Conferência trata direitos dos povos de terreiro

LAJEADO

Conferência trata direitos dos povos de terreiro

Primeiro evento municipal sobre a temática ocorreu ontem, com debate sobre políticas públicas de proteção e visibilidade às religiões de matriz africana

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Atualizado sexta-feira,
28 de Abril de 2023 às 08:30

Conferência trata direitos dos povos de terreiro
Encontro foi marcado pela discussão de políticas para garantir os direitos dos Povos de Terreiros. Crédito: Bibiana Faleiro
Lajeado

Vestimentas que carregam histórias, danças que partilham o culto às religiões de matriz africana. É assim que a comunidade resgata a ancestralidade. Apesar da falta de visibilidade, os direitos desses grupos religiosos já são protegidos por lei e, nessa quinta-feira, 27, foram tema da 1ª Conferência Municipal de Povo de Terreiro de Lajeado. O encontro na Associação Atlética da cidade reuniu lideranças municipais, assim como o presidente do Conselho de Povo de Terreiro do estado, Valmir Ferreira Martins, o “Baba Diba Iyemonjá”.

De acordo com o líder religioso, esta é uma preparação para a segunda conferência estadual. A primeira ocorreu em 2014 e a ideia é que, agora, seja feita a cada dois anos. Assim como Lajeado, outros municípios do Vale também organizam o encontro pela primeira vez.

“É um momento histórico de exercício da cidadania. É quando a gente propõe políticas públicas e as monitora a favor de quem tem consigo legados civilizatórios de um povo que veio da África e viveu até aqui na invisibilidade política e social”, destaca.

Ainda falta respeito e visibilidade

Mãe Heloísa d’Oxum é uma das representantes dos Povos de Terreiro de Lajeado, dona do terreiro Reino de Oxum. De acordo com ela, existem cerca de cinco grupos formados pela religião de matriz africana no município, mas ainda há poucos dados sobre a temática.

“Nós queremos potencializar a nossa caminhada e vamos enfrentando a intolerância como sempre fizemos. Existe sim aqui uma diferença no tratamento das religiões de matriz africana”.

A líder religiosa observa a importância da conferência para a reivindicação de direitos e necessidades e afirma combater o preconceito todos os dias. “Esse tabu já é quebrado por mim, Mãe Heloísa, eu me empodero e é isso que a gente tem que passar para os nossos seguidores”, defende.

O tema da conferência foi “Direitos Humanos, Democracia e Descolonização: Contribuições da Tradição de Matriz Africana Afro-Umbandista, desdobrando os respectivos eixos temáticos”, e foi apresentado por Gilberto Soares, que compartilhou sua trajetória de mais de 60 anos contra o racismo e o preconceito.

Eixos em debate

Organizada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), a conferência abordou três eixos principais. Entre eles, a Justiça Civilizatória. Também foram abordados temas de autodeclaração, representatividade e diálogos inter-religiosos como estratégia para combater a intolerância religiosa.

O segundo eixo colocou em evidência as políticas públicas para áreas como saúde, educação, segurança, economia e lazer. Já o terceiro eixo de discussão foi a tradição de matriz africana e afro-umbandista frente à democracia, assim como o debate de valores e perspectivas para a descolonização, com ações que buscam romper com a dominação de uma cultura sobre os povos colonizados.

“Todas as conferências têm o objetivo de pensar esse avanço das políticas públicas. A temática é nova aqui e aparecem demandas para os terreiros de Lajeado”, destaca a Secretária Municipal de Desenvolvimento Social, Céci Maria Rodrigues Gerlach.

O evento também contou com a aprovação do seu regimento interno, definição de propostas e eleição de Camila da Silva Marques e Daniele Pimentel, como delegadas que representam o município na 2ª Conferência Estadual de Povos de Terreiro, agendada para os dias 1 e 2 de julho de 2023, em Porto Alegre.

Propostas elencadas

• Criação de Comissão da Sociedade Civil para encaminhar processo de construção do Conselho Municipal do Povo de Terreiro;

• Trabalhar nas escolas a formação de professores, durante as jornadas pedagógicas, para prepará-los para abordar com os estudantes as pautas de religiões de matriz africana;

• Formação dos trabalhadores da área da saúde a respeito das tradições de matriz africana, bem como os agentes de segurança pública para abordagens mais humanizadas;

• Projeto de Lei para implementar um dia específico municipal para comemorar a tradição dos povos de matriz africana, bem como adesão ao feriado do dia 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá, para que os cidadãos possam expressar sua fé sem prejuízo a suas atividades profissionais;

• Incentivar nas escolas a cultura de matriz africana por meio de oficinas culturais, como capoeira, confecção de abayomis, penteado afro, entre outras.

• Busca ativa para inclusão das famílias de Povo de Terreiro no Cadastro Único.

• Ações para maior aproximação, enquanto comunidade, do quilombo, com vistas a promover pertencimento e reconhecimento, assim como estimular a interação e intercâmbio entre os quilombos do município;

• Incremento no transporte público com a oferta de mais itinerários das áreas periféricas da cidade.

Presidente do Conselho de Povo de Terreiro do estado, Baba Diba Iyemonjá participou da conferência. Crédito: Bibiana Faleiro

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