Pesquisa resgata história de batizados durante escravidão

TAQUARI

Pesquisa resgata história de batizados durante escravidão

Artigo da lajeadense Karen Pires foi publicado em uma revista da PUC-SP. Trabalho tem como material de estudo certidões da Paróquia São José, datadas de 1805 a 1850

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Pesquisa resgata história de batizados durante escravidão
Artigo é resultado da pesquisa de doutorado da historiadora Karen Pires. Crédito: Bibiana Faleiro
Taquari

Parte dos registros mais antigos do sistema escravista da região é guardada pela Paróquia São José, de Taquari. Entre os documentos, certidões de batizado de pessoas negras durante a escravidão, que dão origem ao estudo “História negra e o batismo de adultos escravizados em Taquari, Rio Grande do Sul”. O trabalho da lajeadense Karen Pires resgata certidões de 1805 a 1850 e foi publicado em uma revista de São Paulo nas últimas semanas.

O artigo integra o Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, da PUC-SP, com o objetivo de expor as relações de parentesco entre os escravizados adultos e seus padrinhos.

“Os negros escravizados foram batizados obrigados, como uma imposição do colonizador. Com isso, ocorreu também a mudança dos nomes dessas pessoas para nomes cristãos”, destaca Karen.

O estudo é resultado da pesquisa de doutorado, intitulada “Compadrio, parentesco e família: escravizados, libertos e livres na Paróquia de São José de Taquari/Rio Grande do Sul”, pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates.

“Tudo isso vai compor um cenário de análise inacabado, porque analisar o sistema escravista é algo que não termina. Na região, há muitas coisas a serem escritas sobre esse processo”, ressalta a pesquisadora.

Fotografia retrata paisagem do contexto histórico da pesquisa, entre 1805 e 1850, durante o sistema escravista. Crédito: Divulgação

Padrinhos e afilhados

De acordo com o estudo, é possível perceber que a maioria dos padrinhos eram proprietários dos africanos trazidos à região no período. No entanto, não era comum os senhores batizarem seus próprios trabalhadores.

“Vimos padrinhos e madrinhas de outras escravarias apadrinhando escravizados adultos. É possível identificar uma teia social formada entre esses indivíduos, com laços construídos fora dos limites geográficos de seus locais de trabalho”, destaca Karen. Em outros casos, os padrinhos eram pessoas negras, mas sem registro dos senhores. Por isso, não é possível identificar se eram da mesma colônia que o batizado.

A historiadora também destaca situações em que um escravizado foi padrinho de mais de um indivíduo. Isso demonstra que, por indicação dos senhores, havia pessoas mais requisitadas para a função, muitas vezes, como uma maneira de apaziguamento com recém-chegados.

A pesquisadora explica que a constituição de laços de parentesco com um liberto significava muito para quem estava na escravidão, porque era a possibilidade de terem vantagens sociais em um cotidiano marcado pelos status sociais. Em uma situação de liberdade ou no cativeiro, o afilhado poderia receber a proteção e conselhos de um padrinho que conhecia o mundo, além de uma rede de pessoas favorável à ele.

O trabalho também mostrou que os laços de compadrio podem ser pensados como conquista de espaços de autonomia e estratégias por parte dos escravizados, brechas que foram criadas dentro de um sistema opressor, a partir de uma formalidade cristã.

“Vejo isso como alianças, fortalecimento e até estratégia, porque essas pessoas ajudavam umas às outras. Uma forma de resistência ao sistema. Temos um legado histórico cultural africano na região a partir delas”. Karen entende que os resultados servem para dar continuidade a pesquisas que buscam entender o passado escravista na região.

Formação territorial de Taquari em 1849, parte do trabalho publicado. Crédito:

 

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