A cura do câncer por meio de terapia celular

ENTREVISTA | A HORA BOM DIA

A cura do câncer por meio de terapia celular

Segundo o médico Vanderson Rocha, 20 pacientes já foram tratados pelo método com células produzidas via SUS

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A cura do câncer por meio de terapia celular
Médico Vanderson Rocha (e) e paciente Paulo Peregrino (Foto: Divulgação)

O tratamento inovador contra o câncer que coloca Ribeirão Preto como referência nacional no combate à doença é assunto do programa A Hora Bom Dia desta quinta-feira, 9. O entrevistado foi o professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da Rede D’Or, Vanderson Rocha. Ele citou o caso do paciente Paulo Peregrino que foi tratado com células Car-T, as próprias células de defesa modificadas em laboratório, e teve remissão do tumor em aproximadamente um mês.

De acordo com o especialista, o método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. “O protocolo contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país.  Atualmente, o procedimento no Centro de Terapia Celular é feito de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método. O protocolo foi adotado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, desde 2019”, conta.

Como funciona

Rocha explica que a produção da terapia tem início com a coleta dos linfócitos de defesa do tipo T do paciente, que são como “soldados” do sistema imunológico, e que são levados para o laboratório e modificados geneticamente para reconhecer o câncer, são multiplicadas em milhões e devolvidas ao paciente, onde circulam, encontram e matam o tumor sem afetar as células normais. As próprias células do paciente são “treinadas” para combater o câncer”.

Desde janeiro deste ano que o produto comercial é retirado dos pacientes no Brasil e enviado para os EUA e depois retorna e é infundido nos pacientes.

Atualmente, 20 pacientes já foram tratados com células produzidas no Sitema Único de Saúde (SUS) através de pesquisas. “O Paulo foi o paciente de número 15, em São Paulo, tratamos três pacientes com células infundidas aqui em São Paulo, mas provenientes de Ribeirão Preto onde é feita essa manipulação e os outros 17 pacientes foram tratados em Ribeirão Preto”, ressalta ele.

Rocha destaca, ainda que duas fábricas de células estão em atividade no Brasil, uma em Ribeirão Preto, a Nutera – Núcleo de Terapia Avançada e Nutera em São Paulo, no campus da USP. “Isso tudo produzido pelo SUS”.

Produto comercial

O custo, segundo Rocha, é em torno de R$ 2 milhões, somente para o produto já disponível para aquelas situações que o paciente tem convênio de saúde, onde as células são enviadas aos EUA e infundidas posteriormente. Na medicina privada, de convênios, isso já é uma realidade.

Ele complementa que mais de 80% da população brasileira não tem convênio de saúde. Por isso, há um investimento, principalmente em SP para se produzir essa células por meio do SUS, verbas de pesquisas, de fundações que tem os recursos para poder usar as células produzidas no Brasil. Porém, para se usar essas células é necessário passar por etapas. “Estudos para demonstrar que o que produzimos no Brasil não tem nenhum efeito colateral maior é a eficácia. Para isso, precisamos completar esses estudos de fase 1 e 2 e isso inclui 81 pacientes e somente depois de mostrar se os resultados são promissores com as células fabricadas no Brasil poderíamos estender o uso de uma forma mais global.”

O que preocupa é mesmo sabendo que com as duas fábricas de células no Brasil os médicos ainda ficariam limitados pelo número de procedimentos. “Calculamos que a partir de dois a três anos, já poderíamos ter essas células no SUS, porém, em SP produzindo conseguiríamos atender 300 procedimentos por ano, porém, a demanda gira em torno de 1,8 mil a 2 mil pacientes por ano”.

Assista a entrevista na íntegra

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