Livro resgata história  de médico italiano pioneiro em Anta Gorda

O LEÃO DA CALÁBRIA

Livro resgata história de médico italiano pioneiro em Anta Gorda

Escrita por Nilson Luiz May, obra recorda episódio de 1923. Revoltas, tiroteios e incêndios que atingiram hospital e forçaram saída de profissional da cidade

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Livro resgata história  de médico italiano pioneiro em Anta Gorda
Inauguração do Hospital São Carlos, em Anta Gorda, em 1921. No alto, ao centro, o Dr. De Patta e a esposa. Crédito: fotos Arquivo
Anta Gorda

Na noite de Sexta-feira Santa, em 30 de março de 1923, há exatos 100 anos, o hospital da cidade era consumido pelo fogo. No térreo do casarão de dois pisos em madeira, os poucos pacientes foram retirados às pressas. Os moradores incendiaram o edifício como forma de expulsar o médico italiano Michele De Patta que trazia, além de novidades, disputa com os curandeiros do município.

O “caso de Anta Gorda”, como ficou conhecido, ainda é comentado como uma espécie de lenda e, hoje, ganha as 298 páginas do livro “O Leão da Calábria”, do médico e escritor Nilson Luiz May. O santa-cruzense trabalhou grande parte da vida no Vale e, entre as histórias que ouvia, estava a do médico italiano.

Mesmo depois de se mudar para a capital, ele recordava o episódio e, já tendo romances publicados pelo estado, quis contar uma história real. “Ouvi falar que teria tido um caso de quase guerra no interior, um médico italiano da região de Calábria na década de 1920 e aconteceram muitos fatos, inclusive mortes, em uma briga grande no municípo”, conta.

Dr Michele De Patta e a esposa Ersília, em Porto Alegre, no ano de 1923.

Apesar de semelhante ao relato original, a obra traz uma narrativa fictícia, uma releitura do ocorrido. Lançado em dezembro, o livro teve uma nova sessão de autógrafos em março e um lançamento em Anta Gorda está previsto para este ano. A obra pode ser adquirida no site da Scriptum Produções Culturais.

Anos depois

De Patta morreu em 13 de julho de 1946, vítima de um infarto. A neta, Rita Pillar Kessler, não conheceu o avô, mas conta que as histórias de Anta Gorda foram compartilhadas ao longo das gerações.

Os relatos também estão no diário “Leoni di Calabria in Terra Riograndense” (Leões da Calábria em terras rio-grandenses), escrito pelo médico e traduzido pela filha, Igéia Lúcia De Patta Pillar, que também publicou o livro “Da Calábria ao Brasil: A história de um Médico Italiano”. Além disso, pesquisas da médica Leonor Schwartsmann contam a trajetória de De Patta.

“Essa era a história da família, um assunto muito profundo, sofrido. Eles contavam que minha avó nunca voltou à Anta Gorda”. A família ficou feliz com a publicação de May. “Meu avô quis, a vida toda, mostrar que ele não foi esse criminoso, mas um homem de bem”.


O Leão da Calábria

Michele De Patta chegou ao Brasil em 1920 e logo se estabeleceu em Anta Gorda. O médico trouxe à cidade novas práticas de medicina e era considerado um revolucionário. Entre os feitos, construiu o Hospital São Carlos, em 1921. Apesar de ser bem falado entre os pacientes e trazer especialidades como a cirurgia ao município, a novidade incomodou. Em especial, o curandeiro da cidade, o padre e o intendente.

O desagrado das lideranças com o médico gerou desconfiança na comunidade, até que foi intimado a abandonar Anta Gorda em 48 horas. Sem ter cometido qualquer crime, De Patta não queria sair da cidade e decidiu se defender.

O início do episódio se deu em 28 de março de 1923, com uma passeata liderada pelo padre, pelo intendente e pelo curandeiro, em frente ao hospital e, na manhã de Sexta-feira Santa, os protestos deram lugar a um tiroteio. O ato terminou com fogo, depois do primeiro andar do casarão ser tomado por querosene. Toda a família sobreviveu e no Sábado de Aleluia, acordaram com o térreo destruído e a certeza de deixar a cidade para trás.

A obra de Nilson Luiz May pode ser adquirida no site da Scriptum Produções Culturais. Crédito: Divulgação

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