Baixo preço no mercado preocupa indústria avícola

ECONOMIA E NEGÓCIOS

Baixo preço no mercado preocupa indústria avícola

Cerca de 57% da carne de frango vendida no RS vem de outros estados. Asgav alerta para perda de competitividade e risco de desindustrialização

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Atualizado terça-feira,
06 de Junho de 2023 às 06:52

Baixo preço no mercado preocupa indústria avícola
Vale do Taquari

Nem mesmo a redução nos preços do milho e do farelo de soja no mercado internacional são suficientes para a volta do otimismo no setor de proteína animal, em especial à avicultura. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que o preço da carne de frango no mercado interno teve uma queda acentuada desde a metade de maio.

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Essa situação eleva a instabilidade entre custos de produção e venda aos clientes, afirma o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos. “A indústria vem a quase três anos com dificuldades. Não vai ser um mês de ração mais barata que vai recuperar.”

De acordo com ele, a redução no preço médio deriva do baixo consumo, sazonalidade e especulação devido ao caso de gripe aviária em pássaros silvestres no RS. “Ainda que não tenhamos nenhum contágio dentro da cadeia produtiva, os clientes reduziram a compra.”

Santos destaca que o país continua com o status sanitário internacional sem alteração. Pelos dados da Asgav, o Brasil produz mais de 13,5 milhões de toneladas de frango, enquanto o RS atinge 1,9 milhão. O Vale do Taquari representa 21% da produção gaúcha.

Sobre exportação, o país é líder mundial. Representa quase 35% do mercado no mundo. São mais de 4,5 milhões de toneladas vendidas.

Perda de competitividade

Na avaliação do presidente da Asgav, os governos federal e estadual precisam interceder pela cadeia produtiva para evitar a desindustrialização. Em nível nacional, sugere um programa para aumentar a atividade industrial e gerar empregos. “É necessário implementar um programa econômico mais estável, pois até agora não vimos nada sólido, apenas medidas paliativas.”

Em termos de RS, afirma ser necessário medidas de apoio, como a redução da carga tributária e a retomada de incentivos fiscais. “Avaliar a questão dos créditos presumidos que o setor perdeu no ano passado e buscar formas de garantir incentivos fiscais são ações importantes.”

Na avaliação dele, as indústrias gaúchas perdem espaço. Pelo acompanhamento de mercado, 57% da carne de frango vendidas no Rio Grande do Sul vem de outros estados. “É um problema grave que precisa ser enfrentado. Não buscamos privilégios eternos, mas neste momento é crucial obter incentivos e condições de competitividade para continuar produzindo.”

ENTREVISTA


José Eduardo dos Santos
• presidente da Asgav

“Não adianta ter estoques se não houver demanda”

A Hora – Quais os motivos para esse cenário preocupante na cadeia avícola?
José Eduardo dos Santos – A carne de frango enfrenta uma série de desafios. Primeiramente, ainda sofremos com a instabilidade econômica e a falta de um programa federal para capitalizar a população, especialmente as camadas mais baixas. A queda na renda das famílias interfere no consumo.

Além disso, a cautela em relação aos rumos da economia. Outro fator importante é a influenza aviária. Embora não tenha afetado diretamente a atividade industrial e comercial do setor. Mantemos a mesma situação sanitária, mas a série de especulações em torno desse assunto impacta o mercado.

Observamos um efeito cascata que afeta os compradores, gerando ainda mais especulação e levando a uma queda no consumo. Apesar desses desafios, continuamos exportando e seguimos com medidas rigorosas de biossegurança.

– Há uma redução no preço do milho e da soja no mercado internacional. Quando a indústria será beneficiada com isso?
Santos – Tanto indústrias quanto cooperativas têm trabalhado com custos elevados faz quase três anos. Essa pressão no mercado é resultado de vários fatores. Não sabemos quanto tempo levará para uma recuperação. Mas não é um ou dois meses de preços mais baixos dos insumos que vai garantir uma melhora na receita das empresas.

Não sabemos quanto tempo levará para uma recuperação, mas é necessário ter estabilidade econômica e uma população com mais recursos para estimular o consumo. Não adianta ter estoques se não houver demanda.

Assista a entrevista na íntegra 

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