A enchente de 1941 sempre fez parte do imaginário de diferentes gerações no Vale do Taquari e no Estado. Da mesma forma, e talvez pela distância oferecida pelo tempo, o fenômeno natural que assolou cidades na longínqua década de 40 parecia algo surreal. A impressão, e muitos compactuam com esse sentimento, era de um evento único, isolado, e sem qualquer possibilidade de se repetir. Ledo engano. A tragédia desta semana é a dolorosa prova que faltava para nos devolver a responsabilidade coletiva perdida ao longo das últimas décadas, forçar investimentos mais robustos em estruturas físicas e tecnológicas, e também para justificar ainda mais as políticas públicas de conscientização social e respeito à natureza. É fato. Após tudo que ocorreu a partir do fatídico dia 4 de setembro, com a maior tragédia natural da história do Rio Grande do Sul, não podemos mais negligenciar ou subestimar tanto assim os riscos do Rio Taquari. Se os prejuízos financeiros machucavam a nossa economia, as mortes são inaceitáveis.
O exemplo da Acil
Logo após a enchente de 2020, cuja elevação do Rio Taquari nos alertou para melhorias significativas em nossos sistemas de monitoramento e prevenção às cheias, a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) instalou uma régua na parede externa da sede localizada na Rua Silva Jardim. E, muito mais do que servir de subsídio para acompanhar a elevação do nível do manancial, a ferramenta tem um valor pedagógico que ainda resta negligenciado em outras tantas áreas da cidade. A bem da verdade, deveríamos provocar o mesmo movimento em diversos outros pontos alagáveis de Lajeado e região, como uma forma de conscientizar a população e manter viva na memória de todos as dimensões e os riscos das recorrentes enchentes e inundações.
Solidariedade à flor da pele
Junto à equipe de reportagem, eu passei a quinta-feira inteira verificando in loco os prejuízos e dramas registrados em Muçum e Roca Sales, as duas cidades que mais registraram mortos em decorrência da histórica enchente. E, diante daquele cenário de horror e tristeza coletiva, o único alento era a surpreendente e emocionante solidariedade do povo gaúcho. Naquelas horas que passamos em busca de informações e histórias para levar aos leitores/ouvintes/internautas, e diante da completa ausência de mercados ou restaurantes abertos ao público, fomos alimentados por voluntários que emprestaram o tempo e a força para ajudar ao próximo. Por lá, comemos um pão com salsichão preparado por um fotógrafo de Lajeado; um bolinho inglês entregue por funcionários do Hospital Moinhos de Vento (de Porto Alegre); sanduíches repassados por moradores de Casca; e maças presenteadas por grupos de Farroupilha. Já as garrafas de água chegavam de todos os lados.
Um olhar ao agro
A câmara de vereadores de Lajeado vai receber uma importante reunião na próxima terça-feira. E não estou falando da sessão plenária semanal – cuja edição desta semana foi virtual, protocolar, e demorou pouquíssimos minutos. Na manhã do próximo dia 12, a Frente Parlamentar Agropecuária Gaúcha realiza encontro na sede do parlamento lajeadense com sindicatos dos trabalhadores rurais, representantes dos municípios atingidos, da Fetag/RS, Emater e Regionais Sindicais. Subsídios, financiamentos e políticas públicas para tornar possível a retomada do processo produtivo estarão em pauta no encontro coordenado pelo deputado federal Elton Weber (PSB).
Ampliação do Parque dos Dick
O governo de Lajeado vai se movimentar de forma mais efetiva para realocar as pessoas que vivem em áreas alagáveis. A ideia é buscar recursos estaduais e federais para a construção de casas populares em pontos distintos e seguros da cidade. E o foco maior serão os moradores da área central do município, com destaque às ruas Francisco Oscar Karnal, São Sebastião e General Osório, todas localizadas na região conhecida por São José. Em suma, o Poder Público quer auxiliar na construção e compra dos novos imóveis e, em troca, o morador se compromete a deixar a área de risco e repassar a residência antiga ao município. Finalizada a complexa negociação, o governo pretende destruir essas residências para ampliar ainda mais a área do Parque dos Dick.