Por que o Grupo A Hora desnudou o caso Languiru

EDITORIAL

Por que o Grupo A Hora desnudou o caso Languiru

"Semana que vem, os associados decidem o seu futuro. Se aceitam a única opção da diretoria ou ainda resistem para salvar seu modelo cooperativista do qual tanto se orgulham há décadas"

Por que o Grupo A Hora desnudou o caso Languiru
Foto: Divulgação
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

As consequências sociais e econômicas, o iminente abalo na reputação do modelo cooperativista e o simbolismo da entrega de uma cooperativa às multinacionais moveram nossa atuação jornalística.

Quando a antiga Coopave faliu, a região inteira perdeu. À imprensa, na época, restou o sentimento de mea culpa – ainda que disfarçada – por não ter mostrado o colapso em tempo.

O resultado foi desastroso por décadas. Algumas famílias foram arrasadas, algumas nunca se recuperaram. Muitos morreram pobres e endividados. Alguns poucos espertos saíram por cima.

Agora, no caso da Languiru, ainda daria tempo para evitar o pior. Embora, o sentimento é o de que esperamos demais, outra vez. Desnudar a inconsistência da gestão na Languiru, suas falhas e seus equívocos, chega atrasado.

A Hora cochilou e permitiu que o modelo nada cooperativista do atual presidente Dirceu Bayer fosse levado a cabo, destituindo conselho fiscal e expulsando associados. A imprensa “acordou” tarde, inclusive, o A Hora.

As coisas na Languiru foram longe demais. Hoje, a empresa vive à beira do colapso. Endividada e sem dinheiro no caixa para pagar fornecedores, precisa de cifras milionárias para continuar. E o sinal não é recente. Apenas vem sendo maquiado pelos discursos e anúncios megalomaníacos de seu mandatário que se perdeu na estratégia e, por fim, sucumbiu na própria fantasia.

Para a atual diretoria da Languiru, os chineses são os “salvadores da pátria”. Alguns acham que se vão os anéis, mas ficam os dedos. Ledo engano. A Languiru estará nas mãos dos franceses (nos lácteos) e chineses (na ração e proteína animal). E os associados estão no pacote.

Em 2017, houve uma ebulição no quadro social da Languiru. O Conselho Fiscal se rebelou contra os números e apontou falhas. A maioria dos associados não quis acreditar. Preferiu o discurso sedutor do presidente que prometia uma Languiru grande e forte. O sedento sistema centralizador ganhava força e foi avalizado em assembleias comemorativas com os associados e a imprensa, regados a churrasco e shows. Um verdadeiro pão e circo.

O real motivo das assembleias ficava em segundo plano. Os associados discutiam mais o sabor do assado, e esqueciam de olhar os números e o alerta dos fiscais. Em menos de cinco anos o caos foi inevitável. Os balanços já não produziam a mágica de uma Languiru robusta e sólida. Os bancos se retraíram e os fundos caros passaram a ser uma opção.

Veio a pandemia, seguida da crise no setor de aves e suínos que, somadas à falta de uma estratégia sólida, embretaram a maior cooperativa do Vale do Taquari, tornando-a presa fácil. Semana que vem, os associados decidem o futuro da organização. Se aceitam a única opção da diretoria ou ainda resistem para salvar seu modelo cooperativista do qual tanto se orgulham há décadas.

A Hora estará lá, para testemunhar e registrar a história, sem filtros, apesar da censura já sofrida esta semana. Afinal, um veículo de comunicação tem compromisso com a verdade.

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