Contra o medo, escolas promovem cultura da paz

DIA ESPECIAL

Contra o medo, escolas promovem cultura da paz

Como antídoto às mensagens agressivas, de ameaças e de ódio, professores, alunos e famílias dedicam dia para defender as instituições de ensino e espalhar otimismo após episódios traumáticos

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Atualizado quinta-feira,
20 de Abril de 2023 às 08:28

Contra o medo, escolas promovem cultura da paz
Escolas promovem o Dia do Bem como forma de combater a violência e a sensação de insegurança criada na internet. Crédito: Filipe Faleiro
Vale do Taquari

Reconstruir os laços de confiança, afastar o pânico disseminado em grupos extremistas na internet e combater a violência a partir de ações propositivas. Esse 20 de abril se torna uma resposta às ameaças contra escolas.

Pela região, direções, professores, alunos e pais se unem para espalhar positividade e bons exemplos. Tanto na rede pública quanto na particular, as ideias vão no mesmo sentido. Na escola estadual Irmã Branca, em Lajeado, a semana foi de programações neste sentido.

De acordo com a diretora, Carla Mafalda Ranzi, a estratégia da instituição foi de dar uma resposta ao medo crescente disseminado pela internet. “Os alunos estão muito conectados. Sentimos que isso estava afetando eles. Nossa ideia foi de mostrar o oposto, mostrar que as escolas são locais para acolher, para conversar e ter experiências positivas.”

As atividades envolveram momentos de debate, de escuta, de fala e de reflexão. Os alunos também fizeram bandanas brancas com a palavra paz e fizeram um abraço coletivo na escola. Hoje o ato será o “amigo secreto do bem”. Cada turma terá um momento para trocar mensagens positivas entre os alunos. “Eles foram convidados a trazer algo para homenagear. Pode ser uma carta, qualquer coisa que simbolize amizade, respeito e empatia”, conta a vice-diretora Juliana Pothin.

“A escola é lugar de afeto, de convívio, aceitar as diferenças. Para muitos alunos, é inclusive mais seguro do que a própria casa deles. Não podemos mostrar fraqueza, pois seria tirar essa base deles”, realça a orientadora educacional, Carolina Schneider.

O colégio Irmã Branca atende em todos os níveis do Ensino Fundamental, com aulas no turno da manhã e tarde. São cerca de 450 alunos matriculados.
Na rede estadual, a 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) destaca que as instituições tem autonomia para promover atos de pacificação neste 20 de abril, afim de restaurar o ambiente de paz nas escolas. As atividades envolvem círculos de paz, rodas de conversa, atividades e dinâmicas de integração, de expressão artística e outras.

Paz e gratidão

A comunidade da escola de Ensino Médio Santa Clara promove hoje o “Dia da Gratidão”. Alunos, professores e funcionários foram convidados a vestirem roupas brancas para simbolizar a paz. Segundo a diretora, Janine da Costa, todas as turmas vão fazer cartões e trocar mensagens de amizade. Às 11h e às 16h, todos se reunirão no pátio para soltar balões.

“Os professores estão trabalhando questões relacionadas ao bullying e combate a violência. Incentivamos os alunos e famílias não acreditarem em boatos e a procurarem a escola para verificar informações. Não podemos nos render ao medo”, frisa a diretora. A escola conta com 598 alunos, 40 professores e 11 funcionários.

No maior colégio público da região, o Castelo Branco, em Lajeado, as ações perpassam momentos de debate e programação na rádio escola. Conforme a professora coordenadora do projeto, Vilma Carrasco Lemos, comunicadores foram convidados para mandarem mensagens e as redes sociais mantidas pelo grêmio estudantil também terá publicações especiais.

Escuta ativa e entendimento

Na rede privada, o Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat) amplia o programa círculos de paz. A iniciativa em vigor desde 2020 era oferecida para alunos e funcionários. A partir de hoje será levadas às famílias.

Serão dez organizações, com a possibilidade de receber até 200 pessoas. Os momentos de escuta voltadas aos pais vai até julho, conta o diretor, Rodrigo Ulrich. “Precisamos sair do whatsApp, das mensagens nos grupos e falar pessoalmente. Entender o sentimento das famílias, dos professores e dos alunos neste momento.”

Junto com isso, ressalta o fortalecimento do programa de Desenvolvimento das Competências Socioemocionais. Para o diretor, entender os sentimentos, falar sobre eles, é um exercício fundamental para criar laços de confiança no ambiente escolar.

“Ninguém aprende na ameaça”

Doutora em Letras, professora da Univates, Kári Forneck, destaca duas ações necessárias para reestabelecer a sensação de segurança nas escolas. De curto prazo, medidas efetivas de vigilância, patrulhas ostensivas e cuidado sobre o acesso às instituições. Essas respostas, na análise dela, já estão em curso. “Essa é apenas a ponta do iceberg. É preciso mergulhar mais fundo para entender o problema.”

Neste aspecto, apresenta a segunda medida. “É preciso investir em educação para escuta e engajar as famílias nesse debate para trazer aquilo que está submerso na identidade dos jovens”. Para a professora, é necessário mobilizar todas as instâncias sociais e públicas para resolver esse problema grave e sério de medo nos ambientes escolares. “É preciso engajamento em um projeto de pacificação e, principalmente, de escuta da juventude.”

Para isso, alguns paradigmas precisam ser quebrados. Como a ideia de que família educa e escola ensina, diz Kari. “Os colégios não existem apenas para ensinar conteúdos. São locais de debate e que são responsáveis por construir a identidade dos alunos. É importante aprender a ouvir e escutar alguém que discorde de sua opinião. Isso vai além do ensino corriqueiro de um conteúdo programático.”

Para ela, a vida escolar em meio ao medo não funciona. “Ninguém aprende na ameaça. É preciso agir agora para garantir um ambiente seguro e acolhedor nas escolas.”

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