“Formamos não só uma equipe,  mas um exército de voluntários”

ABRE ASPAS

“Formamos não só uma equipe, mas um exército de voluntários”

O Parque do Imigrante, em Lajeado, foi o cenário de um incansável trabalho de centenas de voluntários nos últimos dias. Entre eles, a enfermeira Caroline Dalmoro, 36. Ela ficou sete dias no local, ajudando no recebimento de doações e também no auxílio às famílias desabrigadas que chegavam após serem removidos de suas casas. Em uma semana, vivenciou histórias e relatos emocionantes e testemunhou a formação de uma grande corrente do bem

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“Formamos não só uma equipe,  mas um exército de voluntários”

Como foi o trabalho voluntário no Parque do Imigrante? Foram quantos dias atuando no local?

Trabalhei de terça (dia 5) de manhã até segunda-feira (dia 11) à tarde. Nos primeiros dias, até sexta-feira, ficava em torno de 16, 17 horas por dia. Parava cinco, dez minutos para almoçar, e voltava. De um lado, tinha dor e tristeza pelo que ocorria. Nasci, cresci e vivo aqui. Ver os espaços de lazer, as comunidades onde trabalhava, devastadas, era muito triste. Mas tinha que deixar essa dor de lado para estar lá. E preenchia o outro espaço com felicidade, com alegria. Era muito gratificante poder fazer algo pelo próximo, por nossa comunidade, em devolver um pouco de dignidade às pessoas.

Qual o cenário que você encontrou ao chegar no parque?

Eu fiquei sem luz em casa e perdi sinal de internet, então quando cheguei no parque não tinha ideia de como estavam as coisas. Sabia que era um cenário complicado, mas só fui tendo noção na medida em que o tempo passava. Chegavam cada vez mais pessoas, mais doações e se via cada vez mais forças de segurança. Olhava para fora e via um, dois, três helicópteros sobrevoando, via caminhões do exército chegando.

O que mais te impressionou nesses dias? Houve algum momento que te marcou mais?

Ouvimos muitas histórias. De pessoas que perderam tudo, que perderam bens materiais, perderam familiares. E dos próprios voluntários. O primeiro nó na garganta foi já na minha primeira manhã, quando recebi dois irmãos, uma menina e um menino, e o cachorrinho deles, o Bolinha. Estavam sozinhos, pois o padrasto foi ajudar a socorrer vizinhos e a mãe estava hospitalizada. O menino, completamente molhado, relatou que salvou a mochila, com seus cadernos, livros e o que mais conseguiu pegar. Mas teve tantos outros relatos fortes. Cada dia era um nó diferente na garganta.

Qual tua avaliação, enquanto voluntária, desta enorme rede de solidariedade que se formou na região para o socorro às famílias e reconstrução das cidades?

Eu nunca imaginei vivenciar isso aqui. As tragédias de Brumadinho, de Petrópolis, sempre pareceram tão distantes da gente. Foi uma experiência transformadora, não só para mim, como para outros tantos voluntários. Formamos não só uma equipe, mas um exército de voluntários. A energia dessas pessoas, a quantidade de doações que chegavam era algo incrível, reconhecida até por pessoas que trabalharam em outros desastres. Ver esse pessoal trabalhando sem parar, as vezes com dor, nos mantinha de pé para continuar. Conseguimos fazer muito.

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