A cirurgia que mobilizou a comunidade na última semana tem resultados positivos. Com alta na segunda-feira, 21, o bom-retirense Eduardo Schweitzer, 28, se recupera em casa. O paciente passou por uma cirurgia cerebral enquanto, acordado, tocava ukulele, instrumento musical semelhante a um cavaquinho, e tem previsão de voltar às atividades normais dentro de um mês.
O procedimento foi feito no Hospital Bruno Born (HBB), em Lajeado, pelo neurocirurgião Isaac Bertuol. A equipe médica também era composta pelo neurologista e neurofisiologista Carlo Domênico Marrone, pelo neurocirurgião Fabiano Ruoso e pelo anestesista Brás Antônio Finamor. O procedimento durou seis horas. Apesar de já terem sido feitas outras cirurgias semelhantes na casa de saúde, esta é a primeira vez que utilizou um instrumento musical.
Saudável e praticante de atividades físicas, Schweitzer não imaginava passar pela cirurgia. Foi no ambiente de trabalho que iniciou o problema, quando teve uma crise convulsiva e foi encaminhado pelos colegas ao hospital. Durante os exames, foram identificados um edema cerebral e um tumor.
“A gente não tinha ideia de como seria essa cirurgia. O Dr. Isaac deu um destino diferente para tudo o que estava acontecendo”, destaca Schweitzer. A necessidade de passar pelo procedimento acordado foi pelo tumor se localizar no frontal esquerdo, área responsável pela fala e compreensão da palavra. Com risco de lesão, o método permitiu identificar caso a cirurgia estivesse causando algum problema.
Fé em meio à música
A ideia de tocar o instrumento musical surgiu de conversa com uma amiga médica. “Ela comentou de uma cirurgia que tinha feito em Porto Alegre, em que o paciente tocava saxofone. Eu dei essa ideia e os médicos acabaram abraçando. Para mim, fazer o procedimento tocando foi muito importante”, destaca Schweitzer.
A relação dele com a música iniciou na infância, quando a mãe o levava à igreja. Com gosto pelos instrumentos, começou a tocar nas celebrações e fez parte, inclusive, de uma banda religiosa. A fé foi o que o motivou a entrar no bloco cirúrgico com o ukulele.
“Pensei, porque não fazer isso orando à Deus? Porque ele me deixou chegar até aqui, com tudo o que os primeiros médicos disseram, eu não tinha esperança de passar pelo que passei”.
Recuperação
Ele conta que no primeiro dia depois do procedimento, já se sentia bem. Uma semana depois, já gravava entrevistas para rodar em emissoras do estado. “Eu não esperava que acontecesse desta forma. Achei que pudesse dar uma repercussão, mas não que chegasse nessa proporção. Fico feliz de ter atingido tantas pessoas de forma positiva e dar esperança para outras pessoas”.
A recuperação está sendo em casa. Mas, apenas com uma faixa na cabeça, os curativos já não são mais necessários. Com o tumor retirado, a expectativa é que o problema não retorne. Para isto, o acompanhamento médico é fundamental.
Neurocirurgia
“Nós mapeamos a área da fala e tentamos afastar o máximo possível. Enquanto a gente ressecava, ele tocava. No transoperatório, quando ele começa a cantar músicas religiosas, era a enfermagem chorando, nós com o nó na garganta, foi muito emocionante”, conta o neurocirurgião Isaac Bertuol, responsável pelo procedimento.
Ele diz que, durante a cirurgia, o paciente recebe anestesia local e depois a sedação. Quando o cérebro já está exposto, é diminuída a sedação até ele acordar. Foi neste momento que o instrumento foi dado a Schweitzer.
“A neurocirurgia é muito bonita, mas lidamos com uma área que às vezes o que tu planeja não sai como planejado. Então nós, médicos, precisamos estar preparados mentalmente também”. Para Bertuol, além da curiosidade sobre o método da cirurgia, fazer o procedimento em um hospital do interior também é motivo de destaque.