Paz na estrada

Opinião

Carlos Martini

Carlos Martini

Colunista

Paz na estrada

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Circulando muito por ruas e estradas e observando acidentes de trânsito me dá sempre a impressão que além de imprudências e imperícias, um dos problemas é a falta de vivências com diferentes veículos.

Grande parte dos motoristas só acumula experiências com um determinado tipo de condução, dirigindo motos ou automóveis. Um não percebendo os problemas e condicionamentos que o outro tem no trânsito.

E ambos podem não saber avaliar as dificuldades bem maiores que profissionais do volante dirigindo trucks, carretas e bi-trens enfrentam no dia-a-dia.

Quando um caminhoneiro se envolve em algum acidente é comum surgirem comentários sobre sua suposta inabilidade na boléia. Mas só ele sabe quantos acidentes ele evitou conduzindo um ¨bruto¨ desses estrada a fora todo o santo dia.

Contando nos dedos

Taquari velho de guerra tem quantos quilômetros de extensão? Não chega a 200, segundo meu chutômetro de precisão. Quantas travessias já existem implantadas nesse relativamente curto percurso? Cinco, entre o Antas e o Jacuí, na média uma cada 40 quilômetros.

Se alguém souber de outro espaço geoeconômico parecido aqui pelas bandas da Província de São Pedro com infraestrutura semelhante já instalada, me avise porque eu não conheço. Mas eu sou meio burro, tem que dar um desconto.

Por ocasião das negociações com a atual concessionária do principal eixo logístico, foi decidido (e está sendo cumprido) que a travessia do Taquari seria ampliada com mais uma terceira pista.

Pelo que lembro, na época ninguém questionou essa mais que razoável prioridade estabelecida, muito menos se falou em uma conexão específica e separada para o trânsito local. E lá se vão quase 20 anos…

Por ocasião das articulações realizadas para a importante duplicação desse mesmo trecho, também se discutiu a possibilidade de implantação de um anel viário, que desviasse o trânsito pesado e de longo curso pra fora das respectivas zonas urbanas. Assunto que também morreu na casca e lá se vão uns 30 anos…

Quando foi implantado o complexo hidro-rodo-ferroviário também foi projetada uma ¨radial¨, separada da BR-386, seguindo desde Conventos até a atual Transantarita. E lá se vão uns 50 anos…

Quando foi implantada a BR-386, havia várias possibilidades de conectar a chamada Região Metropolitana com o Planalto Médio, Oeste Catarinense e Paranaense e também com o centro do país, como um novo Corredor de Desenvolvimento. E lá se vão uns 70 anos…

Quando a logística rodoviária começou a se impor sobre a ferroviária, lá pelos idos de 1930, uma importante estrada foi implantada entre Mariante e seguindo até Guaporé, passando ao longo das barrancas do Taquari. E lá se vão 90 anos…

No tempo do Império, quando locomotivas à vapor era ¨top¨ nos transportes então modernos, também foi projetada uma subida de serra aqui pelas bandas do Taquari/Forqueta/Fão, no rumo de Soledade/Passo Fundo. E lá se vão 120 anos…

No tempo das carroças, a primeira subida de serra foi implantada entre Rio Pardo/Santa Cruz e as atuais Barros Cassal/Boqueirão/Progresso e dalí pra cima. E lá se vão uns 150 anos…

Cada história dessas com certeza mereceria um livro. Mas eu não tenho a menor dúvida que todas foram pensadas, projetadas e apoiadas em suas respectivas épocas por gente de muita visão de futuro, dentro do conhecimento até então existente.

E ainda bem que contamos hoje com uma BR-386, uma RS-130, uma Rota do Sol, e por aí a fora. Até prá poder se dar ao luxo de questionar, aos olhos de hoje e completamente fora das conjunturas e perspectivas então existentes, que deviam ter sido melhor pensadas.

O meu Cumpádi Belarmino, com muitas pauladas no lombo da vida, e nunca se meteu a ser Profeta do Passado costuma dizer: na época, pareceu uma boa idéia…

Saideira

A nona, muito religiosa, fixou uma placa na parede do bolicho:

¨Em Deus Nós Confiamos!¨

O nôno, meio pragmático, escreveu embaixo:

¨…os outros tem que pagar à vista!¨

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