Entre a autonomia e a dependência

20 ANOS DO BOLSA FAMÍLIA

Entre a autonomia e a dependência

Programa de transferência de renda completa 20 anos. Criado com o objetivo de diminuir a desigualdade social e econômica, governo federal tem o desafio de promover a emancipação das famílias assistidas

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Entre a autonomia e a dependência
Marilúcia (d) recebe o auxílio governamental há 20 anos. Recurso é considerado essencial para manter a família. (Foto: Júlia Amaral)
Vale do Taquari

Foi por meio do rádio e da televisão que Marilúcia Noronha da Silva, 49, conhecida como “Tia Alice”, soube do Bolsa Família. Aquela seria uma ajuda bem-vinda para a mãe de duas crianças e desempregada. Ela procurou o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Lajeado, fez o cadastro e esperou a aprovação.

O primeiro pagamento do Bolsa Família no Brasil foi em outubro de 2003 e contemplou 1,15 milhão de famílias. Apesar das contribuições para população carente, o programa não encontra cenário econômico sólido para criar uma geração independente de auxílios governamentais.

“Em duas décadas não se resolve um problema de toda a nossa história. Se minimiza alguns impactos, mas não resolve tudo”, aponta a economista Cintia Agostini.

No primeiro depósito, o valor era, em média, de R$ 73,67. “Na época, as coisas não eram tão caras. Dava para comprar muita coisa com aquele valor”, lembra Alice.

Para receber o auxílio, ela também recebeu a visita de avaliadores do governo federal, que confirmaram a condição de carência da família – processo que continua até hoje. Aos poucos, o valor aumentou, primeiro para pouco mais de R$ 100 e, hoje, chega a R$ 600. “O Bolsa Família me ajudou e continua me ajudando muito. Sem ele, eu passaria por muito mais dificuldades.”

Alice tem cinco filhos, sendo que uma tem 12 anos. Ana Paula Noronha, 32, era menor de idade em 2003, quando a mãe se cadastrou no programa. Funcionária de uma padaria, ela tentou receber o Bolsa Família, mas a renda per capita dela e do filho mais velho ultrapassa o limite.

Rumo ao diploma

No mesmo conjunto habitacional em que Alice vive, o Novo Tempo 1, mora Daniele Batista Martins, 39, e três filhos, de 17, 16 e 12 anos. Em 2022, ela passou no vestibular para o curso de fisioterapia da Univates e conquistou uma bolsa de 80% do programa Ajudarinho. Os outros 20% são pagos com o Bolsa Família.

“Não é fácil. Eu tentei primeiro da forma tradicional, mas o valor da mensalidade é muito alto. Aí as meninas da Associação Marines me ajudaram e me inscreveram no Ajudarinho. Agora estou na faculdade, que é muito exigente, com muitas matérias. Preciso me dedicar”, conta. Daniele tem aula duas vezes por semana e, quando não consegue pegar o ônibus, percorre quase 10km de bicicleta.

Daniele é estudante de Fisioterapia. A faculdade é paga com ajuda de programas da universidade e do Bolsa Família. (Foto: Júlia Amaral)

O Bolsa Família faz parte da história da família há pelo menos 10 anos. Hoje, o filho mais velho de Daniele trabalha e ajuda a complementar a renda da família. A filha cursa magistério e sonha em ser médica. “Eles ficam orgulhosos de mim na faculdade, até pela minha idade, né?”, conta.

 

 

Nos últimos dez anos

Lajeado tem hoje 2.153 famílias beneficiadas, mil a mais do que há sete anos. Em uma década, o número de beneficiários em todo o Vale do Taquari passou de sete mil para nove mil, o que corresponde a um aumento de 37,71%. Em maio, das 38 cidades do Vale, 24 tinham mais pessoas recebendo o auxílio.

A assistente social de Lajeado, Mara Sauter, lembra que o Bolsa Família tem como objetivo garantir uma renda básica para as famílias. “Nos deparamos cada vez mais com mães chefes de família que enfrentam muitas dificuldades para garantir o sustento familiar”, ressalta.

10 cidades com menos famílias inscritas

  • Vespasiano Corrêa (RS)
  • Montauri (RS)
  • Poço das Antas (RS)
  • Fagundes Varela (RS)
  • Coronel Pilar (RS)
  • Três Arroios (RS)
  • Cunhataí (SC)
  • São Domingos do Sul (RS)
  • Lacerdópolis (SC)
  • Santa Tereza (RS)

Sobre o Bolsa Família

  • É o maior programa de transferência de renda na história do Brasil;
  • Em todo o Brasil, chega a 21,5 milhões de famílias;
  • O benefício médio é de R$ 687;
  • Custou R$ 14,6 bilhões em setembro de 2023 ao governo federal;
  • Reuniu três programas assistenciais criados no governo Fernando Henrique Cardoso: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás.

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