O último dia do 2º Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente, promovido pelo Grupo A Hora e Comitê Estratégico e Multissetorial do Vale do Taquari, na Univates, teve como destaque a elaboração da Carta do Vale do Taquari endereçada aos candidatos a prefeitos da região. Nesta quinta-feira, 5, uma série de debates e palestras de especialistas também convidou o público a refletir sobre prevenção, resposta e recuperação aos desastres como as cheias. O evento iniciou na tarde de quarta-feira, 4.
A carta foi lida ao fim do seminário, pela presidente do Codevat, Cíntia Agostini, que também escreveu o material com base nas discussões durante os dois dias de evento. Um ano após o primeiro evento extremo que atingiu a região, a nova carta avalia o que foi feito depois da assinatura do primeiro documento, durante o seminário do ano passado, promovido em 14 de novembro de 2023.
Em termos de evolução, estão aprendizados, reestruturação e novos projetos. Na dimensão de planejamento, foram iniciados os primeiros planos que atendem às necessidades individuais e coletivas do Vale.
Desta vez, depois de mais três enchentes e um novo seminário, a carta assinada ontem expôs proposições em duas dimensões: do planejamento para a gestão de risco, e o pensar e fazer durante o desastre.
Entre as demandas de cada segmento, estão soluções no resgate e salvamento, reconstrução de habitações, financiamentos, atenção às pessoas e comunidades e envolvimento coletivo de diferentes entidades. A carta foi assinada por representantes da Amvat, Amat, Avat, Amturvales, CIC VT, Codevat, Univates e Grupo A Hora.
Pensar o futuro
Na programação do 2º Seminário Pensar o Vale Pós-enchente, os paineis debateram sobre salvamento e amparo, estruturação das cidades, soluções logísticas, e a busca de recursos financeiros.
No painel sobre mobilidade e logística, especialistas debateram as necessidades atuais, com construção de novas pontes, asfaltamentos, recuperação de rodovias, acessos e ferrovias.
Entre as principais demandas, está a ponte entre Lajeado e Arroio do Meio, na ERS 130, assim como asfaltar a RS 129, entre Colinas e Roca Sales, entre outras.
Securitização e fundo garantidor
No painel de encerramento, o tema foi o financiamento para a reconstrução de empresas do Vale. O empresário Angelo Fontana sugere, além de um fundo garantidor, a securitização. Ato de tornar uma dívida com determinado credor em dívida com compradores de títulos no mesmo valor.
“Temos empresas com extremas dificuldades de conseguir colocar a mão no dinheiro para se recuperar. Um banco leva seis meses, outro leva mais. Não temos tempo para isso, nós estamos precisando voltar a trabalhar e acreditar no negócio”.
Secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia, Simone Stülp acredita em um movimento coletivo para a recuperação econômica do Vale e destaca a capacidade da região em lidar com crises, já tendo passado pelos eventos climáticos. “Nós precisamos trabalhar para construirmos, juntos, soluções”, finaliza.
CARTA DO VALE
O que precisamos fazer
Formação de Centro Integrado de Desastres Regionalizados: sistema de monitoramento integrado 24 horas, sistema de telecomunicações, modelos hidrometeorológicos territorializados, comunicação dos eventos extremos à comunidade;
Governança regional e municipal: ampliação dos Comitês de Crise Regional e Municipal, plano de contingência, planos diretores levando em conta as mudanças climáticas, núcleos comunitários de proteção e Defesa Civil, Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, Consórcio intermunicipal para a governança regional, e destinação de recursos para o Plano da Bacia;
Infraestrutura: reconstrução e ampliação de rodovias, aeroporto regional, ferrovias, novas pontes;
Educação: programas de conscientização nas escolas, qualificação e resiliência comunitária;
Ambiente físico: análises da saturação do solo, urbanização, manchas de inundação, condições geológicas, entre outros, recuperação de solos, estudos para desassoreamento dos arroios e rios;
Resgate e salvamento: batalhão do Corpo de Bombeiros no Vale do Taquari, ampliando as equipes, também das defesas civis, prédio para uso dos diversos comandos regionais, aquisição de equipamentos, e profissionalização das Defesas Civis municipais;
Reconstrução de habitações: construção de habitações seguras, terrenos com infraestrutura adequada, linhas de financiamento para famílias urbanas e rurais, zoneamento de risco e adequada ocupação de áreas seguras, qualificação dos representantes públicos;
Financiamentos: linhas de financiamento para negócios urbanos e rurais, mecanismos de financiamento adequados às necessidades territoriais, fortalecimento de organizações financeiras regionais, priorizando as cooperativas de crédito, aporte de recursos do BNDES específicos para atendimento de eventos extremos e ampliação do fundo garantidor;
Pessoas e comunidades: rede de articulação intersetorial local e regional, valorização do conhecimento técnico e formatação de equipes multidisciplinares, qualificação de equipes de voluntários, capacitação dos profissionais da comunicação para atuação no desastre.