Descontentamento. Essa palavra resume o sentimento dos representantes das empresas atingidas pelas inundações frente aos programas de retomada desenvolvidos pelo governo federal. Em cinco palestras, convidados dos setores da indústria, comércio, agricultura, serviços e das cooperativas, participaram de painel em Porto Alegre.
O evento ocorreu ontem, no Palácio do Comércio, na reunião-almoço promovida pela Federação das Entidades Empresariais do RS (Federasul). Foram cinco palestrantes. Entre eles, o presidente do conselho administrativo da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini, e o produtor rural de Roca Sales. Lourenço Caneppele.
Fechou a lista de palestrantes, o diretor comercial da TOP 3, Carlos Pereira, sócio do 360 Gastro Bar, Edemir Simonetti, e o presidente do conselho de administração da Oderich, Marcos Odorico Oderich.
Os relatos foram unânimes: as linhas de crédito para médias e grandes empresas apresentam falhas de operação e o modelo de proteção ao emprego tem resultado pífio perto das necessidades dos segmentos econômicos.
Para o presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, é necessário mais agilidade para que as ações governamentais cheguem aos negócios, caso contrário, as regiões gaúchas enfrentarão um processo de empobrecimento.
Como forma de alertar as autoridades, os representantes dos setores produtivos organizam uma manifestação para sexta-feira, às 13h, para sensibilizar o governo federal da urgência em atender os pleitos das empresas.
Dificuldades recorrentes
O setor de proteína animal enfrenta dificuldades desde 2021, lembra o presidente do conselho de administração da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini. Começou com a elevação dos insumos no pós-pandemia, com impactos sobre os custos de operação.
Junto com isso, pelo menos duas secas reduziram as safras de milho usado como complemento às criações. Quando os preços no mercado internacional passaram a se equalizar no setor de suínos, leite e frango, a perspectiva positiva ficou no passado. Tudo por conta das inundações de setembro até maio.
“Foram quatro enchentes e o Vale do Taquari sempre é afetado. Resiliência em manter a empresa viva tem sido a nossa maior batalha”, destaca Piccinini. Para além das perdas nas propriedades de associados, a cooperativa ainda teve problemas estruturais nas fábricas. Foram 18 dias sem energia elétrica, com redução nos abates tanto no frigorífico de aves, quanto no de suínos.
Trabalho de gerações perdido
Galpões, máquinas, criações, moradia, safras. Tudo perdido. Hoje, a propriedade de Lourenço Caneppele, em Roca Sales, não garante nenhuma renda para a subsistência familiar. “Perdemos tudo. Um trabalho de gerações.”
O cenário trágico piora a cada dia de espera por auxílios governamentais, afirma. “Hoje moramos de favor”, lamenta. De acordo com ele, na localidade onde trabalhavam, há outras 12 famílias na mesma situação.