De uma das maiores cooperativas gaúchas até a beira da falência. A queda da Languiru provoca sofrimento nos mais de cinco mil associados e alerta para uma crise social e produtiva em todo o Vale do Taquari. Frente à complexidade da crise na cooperativa, a auditoria externa contratada pela presidência liquidante apresenta o relatório sobre todas as movimentações desde 2018.
A assembleia ocorre hoje, a partir das 9h30min, na sede da associação de funcionários, em Teutônia. Segundo o presidente liquidante, Paulo Birck, a auditoria revela detalhes para entender o endividamento da cooperativa, incluindo investimentos mal direcionados e a manipulação de balanços.
“Houve um período em que a cooperativa buscou muitos recursos, aplicando dinheiro em negócios inviáveis, o que gerou essa bola de neve”, frisa Birck. O presidente ainda destacou que a supervalorização de ativos, como a avaliação de matrizes suínas com valores irreais, foi um dos fatores que agravou a situação financeira da cooperativa. “Identificamos, por exemplo, que matrizes avaliadas em R$ 28 mil no balanço, na realidade, valiam R$ 2,7 mil”.
Esses dados teriam sido usados para ludibriar instituições financeiras para acessar créditos. “Eram apresentados como garantias. Mas depois, quando precisasse, de onde sairia esse dinheiro?”
A apresentação de hoje terá duração estimada de mais de duas horas e será seguida de um espaço para perguntas. Foram convidados todos os associados e ex-associados no período. Também integrantes dos conselhos, da administração dos associados e ex-membros do conselho e da superintendência. São esperadas entre 800 até 1,5 mil pessoas.
“Esta assembleia é a resposta que muitos esperam: por que a Languiru chegou nessa situação”, afirma Birck. A cooperativa tem uma dívida de mais de R$ 1 bilhão, com planos de recuperação que podem se estender por até 30 anos.
Semelhança com o caso Piá
A consultoria contratada para fazer o diagnóstico é a mesma que atuou no caso da cooperativa Piá. Trata-se da Dickel e Maffi. No caso da cooperativa de Nova Petrópolis, os laudos serviram de base à investigação policial.
O caso levou ao bloqueio de R$ 15 milhões de ex-diretores, suspeitos de desvio de patrimônio e outras irregularidades.A investigação revelou que os acusados mantinham empresas em nome de familiares e realizavam transações vantajosas para si mesmos, incluindo a compra de veículos da cooperativa por preços abaixo do mercado.
“Nós não temos poder de polícia. Nossa auditoria é interna, mas vamos encaminhar cópias ao Ministério Público”, diz o presidente liquidante. Conforme Birck, foram confirmados 59 CNPJs que seriam derivados da Languiru. Todos fazem parte do diagnóstico da consultoria externa.
Quando perguntado, afirma: “existem algumas semelhanças com o que aconteceu com a Piá. Mesmo sem ter visto o relatório, na análise das contas de gestões anteriores, percebemos informações que não batem. Podemos afirmar aos nossos associados, vamos apresentar tudo com toda a transparência.”
Detalhes
- Assembleia da Languiru
Primeira chamada às 7h30min. Segunda às 8h30min e início da apresentação às 9h30min. Serão mais de duas horas de detalhamento das contas. Expectativa é reunir de 800 até 1,5 mil pessoas. - Auditoria externa
Diagnóstico será apresentado hoje em assembleia. O objetivo é revelar os motivos do endividamento e da crise da Languiru desde 2018. - Histórico da consultoria
A responsável pela auditoria também atuou no caso da cooperativa Piá. Diagnóstico sobre a Languiru será encaminhado ao Ministério Público. Caso constatada irregularidade, ex-gestores poderão ser responsabilizados. - Dívida e recuperação
A cooperativa tem uma dívida de mais de R$ 1 bilhão. Pelo plano de renegociação, seriam necessários 30 anos para pagar. Análise prévia mostra que volta do abate de frangos gera primeiros meses sem prejuízos.