A sacralização  da inovação e  a tradição

Opinião

Carlos Cyrne

Carlos Cyrne

Professor da Univates

Assuntos e temas do cotidiano

A sacralização da inovação e a tradição

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Tenho participado de um grupo de pesquisa que tem se dedicado a compreender o sentido de “identidade cooperativa ou identidade do cooperativismo”, liderado pela Dra. Júlia Barden, e com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins, do Instituto Federal do Pará e da Escola Superior do Cooperativismo de Porto Alegre (Escoop). Neste projeto, financiado pelo CNPq e pela Fapergs, temos nos dedicado a identificar o que ocorre quando as organizações cooperativas se afastam de seus princípios e passam a atuar de acordo com as regras do mercado.

As organizações modernas enfrentam constantemente o desafio de equilibrar a busca pela inovação e a preservação de seus valores e princípios. Sabe-se que a inovação é peça fundamental para a sobrevivência e crescimento das empresas em um ambiente competitivo e dinâmico. No entanto, é importante lembrar que tradição não pode ser esquecida (lembrem-se dos movimentos de reengenharia dos anos 1990).

Há necessidade de ver as duas variáveis como complementares, sem a sacralização de uma em detrimento de outra. Se por um lado a inovação permite que as organizações se adaptem às mudanças, ou mesmo as provoquem, criando vantagens comparativas e competitivas, por meio do desenvolvimento de novas soluções impulsionando o crescimento econômico, por si só não se mostra suficiente para garantir a continuidade das organizações.

É essencial que as organizações preservem seu propósito, seus valores e princípios. A tradição representa a base da identidade de uma organização; se refere as práticas estabelecidas ao longo do tempo (tá bom, eu sei: o que te trouxe até aqui….) e moldam a cultura organizacional e guia o comportamento das pessoas.

A tradição fornece estabilidade, consistência e um senso de propósito que é condição indispensável para que se consiga aceitar o risco de inovar. Recentemente temos observado a sociedade testemunhar uma crescente sacralização da inovação, onde a ênfase é colocada sobre a busca incessante do novo esquecendo-se de que a tradição pode ser uma fonte de sabedoria. Talvez o maior desafio seja formar a tradição de inovar.

No caso específico das cooperativas é possível constatar que há um profundo desconhecimento dos princípios do cooperativismo entre parte dos integrantes da cooperativa, o que pode levar a um distanciamento do verdadeiro fim social das cooperativas, consciente ou inconscientemente, podendo fazer com que se pareçam cada vez mais com organizações capitalistas que moldam suas ações as pressões do mercado.

As cooperativas se desnaturalizam. O mundo das cooperativas está passando por um momento de crise de identidade e será necessário inovar para superar o desafio, porém não se deve esquecer dos princípios do cooperativismo, é isso que as distingue das demais empresas. Inovar sim, mas sem esquecer de quem se é.

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