No fim da década de 1990, Lajeado acompanhava o crescimento regional e, com uma universidade em formação, começou a se falar na necessidade de oferecer novos cursos na Univates. Entre eles, o Direito. A demanda era grande e atendia uma lacuna percebida na educação da época. Foi por essa necessidade de formação e pelo tamanho do Vale que o curso foi autorizado. Vinte e cinco anos depois, professores, estudantes e advogados de toda a região contam essa história.
Muitos estudantes eram da cidade, mas o curso também atendeu uma demanda regional. Egressa da Univates, a advogada Grasiele Cofferri, 42, lembra do importante passo que foi a abertura do curso para todo o Vale do Taquari.
Ela conta que, desde o Ensino Médio, tinha preferência pelas disciplinas da área das Ciências Humanas e a escolha pelo Direito foi natural. Quando prestou vestibular, o curso ainda não era oferecido pela Univates, e ela iniciou a graduação na Unisc, em Santa Cruzdo Sul.
O curso em Lajeado foi inaugurado poucos semestres depois e Grasiele optou pela transferência. A troca facilitava o deslocamento diário de Roca Sales, de onde é natural, até a Instituição. Ela pegava o ônibus às 18h20min para a aula e chegava em casa às 23h30min. Dessa forma, também conseguia conciliar a faculdade e o trabalho.
Grasiele Cofferri esteve na primeira turma de estudantes do curso de Direito da Univates. (Foto: Divulgação)
A advogada se formou em 28 de julho de 2007. A aprovação no Exame de Ordem da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) veio em seguida e assim iniciou a carreira na advocacia. Após a graduação, Grasiele retornou à universidade para as primeiras pós-graduações em Direito do Trabalho, Previdenciário e Processo do Trabalho, e em Direito Processual.
Hoje, entre os principais desafios da profissão, destaca a necessidade constante de atualização. “A legislação, a jurisprudência e a doutrina evoluem constantemente, exigindo uma constante atualização dos profissionais. Desde a minha formação até hoje, a maior parte da legislação sofreu alteração”, afirma.
O início
Reitor da época, Ney Lazzari recorda que a instituição surgiu no fim dos anos de 1960, para a formação de professores. Só mais tarde começou a agregar cursos, que estavam ligados à área de gestão.
Mas, mesmo antes de ser colocado no papel, havia a ideia de abrir a Faculdade de Direito dentro da universidade, já que os estudantes do Vale tinham que se deslocar a instituições em Santa Cruz do Sul ou São Leopoldo, até então. “O curso era muito procurado e isso traria, financeiramente, um bom resultado para a instituição”, recorda Lazzari, que hoje preside a Fundação Univates.
Para abrir o curso, no entanto, era preciso não apenas a autorização do Ministério da Educação (MEC), como também da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Tínhamos que convencer a OAB da necessidade da abertura do curso. Lembro de ter ido a Brasília para defender a implantação do curso. Os critérios eram a distância de outras faculdades de Direito e o tamanho da cidade. Conseguimos comprovar o tamanho falando em região”.
Lazzari diz que esse foi um marco no crescimento da instituição e também para o Vale. “Isso ajudou a atrair para cá a Vara da Justiça Federal e segurar aqui profissionais da área jurídica que tinham interesse em ser professores”, afirma.
Primeira coordenadora
Professora e advogada, Beatris Francisca Chemin, 66, foi a primeira coordenadora do curso. Ela já atuava na Univates desde 1981, como professora de Letras e depois em disciplinas nos cursos de Ciências Contábeis e Economia. Envolvida com diferentes atividades dentro da instituição, colecionava muitos cursos de extensão e especializações, além de uma nova graduação, desta vez, em Direito. O mestrado também foi nessa área.
O envolvimento dela com a Univates, os contatos com outras universidades e o conhecimento na área fizeram com que a tarefa de estruturar o novo curso de Direito também fosse de Beatris.
Além de organizar o conteúdo pedagógico das disciplinas, o trabalho exigia a busca por professores qualificados. O maior desafio, no entanto, foi montar a biblioteca acadêmica. “Cada disciplina tinha de ter um número significativo de livros na biblioteca. A gente não tinha todo esse dinheiro para comprar livros novos. Além disso, não havia todos os livros disponíveis”, recorda.
Beatris relata que para os títulos que não eram mais editados, mas que seguiam importantes aos acadêmicos, a busca passou a ser nos escritórios dos profissionais ou nos sebos de Porto Alegre. “Eu solicitava para os colegas advogados da região, se eles tinham no seu escritório livros que poderiam doar para montar a nossa biblioteca”.
Nos 40 anos de estudos e atuação acadêmica dentro da Univates, para Beatris, trabalhar na montagem do curso de Direito e ser a sua coordenadora nos primeiros seis anos de existência foi o período profissional de maior desafio até agora. Quando o curso atingiu 18 anos de existência, a professora completou 60 anos de idade e finalizou os trabalhos na docência. Atualmente, ela continua acompanhando o que acontece no curso e na Univates, por meio das revisões de trabalhos acadêmicos.
Desafios atuais
A atual coordenadora do curso também é egressa da universidade e esteve entre os alunos da primeira turma do Direito da Univates. Leila Viviane Scherer Hammes estava no Ensino Médio quando os primeiros rumores da abertura do curso em Lajeado começaram a circular.
“Fiz o vestibular no final de julho. Lembro que eram 600 candidatos para uma turma”. Leila conta que os alunos foram moldando o curso junto com os professores. “Tudo o que acontecia era a primeira vez. Palestras, semana acadêmica, projetos de extensão, fomos acompanhando tudo”.
A coordenadora recorda que 1999 também foi o ano em que a Univates se tornou Centro Universitário, e abriram vagas para trabalho dentro da instituição. Uma delas, preenchida por ela, como técnica administrativa. Depois do Direito, Leila fez pós-graduação em Gestão Universitária e concluiu o mestrado. Em 2018, foi convidada para ser professora do curso e, mais tarde, integrou a coordenação.
Ao longo dos anos, muitas mudanças foram percebidas. Em termos de currículo, Leila diz que no início o ensino era mais rígido e, hoje, a experiência prática é mais intensa. Por outro lado, menciona que os desafios também são grandes. Ainda hoje, o curso de Direito é um dos mais procurados na universidade.
Conquistas
Um dos professores com mais tempo de atuação no curso de Direito é Renato Luiz Hilgert. Desde 2006 ele integra o corpo docente da universidade. Hoje, leciona disciplinas na área do Direito Internacional.
Entre os marcos para a instituição, destaca a participação dos estudantes em competições internacionais. Em 2019, estudantes tiraram o primeiro lugar na Competição Internacional de Direitos Humanos em Mendoza, na Argentina.
O professor destaca que grande parte dos egressos passa a se dedicar à advocacia depois da formatura e diz que uma das grandes transformações em termos de currículo acadêmico está na inclusão da prática da negociação e conciliação durante os processos. Hilgert ainda salienta a abertura de novas áreas de atuação para o Direito ao longo dos anos, e a flexibilização de outros serviços, que possibilita agilidade aos profissionais. Nos últimos anos, o curso também recebeu o Selo OAB Recomenda, pelo bom desempenho dos estudantes no Exame de Ordem da OAB.
Em números
- 1.793 profissionais formados
- 400 alunos matriculados
- 21 professores
Marcos na história
- 1999 – Autorização para a criação do curso em julho e início da primeira turma
- Anos 2000 – Primeiras atividades simuladas do curso de Direito
- 2014 – Juri simulado no componente de Introdução e História
- 2016 – Visita ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT)
- 2018 – Congresso em Sevilha, na Espanha, para apresentação de artigos
- 2019 – Alunos foram campeões do Concurso de Júri Simulado da ESA – OAB/RS
- 2019 – Estudantes tiraram o primeiro lugar na Competição Internacional de Direitos Humanos em Mendoza, na Argentina
- 2023 – Júri simulado em Teoria e História do Direito, em 2023
- 2024 – Curso completa 25 anos
