A divergência entre CCR Viasul e a terceirizada responsável pelas obras de infraestrutura na BR-386 chegou ao fim. Na manhã de ontem, a concessionária confirmou o fim da parceria. A retomada dos trabalhos depende da contratação de uma nova prestadora de serviços.
Pela previsão da operadora dos pedágios, o recomeço da duplicação entre Marques de Souza e Lajeado, bem como da ampliação da pista até Estrela, será feito nas primeiras semanas de maio. Por enquanto, o nome da empreiteira em negociação é mantido em sigilo.
As obras no trecho de 20 quilômetros foram suspensos em 12 de abril. Antes disso, ainda em março, houve uma redução considerável no número de operários mobilizados para os serviços. Os motivos do desacordo entre as empresas não foram divulgados. Por meio de informações extraoficiais, os desacertos teriam ligação com valores do contrato, qualidade e adição de serviços. Tanto que CCR Viasul manteve a posição de que o acordo estava em reavaliação.
Nos últimos dias, técnicos da concessionária faziam vistorias em locais da instalação da nova pista, entre Marques de Souza e Lajeado. Eles avaliavam a dimensão das obras, acabamentos, instalação dos pontos para drenagem de água e outros aspectos.
Conforme a CCR Viasul, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) foi informada sobre a interrupção das obras, inclusive mantém conversas para revisar o prazo de liberação do trânsito no trecho duplicado.
Sem a entrega da obra na data definida, que se encerra em julho, a concessionária poderá ser multada ou mesmo ter de reduzir a pedágio. A ANTT pode evitar a punição caso aceite rever o cronograma. Essa decisão perpassa o detalhamento sobre as intervenções feitas até então, argumentos sobre os motivos para rescisão do contrato, e plano de retomada da obra.
São 20 quilômetros de novas pistas. Deste total, 14 foram concluídos. A ampliação da capacidade da BR-386 começou em junho de 2021. A CCR Viasul venceu o leilão para gerir as BRs 386, 101, 290 e 448 em novembro de 2018. O contrato faz parte do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e a empresa terá de investir mais de R$ 7,8 bilhões durante os 30 anos de concessão.
Drama social
Mais de 100 funcionários da Eurovias foram demitidos nas últimas semanas. Entre os trabalhadores desligados, uma sensação de insegurança. “Estamos aguardando para receber a rescisão. Já passou mais de dez dias, e ainda não tive informação de como vai ser”, diz um operário nordestino que prefere não se identificar.
Um grupo de profissionais que está morando em Lajeado também relatam preocupação. “Todo o dia falo com a minha mulher que está lá no Norte. Mando dinheiro todo mês para ajudar. Agora não sei como vou ficar. Estou parado aqui e nem sei como vou conseguir voltar para casa. Se for preciso, vou sair pedindo ajuda pelas ruas”, diz outro homem que atuava na duplicação.
Outro operário, esse da região do Vale do Rio Pardo, encaminhou a rescisão de contrato e se prepara para retornar à cidade de origem. “Não sabemos o que levou a suspensão das obras. Mas tenho de dizer, sempre recebi em dia, a empresa é séria, pagou tudo direitinho. Fizemos um acordo por que preciso voltar para perto da minha família.”
A reportagem entrou em contato com a Eurovias para saber sobre as relações de trabalho com os operários. A empresa optou por não se manifestar neste momento, apenas afirmou que atua de maneira interna para solucionar qualquer impasse com funcionários ou ex-funcionários.
O acompanhamento dessa situação é feito pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no RS (Siticepot). O representante dos trabalhadores avalia o quadro e estuda ingressar com um pedido de liminar para bloquear valores tanto da Eurovias quanto da CCR Viasul caso os ex-funcionários não sejam ressarcidos.
Reunião com a ANTT
Uma comitiva de Marques de Souza, composta pelo prefeito, Fábio Mertz, o vice, Lairton Heineck, equipe de engenharia e assessoria jurídica se reúne hoje com a superintendência da Região Sul da ANTT.
O encontro ocorre hoje, às 14h, em Florianópolis. O grupo local reivindica melhorias no projeto de duplicação na área urbana do município, em especial para adaptação no trevo de acesso e para o asfaltamento de vias paralelas à rodovia.
Cronograma da duplicação
O contrato firmado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estabelece melhorias na infraestrutura. Ao todo, serão seis etapas:
1º trecho:
Marques de Souza a Lajeado
20 km
Prazo: início em 2021 entrega no primeiro semestre de 2023
2º trecho
Soledade a Fontoura Xavier
25,6 km
Prazo: 2023 até 2024
3º Trecho
Soledade a Tio Hugo
30,5 km
Prazo: 2024 até 2025
4º Trecho
Marques de Souza a Fontoura Xavier
54,9 km
Prazo: 2026 até 2028
5º Trecho
Tio Hugo a Carazinho
34,6 km
Prazo: 2029 até 2030
6º Trecho
Lajeado a Tabaí
Trecho já duplicado.
Haverá adaptações para aumento na capacidade de fluxo
59,3 km
Prazo: 2034 até 2036