Dotar os principais cursos de água que chegam ao Rio Taquari de equipamentos capazes de alimentar as informações com menos tempo e garantir mais confiabilidade na tomada de decisão. Essa é uma cobrança do Comitê Regional Pensar o Vale Pós-Enchentes.
Em reunião na manhã de ontem, 30, na promotoria de Justiça de Lajeado, prefeitos, representantes de organizações sociais, vereadores e a Defesa Civil, conheceram detalhes do sistema de monitoramento instalado em Santa Catarina.
O governo do Estado elabora um processo de licitação para contratação do serviço. Conforme o coordenador da Defesa Civil na região, Claiton Marmitt, a ideia do Executivo gaúcho é instalar pelo menos 130 aparelhos capazes de medir a quantidade de chuva tanto na nuvem quanto o impacto dela nos mananciais, associada ao controle do nível dos rios ou arroios.
Esse programa faz parte da modernização da Sala de Situação, ligada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). Junto com isso, também existe o intuito de reestruturação dos grupos regionais.
“Esse é um momento para mostrarmos unidade. Com esse grupo, vamos nivelar as informações e ter um discurso direto ao governo do Estado. Precisamos pensar em resolver os problemas enquanto região”, destaca o promotor, Sérgio Diefenbach.
Para o presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), o prefeito de Bom Retiro do Sul, Edmilson Busatto, este é o momento de cobrar. “O Estado deixou de pagar a dívida para fazer esses investimentos. Se precisarmos de 50 aparelhos, vão ser 50”, enaltece.
O vice-presidente do comitê da bacia hidrográfica Taquari/Antas, e presidente do fórum gaúcho de bacias, Júlio Salecker, lembra que em 2012 foi entregue a segunda etapa do plano de bacias.
Passados mais de dez anos, o Estado ainda não fez a devolutiva para encaminhar a terceira e última etapa do plano. No levantamento daquele ano, seriam entre 32 a 36 equipamentos voltados a monitorar chuva e nível da água.
Sistemas de Alerta
Em nível federal, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, liderado por Waldez Góes, desenvolve um novo sistema de alerta. Em conjunto com as operadoras de telefonia, o modelo consegue mapear os aparelhos dentro da área de risco e emite sinais sonoros e por meio de mensagens sobre os riscos.
De acordo com o comandante da Defesa Civil regional, nos próximos meses serão feitos testes tanto no RS quanto em outros estados do país. Com isso, a forma atual de mensagens via SMS será substituída.
Modelo catarinense
A empresa MKS, de Santa Catarina, integra o sistema de monitoramento e alerta do Vale do Itajaí. Equipe técnica e o CEO, Vitor Vilbert, estiveram em Lajeado na manhã de ontem, e apresentaram como funcionam os sensores usados no estado vizinho.
Cada um dos pontos são dotados com tecnologias para resposta em episódios críticos, diz Vilbert. Os aparelhos têm painéis solares com baterias capazes de garantir o funcionamento mesmo sem energia por até oito dias. Estão acoplados ainda a régua digital, sensor de chuva e câmera direcionada para uma régua física, como forma de dar redundância no acompanhamento do nível da água.
A comunicação do aparelho tem quatro possibilidades. Por rádio, por internet via cabo, internet wi-fi e por satélite. Os dados hidrometeorológicos coletados são atualizados a cada 15 segundos.
Entrevista
Sérgio Diefenbach • Promotor de Justiça
“Nosso sistema de monitoramento e alerta é fraco”
A Hora – Qual é o intuito dos encontros com o comitê regional?
Sérgio Diefenbach – É importante termos em mente que somos vários municípios atingidos pelo mesmo fenômeno. A promotoria tenta provocar a reunião das forças locais para que essas questões sejam tratadas de forma regional, e não município por município. Com o fortalecimento de todos, podemos postular as entregas que o estado e a união têm feito pelo Vale.
Um desastre tem quatro fases: a prevenção, a preparação para o próximo, o enfrentamento e a reconstrução. Hoje (ontem), debatemos sobre a preparação para os próximos desastres, que inclui melhores sistemas tecnológicos de monitoramento e alerta.
– O Vale está preparado?
Diefenbach – Eu diria que estamos em preparação, mas ainda não estamos prontos. Nosso sistema de monitoramento e alerta é fraco, os planos de contingência dos municípios ainda são fracos, e temos muitas necessidades pela frente. Nossos abrigos funcionaram no limite e há situações de direitos humanos questionáveis nesses espaços. As residências ainda não foram construídas. Então, em todas as esferas, ainda temos muitas necessidades.
– Como fazer?
Diefenbach – Precisamos de uma união de esforços, com análise, diagnóstico e prognóstico. Isso não se faz por um gestor sozinho, nem uma esfera de governo sozinha, e muito menos por decisão judicial. Faz-se com consciência coletiva.