Balanço financeiro prévio mostra que o retorno do abate em três turnos no frigorífico de Westfália, combinada com o corte de despesas e a parceria na produção de leite, a Languiru estancou os meses de prejuízo.
Após a apresentação da auditoria externa, na semana passada, o próximo encontro dos associados será na próxima terça-feira, 24 de setembro. A assembleia será para o detalhamento da gestão deste ano.
A tarefa é complexa, combinar fluxo de caixa e renegociação com os credores para quitar o saldo negativo. O presidente liquidante, Paulo Birck, enfatiza que, mesmo de maneira tímida, foi possível equilibrar despesas e receitas.
“Ainda não tenho os dados todos apurados. Mas alguns movimentos percebemos. Mesmo de maneira tímida, depois de mais de um ano, temos meses no azul”. De acordo com ele, apesar das críticas por ter encerrado com a cadeia na suinocultura e com os supermercados, o resultado demonstra acerto nas decisões. “O mais importante é tornar a Languiru viável de novo. Para tocar os negócios, manter a marca e fazer os pagamentos dentro das nossas possibilidades.”
Conforme plano de recuperação e o estudo de viabilidade financeira e operacional, feita pela consultoria Markestrat Group, os débitos com garantias, somam quase R$ 945 milhões. Com o acréscimo de outros pagamentos em atraso, passa de R$ 1 bilhão a dívida da cooperativa.
Caso a gestão consiga combinar maior fluxo de caixa e renegociação com os credores ainda é possível pagar o saldo negativo, aponta o relatório. Em cima disso, estima que todos os débitos podem ser quitados em até 30 anos.
Parceria na cadeia avícola
Operação nos turnos da manhã, tarde e noite, mais de 600 trabalhadores formais em atividade, a volta da marca Languiru ao mercado e prestação de serviços para a JBS. Esses são os objetivos da cooperativa até o fim do mês na unidade de Westfália.
A meta é garantir 100% da capacidade de abate, com 150 mil por dia. Para alcançar esse número, foi estabelecida uma parceria com a JBS. Por meio da prestação de serviço, a planta vai produzir 125 mil aves com a marca da empresa. Pelo rótulo da Languiru, são cerca de 25 mil por dia.
Frigorífico de Poço das Antas
Entre os ativos, a unidade de abate de suínos é vista como uma forma de reduzir despesas e capitalizar a cooperativa. Como o quadro financeiro e de endividamento ainda é grave, empresas interessadas na compra temem a alienação judicial do bem.
O único jeito de vender, diz Birck, é por meio de leilão. Para tanto, é necessário autorização da Justiça. “Temos interessados em comprar. Mas ninguém vai assumir devido às dívidas. Só o leilão permite segurança jurídica ao processo.”
Caso haja autorização do judiciário, a direção da cooperativa deseja concluir o leilão até o primeiro trimestre de 2025.
Entrevista
Paulo Birck • presidente liquidante da Languiru
“Temos de produzir mais e os credores precisam aderir ao plano”
A Hora – A auditoria trouxe informações importantes sobre a gestão passada. Um dos pontos críticos foi o uso de financiamentos, com juros altos, para pagar as operações. Como avalia isso?
Paulo Birck – Os números da auditoria são importantes, mas precisamos aprofundar ainda mais. Ainda temos muitas coisas para investigar. O que vimos até agora, reforça o que falamos lá atrás, sobre uma gestão irresponsável. Em um primeiro momento, não se constatou aquilo que muitos achavam, como desvios, corrupção ou algo do gênero. Mas vimos sucessivos erros de gestão.
Foi a velha prática de empurrar com a barriga e agora temos essa dívida gigante. O associado precisa estar ciente, assim como os credores, para que a gente chegue nos bancos e encontre alguma forma de todos saírem, de alguma maneira, menos prejudicados. Se não acharmos alternativas, o credor pode não receber, o associado vai individualizar essa dívida, e isso vai causar muito sofrimento para as famílias.
Não queremos isso, por isso assumimos essa responsabilidade. Temos de fazer o que precisa ser feito e trabalhar.
– Quais são as alternativas e o que acontece se não encontrá-las?
Birck – Está no plano de recuperação da cooperativa. O estudo mostra que precisamos de um volume de leite em torno de 10 milhões de litros por mês. Além disso, temos que encontrar mecanismos para aumentar a produção de aves. Não há outra forma. Temos de produzir mais e os credores precisam aderir ao plano. No melhor dos cenários, talvez em 10 ou 12 anos conseguiremos pagar a dívida.
– Como está a negociação com os credores?
Birck – A adesão dos credores nos surpreende. Muitos têm vindo até nós por entenderem que também foram vítimas. Acreditaram no negócio, depositaram confiança na Languiru, assim como fizeram os nossos associados. Infelizmente, agora essa conta está chegando. O processo é longo, mas estamos contando com o apoio deles. Houve uma gestão e um conselho fiscal, e agora os números estão aí. Se os balanços negativos tivessem sido apresentados em 2019, talvez as coisas poderiam ter sido diferentes. Tivemos uma eleição em 2020, que foi a continuidade do círculo vicioso.