Sem casos no Brasil desde 1994, a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, volta a preocupar devido à baixa cobertura vacinal. O país não atinge a cobertura adequada de 95% desde 2016. No Vale do Taquari, pelo menos 597 crianças em idade de vacinação não receberam o imunizante este ano. Uma campanha de multivacinação busca mudar este cenário, assim como ações alusivas ao Dia Mundial de Combate à Poliomielite, celebrado nesta terça-feira, 24.
Na região, a cobertura vacinal, que passava da meta há uma década, caiu para 89,41% em 2021, e para 75,7% neste ano. O município com menor índice de vacinação é Relvado. Já Vespasiano Corrêa foi o que mais vacinou crianças na faixa etária adequada, com a primeira dose até os dois meses de vida, conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde. Diante deste cenário, pesquisadores apontam alto risco de volta da doença.
A infectologista Cristiane Pimentel Hernandes destaca que a diminuição das taxas de cobertura vacinal contra a poliomielite depende de muitos fatores. Entre eles, a circulação de informações incorretas sobre vacinas, muitas vezes ampliadas pelas redes sociais, que pode levar a hesitação ou recusa em vacinar.
“À medida que as doenças se tornam menos visíveis devido ao sucesso das campanhas de vacinação anteriores, as pessoas podem subestimar a necessidade de vacinar”, reforça. Além disso, em comunidades desfavorecidas, onde o acesso à informação e aos cuidados de saúde é limitado, as taxas de vacinação também tendem a ser mais baixas.
De acordo com a profissional, o cenário é preocupante, tanto para o Brasil quanto para o mundo, já que as baixas taxas de vacinação criam “bolsões de suscetibilidade” que podem levar a surtos de poliomielite, mesmo em áreas que anteriormente eram consideradas livres da doença. Cristiane ainda explica que o tratamento e controle de surtos são caros e desviam recursos que poderiam ser utilizados em outras áreas da saúde pública.
Alto risco
Coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Lajeado, Juliana Demarchi destaca que 83,7% dos municípios da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) estão em risco alto ou muito alto para a reintrodução da pólio. Ela também ressalta que países da Ásia e África ainda possuem casos da doença, por isso ela não é considerada erradicada no mundo.
Neste sentido, as secretarias de saúde têm adotado diferentes estratégias para ampliação das coberturas vacinais, como horários alternativos e momentos de recreação para as crianças. Por outro lado, a profissional diz ser ainda necessário o engajamento das famílias.
Juliana alerta que o estado não atinge a cobertura vacinal desde 2018 e Lajeado desde 2020. Até setembro deste ano, a cobertura na cidade estava em 63%.
Outras doenças que também possuem baixa cobertura vacinal e correm risco de reintrodução são difteria, rubéola, coqueluche e sarampo. A varíola é a única doença erradicada no mundo.
Fim da pólio
A poliomielite é uma doença infecciosa viral aguda que atinge os neurônios da medula espinhal e do tronco cerebral. As consequências variam desde uma fraqueza aguda associada a dores articulares, até dificuldade para engolir os alimentos, para falar, meningite e, em casos mais graves, doença paralítica, insuficiência respiratória ou óbito.
A erradicação da pólio no mundo é uma das missões do Rotary Internacional, com campanhas que ganham força no mês de outubro. Entre as iniciativas, está a divulgação e arrecadação de valores por meio da Fundação Rotária, para a compra de vacinas. A organização é quem financia as vacinas, conhecidas como “gotinhas”, em todo o mundo.
Como parceiro fundador da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, o Rotary Internacional ajudou a reduzir os casos de pólio em 99,9% desde o primeiro projeto de vacinar crianças nas Filipinas, em 1979.
Cobertura Vacinal nas maiores cidades da região
LAJEADO
117,27% (2013)
92,29% (2022)
63,8% (2023)
ESTRELA
169,73% (2013)
93,76% (2022)
64,71% (2023)
ARROIO DO MEIO
145,18% (2013)
85,52% (2022)
59,84% (2023)
TEUTÔNIA
101,03% (2013)
105,65% (2022)
52,97% (2023)
BOM RETIRO DO SUL
78,79% (2013)
78,62% (2022)
86,21% (2023)
TAQUARI
67,35% (2013)
76,92% (2022)
60% (2023)
ENCANTADO
171,75% (2013)
82,21% (2022)
65,38% (2023)
VENÂNCIO AIRES
106,16% (2013)
76,79% (2022)
60% (2023)