Vigilância constata pelo menos seis vírus em circulação no Vale

SAÚDE

Vigilância constata pelo menos seis vírus em circulação no Vale

As infecções respiratórias estão mais agressivas neste ano com mais presença do VSR, causador das bronquiolites, mais grave em crianças. Lajeado concentra 70% das internações da região

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Atualizado sábado,
27 de Maio de 2023 às 12:42

Vigilância constata pelo menos seis vírus em circulação no Vale
Foto: Filipe Faleiro / arquivo
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A circulação de vírus típicos de inverno começou mais cedo. Conforme a Vigilância Epidemiológica do Estado, o mapeamento de pacientes com Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) mostra contágios desde outubro passado.

No Vale do Taquari, houve um aumento significativo de bronquiolites a partir de março. A doença, causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é a principal causa de internações entre crianças.

A coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Lajeado, Juliana Demarchi, frisa que foram constatadas a presença de pelo menos seis vírus em circulação no município. Quatro por transmissão entre pessoas (são: VSR, covid, influenza A e B). Os outros dois tem como vetor o mosquito Aedes aegypti (dengue e chikungunya).

Pelo acompanhamento da Secretaria de Saúde de Lajeado, no ano houve 215 internações devido ao agravamento de problemas respiratórios. Deste total, 62 são causadas por bronquiolites, a maioria crianças. Destas hospitalizações, dez foram nas últimas 48 horas (entre terça e quinta-feira).

“Fizemos contato com o Estado para entender como está essa realidade. Pelas análises, o vírus causador dessas bronquiolites está mais intenso neste ano. Ainda não sabemos os motivos. Pode ser uma mudança mesmo com relação ao agente transmissor, de ter vindo de forma mais intensa, ou pelo fato do avanço nos exames, com tecnologias de identificação da doença.”

Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) mostram que já houve 587 hospitalizações só pelo vírus VSR e cinco óbitos. Destes números, 94,9% das internações foram de crianças até 9 anos. O avanço nas contaminações iniciou a partir da primeira quinzena de março, diz a secretaria.

Nos diagnósticos laboratoriais, a rede de saúde identifica em uma mesma amostra a presença de mais de um vírus. Das cinco mortes, além das bronquiolites, os pacientes tinham outra infecção causada por influenza e também covid. Em nota, a SES informa: “é difícil apontar qual desencadeou o óbito. Houve uma codetecção. Isso eleva o risco de morte, em especial nas crianças”. Até o momento não existe vacina para o VSR.

Hospitalizações no Vale chegam a 307

Dados da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde observa a prevalência de síndromes respiratórias graves com a presença da Influenza A (H1N1). No ano, são 307 internações em hospitais locais. “A maioria dos casos são entre crianças e idosos”, diz a coordenadora Rafaela Fagundes.

De acordo com ela, as notificações de pacientes que avançaram para quadros graves começou a aumentar em abril. “São cerca de 30 novos casos por semana. Reiteramos a recomendação para que os municípios intensifiquem as ações de vacinação contra a Influenza e também contra a covid.”


ENTREVISTA – João Paulo Weiand • médico pediatra

“A vacina da gripe é a melhor prevenção”

A Hora – Há um aumento no número de contágios por vírus respiratórios. Qual o motivo?

João Paulo Weiand – Houve uma mudança de padrão após a pandemia. Talvez pelo próprio isolamento. Observamos que os vírus chegaram mais cedo, já em março havia vários tipos com contágios confirmados.

Hoje, o principal é o vírus sincicial respiratório (VSR), que causa a bronquiolite. Ele chegou mais cedo e está atacando principalmente bebês. Inclusive está muito agressivo neste ano e provocando casos graves. Isso tem causado superlotação, especialmente nas UTIs pediátrica e Neonatal.

Houve um aumento de 40% nos casos de bronquiolite viral adulta, resultando em 587 internações e cinco mortes no RS em 2023. Em 94% das internações foram em crianças menores, até os nove anos.

– A Vigilância Epidemiológica alerta pelo menos quatro tipos de vírus respiratórios em circulação, e duas são de influenza. As gripes estão mais fortes mesmo? São novas cepas?

Weiand – Estamos tendo bastante casos devido à baixa vacinação contra a Influenza. Se as pessoas tivessem sido vacinadas quando iniciou a campanha, não teríamos esse surto com internações e casos graves. Além disso, vemos os vírus A e B circulando. Eles tem causado quadros de febre, dor no corpo e tosse. O curioso é que os pacientes, tanto crianças quanto adultos, tem relatado muita dor muscular, o que impossibilita muitos inclusive de caminhar, de fazer qualquer atividade simples. Deixando os pacientes muito debilitados.

– A rede está preparada para essa elevação de demanda?

Weiand – No ano passado já tivemos hospitais e emergências com alta lotação. É provável que tenhamos um 2023 com aumento percentual na comparação com o ano passado. Em cima disso, há mais necessidade por leitos de UTI Pediátrica e Neonatal, pois é nas crianças que essas doenças são mais graves. Porém, houve uma redução no número de leitos, devido a desativação após a pandemia. Isso tem causado falta de vagas para internação.

– Quando esse alto contágio vai passar? Como se prevenir?

Weiand – Essa onda vai passar. Assim como os vírus chegaram mais cedo, esperamos que eles terminem mais cedo. Mesmo assim, a vacina da gripe é a melhor prevenção. É segura e não há motivo para ter medo.

No caso de bebês, a amamentação é importante, assim como cumprir as vacinas do calendário. Também deve-se evitar exposição excessiva, deixar de ir em festas e aglomerações. Também é recomendado avaliar bem a possibilidade de adiar o início da creche. Se a família puder, é melhor neste momento.

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