Um século de vida

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Um século de vida

Alemã sobrevivente da Segunda Guerra Mundial completou 100 anos nessa quarta, 26. Na casa em que vive há mais de 50 anos, em Lajeado, Frau Reeps guarda memórias da vida entre o Brasil e o país natal

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Atualizado quinta-feira,
27 de Abril de 2023 às 13:12

Um século de vida
Aos 100 anos, Frau Reeps recorda das vivências da Alemanha e da vida que construiu em Lajeado. Crédito: Bibiana Faleiro
Lajeado

A mesa posta para o chá reservava xícaras para a família e alguns amigos de Lottelore Luise Berta Rosemarie Reeps, conhecida como Frau Reeps. Nessa quarta-feira, 26, ela completou 100 anos e o ambiente escolhido para a festa foi a biblioteca da residência, que contém dezenas de livros em alemão, trazidos da cidade onde nasceu, Silésia, hoje território da Rússia.

Frau Reeps veio ao Brasil com o marido em 1949, em um navio antigo da Primeira Guerra Mundial e, desde lá, fez de Lajeado sua casa. Ela conta que conheceu o marido na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.

Trabalhava como voluntária em um santuário que ajudava feridos na guerra. Ele era um dos combatentes machucados. “A gente se conheceu e se prometeu um ao outro”, lembra. Mas, antes de começarem a vida juntos, ele foi trabalhar em outra cidade e ela pedalou por dias à procura dele.

A história do casal deu vida a dois filhos. A mais velha nasceu na Alemanha e veio ao Brasil com os pais com cerca de 4 anos. A vinda foi para ficarem próximos da família dele e foi aqui que construíram uma indústria de móveis conhecida ainda hoje, a Móveis Reeps.

Novos ares na América

Quando chegaram, Frau Reeps lembra que a casa deles era uma das primeiras do bairro Florestal. O terreno era circundado por uma plantação de mandioca e a água utilizada vinha de um riacho logo à frente da residência.

Naquela época, só havia famílias alemãs pela redondeza e um único comércio de descendentes de árabes. Frau Reeps até sabe algumas palavras em português, mas nunca teve real necessidade de aprender, mesmo depois de 70 anos. Além disso, queria que os filhos aprendessem a língua materna e não perdessem a cultura natal.

Em terras brasileiras, ela não viu tantas diferenças da Alemanha. “Lá precisa trabalhar, aqui precisa trabalhar, lá precisa de dinheiro, aqui precisa de dinheiro, então tem que ter vontade”, comenta. Ela só sentia falta das planícies que acumulavam neve no inverno e dos lagos congelados que serviam de pista de esqui. Ela esquiava, e também era nadadora olímpica, competindo pelo país natal.

Pela região, Frau Reeps conheceu algumas águas também e nadou pelos rios. Mas não era a mesma coisa, em especial, pela sujeira.

O casal também participava do Rotary Club de Lajeado e, pela ligação com a Alemanha, facilitaram a vinda de recursos do governo alemão para auxiliar mais de 70 meninas em situação de vulnerabilidade em Lajeado.

100 anos de histórias

Aos 100 anos, quando Frau Reeps é questionada sobre como completar um século de vida com energia, ela tem uma resposta pronta: “Eu também gostaria de saber”, e sorri. Mas garante ter levado uma vida saudável, sempre com alimentos naturais.

Ela e o marido também costumavam caminhar de pés descalços no orvalho da manhã e ela sempre gostou dos esportes. Hoje, ela passa os dias na residência e garante que sempre há uma ou outra coisa para fazer.

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