Projetos visam reestruturar áreas centrais para salvar cidades

Roca Sales e Muçum

Projetos visam reestruturar áreas centrais para salvar cidades

Muçum e Roca Sales planejam deslocar parte da área urbana para locais livres de enchentes

Projetos visam reestruturar áreas centrais para salvar cidades
Área sugerida pelo prefeito Amilton Fontana, de Roca Sales, tem 78 hectares
Vale do Taquari

A maior catástrofe climática do Estado exige um repensar. Em especial nos municípios mais devastados. Em cima disso, prefeitos, vereadores, empresários e moradores se encontram em meio a um dilema: o que deve ser feito para que todos possam voltar a se sentir seguros? Essa pergunta norteia as ações após a inundação. Com isso em mente, duas ideias se destacam na região alta do Vale. Ambas por uma característica semelhante: deslocar a área central para um local onde não haja perigo de novos episódios extremos.

Roca Sales e Muçum estão nos estágios iniciais para reestruturar as áreas urbanas. O Recupera Muçum foi lançado dia 31 de maio e apresentou as primeiras etapas dessa campanha criada por uma associação sem fins lucrativos ou vínculos políticos. Esse movimento da iniciativa privada na cidade vizinha repercutiu sobre Roca Sales. O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana, debate com a comunidade uma mudança geográfica para garantir a continuidade do município.

Diretor do Colégio Evangélico Alberto Torres, unidade Região Alta, Germano Hickmann

 

Ao lado da estação ferroviária

O local considerado ideal pelo prefeito Amilton Fontana é uma área de 78 hectares próximo da estação ferroviária de Roca Sales. Ainda no estágio inicial, reconhece que há muitas variáveis antes de decidir qual será o trabalho e mesmo por onde começar.

Fontana teme novas catástrofes. Para ele, é questão de tempo até uma nova inundação, o que aumentaria a destruição da área central. “Trabalhamos com uma ideia de realocação. Hoje tem duas aberturas contra o Rio Taquari que não têm mais proteção nenhuma. Estamos analisando a viabilidade dos locais em conjunto com engenheiros e arquitetos do município”, destaca.

Essa construção passa por análises da equipe de Engenharia do município, coordenada por Jonas Haefliger. Ele salienta que todo o processo ainda está em avaliação de um grupo de técnicos contratados. “Estamos estudando as projeções de ampliação do perímetro urbano, assim como as diretrizes do estudo do plano diretor. A análise de toda questão do sistema viário, possíveis áreas de expansão, reorganização das partes urbanas já consolidadas, além do levantamento das necessidades, estão em andamento para iniciar os traçados preliminares e, após isso, apresentar uma proposta de onde e como fazer”, esclarece Haefliger.

“Não será uma decisão só do prefeito, mas em conjunto com as pessoas de Roca Sales, líderes locais e grandes empresários daqui e da Serra Gaúcha”, complementa o prefeito. Nos próximos dias, uma reunião com as partes citadas será realizada para iniciar a elaboração desse projeto de realocação.

Diretora do Colégio Scalabriniano São José, Rosane Volken

União de esforços

Por meio de conversas e reuniões com os envolvidos, Fontana revela que em breve uma associação será criada para contemplar os direcionamentos necessários para a criação do projeto. “Uma entidade sem política, com foco em ideias e o envolvimento de grandes empresários de fora, como da Tramontina e Randon. Vamos buscar recursos pensando em um futuro com infraestrutura para ligar o município com a Serra Gaúcha, estamos perto de Coronel Pilar e Garibaldi então seriam poucos quilômetros que precisaria estruturar”, antecipa.

A área central que será deslocada compreende 50 hectares. Com o local sugerido pelo prefeito seria possível otimizar o espaço e possibilitar até um crescimento da cidade. “Esperamos que os governos estadual e federal auxiliem, mesmo que seja com recursos para fazer algumas ruas, afinal é um projeto grande com anos pela frente. Ali perto da estação tem uma terraplanagem plana, com um espaço de até 150 hectares de terra caso o município cresça”, enfatiza Fontana. Para comprar aquelas terras, a administração municipal analisa a possibilidade de fazer um financiamento para confirmar a compra do local.

Proprietária da loja de calçados Pé Brasil, Ivânia Maria Kappler, e a colaboradora Luciane Ellwanger

Visão dos empreendedores

Para empresas situadas no raio de 50 hectares da área sugerida, a discussão sobre a mudança traz mais dúvidas do que conforto. Para a diretora do Colégio Scalabriniano São José, Rosane Volken, essa ideia precisará ser muito bem organizada e respaldada por estudos e avaliações técnicas.

“É preciso pensar nos acessos ao local, capacidade de infraestrutura e diversas variáveis. Temos na nossa escola um prédio centenário, para termos uma estrutura semelhante nesse novo espaço, qual é o recurso? É uma decisão que precisa ser tomada, algo precisa ser feito, mas com embasamento, muito estudo e análise técnica”, comenta.

Para a educadora, trabalhar com ações diretas na bacia do Rio Taquari seriam mais urgentes. “Entendo que é preciso olhar para esse rio, já deveriam ter realizado atitudes pertinentes depois das cheias de 2023”, complementa Rosane.

Como a maioria dos empreendedores não foi consultada sobre a ideia de realocação, muitos ainda desconfiam que essa ação resolveria o problema. “Aqui temos um bom ponto, as pessoas passam pela loja. Se as empresas forem nessa mudança, o sucesso também depende de onde elas vão se localizar nesse outro local. É preciso que a maioria faça essa realocação, se um mercado ou banco decide ficar aqui já não terá o mesmo número de pessoas circulando”, opina a proprietária da loja de calçados Pé Brasil, Ivânia Maria Kappler.

O diretor do Colégio Evangélico Alberto Torres, unidade Região Alta, Germano Hickmann, salienta que é importante essa busca por alternativas, tendo clareza de como tais decisões seriam implementadas. “Mas vejo o centro da cidade como algo relevante para a organização da área urbana e das pessoas. Precisamos saber como tudo isso vai funcionar antes de poder avaliar essa possibilidade”, reforça. O centro escolar está em Roca Sales há 14 anos e foi atingido pela água pela primeira vez em setembro de 2023.

default

Encantado avalia construir sistemas de contenção

O município não tem projetos de realocação, mas iniciou um estudo para verificar a possibilidade de implementar um muro de contenção nas margens do rio Taquari. “Estamos em um momento de pensar em ações que possam mitigar os efeitos das enchentes. Analisamos a criação de uma avenida paralela que passe na Rota do Desenvolvimento. Uma rua que em alguns pontos terá sete metros de altura para garantir o escoamento. É um muro que em cima dele terá estrada, a exemplo da entrada de Porto Alegre hoje”, disse o prefeito Jonas Calvi.

“Estamos falando de uma obra de cinco quilômetros. Ela sai do Fontana, vai até o ponto que passa atrás da Dália e segue até o Porto Quinze. É um projeto de R$ 100 milhões, mas se pensarmos no prejuízo que apenas a Fontana, Carrer e a Dália tiveram nessas quatro enchentes percebemos que essa perspectiva muda. Precisamos ter uma nova mentalidade para enfrentar situações sem precedentes”, afirma Calvi.

Recupera Muçum

O projeto na Princesa das Pontes já tem seus passos iniciais definidos em busca de alcançar os R$ 6 milhões necessários para comprar áreas de terra não alagáveis. Segundo o presidente da associação, Márcio Delazeri, após as enchentes de maio, dados demonstravam que 60% dos moradores pensavam em deixar a cidade. Segundo as pesquisas apresentadas no lançamento da campanha, o território total de Muçum é composto por 95% de áreas não alagáveis.

Atualmente, o escritório de arquitetura de Paloma Pezzi e a equipe da Sustentarchi Arquitetura (Passo Fundo), iniciaram os estudos para a criação de um espaço seguro para reconstruir a cidade. Em paralelo, a empresa Urbia Urban Tech realizará o estudo de viabilidade das áreas possíveis. Também é uma preocupação da entidade ter um projeto para a reutilização das áreas alagáveis.

Transparência

Toda a doação será feita para a conta Pix da Associação Recupera Muçum

Os valores captados e aplicados serão periodicamente examinados pelo corpo técnico da Univates (Universidade do Vale do Taquari)

Todo o valor arrecadado será divulgado nas redes sociais do projeto

Chave pix:
recuperamucum@gmail.com

Esse é um projeto de iniciativa privada com o apoio do poder público

Uma rifa organizada pela influenciadora goiana Mayra Bittar, vai leiloar seu vestido de noiva e destinar R$ 500 mil a Muçum. O sorteio vai ocorrer após as rifas alcançarem R$ 1 milhão (os R$ 500 mil restantes irão para o SOS Habitar – Vale do Taquari)

Acompanhe
nossas
redes sociais