Mas, com o problema verificado agora não temos mais quatro meses para esperar. A mobilização precisa ser agora. Perdemos tempo demais para ficar esperando os próximos governantes. Esta precisa ser uma agenda de todo o Vale e não de apenas um prefeito”, destaca.

Interdição

Por pelo menos quatro meses, a pista norte (sentido interior) da ponte sobre o Rio Taquari permanecerá totalmente bloqueada para reparos estruturais. A interdição busca garantir a segurança dos motoristas que utilizam a travessia.

Conforme a CCR Via Sul, os danos estruturais foram identificados após constante monitoramento. Foram percebidas fissuras nos tubulões que ficam submersos em quatro conjuntos da ponte. A concessionária diz não ser possível afirmar se os danos foram causados apenas por conta das cheias, mas a catástrofe climática pode ter contribuído.

Durante a enchente de maio, a ponte foi totalmente coberta pelas águas do Taquari e o fluxo ficou interditado por quatro dias, sendo liberado emergencialmente no dia 5 de maio. As equipes da CCR ViaSul estão mobilizadas na contratação da empresa que ficará responsável pelas intervenções de reforço nos quatro conjuntos estruturais da base da ponte.

Por conta da interdição, foi implantado o sistema de contrafluxo pela pista Sul (sentido capital), com uma faixa em cada sentido. Na tarde de domingo, 22, a CCR Via Sul também liberou uma terceira faixa na pista Sul no trecho da rodovia. O fluxo funciona com uma faixa em cada sentido e uma terceira operando de forma reversível, conforme a demanda.

Acompanhe
nossas
redes sociais