Do otimismo à frustração em três anos

DUPLICAÇÃO DA BR-386

Do otimismo à frustração em três anos

Ritmo intenso na largada, paralisações, queixas de gestores e mudança de terceirizada responsável marcam período. Trabalhos iniciaram em julho de 2021 e atraso na conclusão chega a um ano. Apesar das dúvidas da comunidade, concessionária promete entregar obra em fevereiro de 2025

Do otimismo à frustração em três anos
Ponte sobre o Arroio Forquetinha é um dos trechos ainda inacabados da rodovia. (Foto: Mateus Souza)
Vale do Taquari
oktober-2024

Chegada das primeiras máquinas. Movimentação de trabalhadores no canteiro de obras. O mês de julho de 2021 marcava o início da duplicação dos 20,3 quilômetros da BR-386, entre Marques de Souza e Lajeado. Um dos projetos mais aguardados pela comunidade regional começava a virar realidade. Três anos depois, o cenário é de incertezas.

Prevista no contrato de concessão da rodovia à CCR ViaSul, a obra iniciou com quatro meses de atraso devido à entraves burocráticos na emissão de licença ambiental. Prazos foram ajustados e, num primeiro momento, a intensidade dos trabalhos surpreendeu o Vale. A entrega prevista era em dois anos. Pouco a pouco, porém, a expectativa deu lugar a frustração.

Duas paralisações, rescisão contratual, chegada de uma nova terceirizada e, por último, a catástrofe climática. Não foram poucos os motivos que interferiram sobre o andamento dos trabalhos. Agora, em paralelo a reconstrução dos trechos destruídos, a concessionária se remobiliza para retomar as intervenções a pleno.

Em nota encaminhada à reportagem, a CCR afirma que a duplicação está 92% concluída, com 17 dos 20 quilômetros de novas pistas prontos. Destes, 11,5 já foram liberados para o tráfego de veículos. O prazo de conclusão se mantém para o primeiro semestre de 2025.

No entanto, há trechos ainda com visível atraso, como nas imediações da sede da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no bairro Conventos, onde será feita um túnel. Há apenas 30 operários hoje na rodovia, revela a concessionária. A ideia é alcançar em torno de 600 nos próximos meses.

Impactos logísticos

O atraso no cronograma interfere sobre a logística não apenas do Vale, mas também de todo o RS, em virtude da BR-386 ser um corredor de exportação. Parte considerável do Produto Interno Bruto (PIB) do estado passa pela rodovia, lembra o diretor de Infraestrutura e Logística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Diego Tomasi.

Segundo ele, a situação se agrava pelo fato da CCR ViaSul, em nenhum momento, deixar de cobrar tarifa de pedágio nas praças existentes ao longo da rodovia. “O que nos preocupa muito é a falta de trabalhadores e de máquinas na BR. Quando eles tinham aquelas metas de obras para iniciar a cobrança da tarifa, fizeram tudo dentro do prazo”, recorda.

Para Tomasi, quando se faz a concessão de uma rodovia, um dos principais objetivos é justamente o de buscar celeridade nas obras. “Está parecendo uma empresa pública, muito demorada. Eles precisam ter mais pessoas trabalhando. Prazos cumpridos numa rodovia diminuem custos logísticos com caminhões parados, evitam acidentes e salvam vidas”.

Detalhes da obra

  • DUPLICAÇÃO
    – 92% concluída
  • NOVA PISTA
    – 17 dos 20,3 quilômetros prontos
    – 11,5 quilômetros liberados para o tráfego de veículos
  • FAIXAS ADICIONAIS
    – Quase 10 quilômetros prontos
    – Obras ocorrem nos dois sentidos
  • PASSARELAS
    – Duas entregues (Marques de Souza e Forquetinha)
    – As duas passarelas em Lajeado não estão concluídas, mas já são utilizadas pela comunidade
  • PONTES
    – Cinco alargamentos de ponte concluídos
    – Falta a ponte sobre o Arroio Forquetinha, onde é feita laje de transição e pavimentação
  • INTERSEÇÕES
    – Três prontas (retorno em nível em Marques de Souza e dois viadutos em Lajeado)
    – Três em andamento (incluindo a elevada no acesso ao bairro Montanha)

Evolução e estagnação

  • JUL/2021
    – Início dos trabalhos na BR-386, nas imediações do trevo de acesso a Marques de Souza. Em pouco tempo, município observa um “boom” no setor de serviços e da construção civil, com a chegada de trabalhadores, vindos de diversas regiões do país;
  • MAR/2022
    – Nova pista começa a tomar forma em Marques de Souza. Içamento de vigas no primeiro dos quatro viadutos previstos marca chegada das obras no perímetro de Lajeado;
  • JUN/2022
    – Obra completa um ano com 10 quilômetros de duplicação prontos. No auge, são mais de 600 trabalhadores atuando simultaneamente. CCR promete entrega ainda no primeiro semestre de 2023;
  • ABR/2023
    – Número de trabalhadores no trecho reduz gradativamente e gera desconfiança na comunidade. O motivo: reanálise do contrato com a Eurovias. Foram 45 dias de espera até a retomada da obra. Conclusão é adiada para outubro. Porém, prazo novamente não é cumprido;
  • MAR/2024
    – Novos problemas entre concessionária e Eurovias resultam na rescisão do contrato com a terceirizada. O ritmo lento era percebido desde o começo do ano. Nova empresa assume os trabalhos em abril, com promessa de conclusão apenas em fevereiro de 2025;
  • MAI/2024
    – Destruição de trechos da BR-386 após a catástrofe climática obriga CCR a direcionar esforços a reconstrução da rodovia. Retomada das obras de duplicação ocorre de forma gradativa. Cronogr

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