“Nossa missão é romper o ciclo de violência”

ABRE ASPAS

“Nossa missão é romper o ciclo de violência”

Magda Rigo é assistente social formada há 30 anos. Atua no Centro de Referência em Atendimento à Mulher (Cram) de Lajeado. Começou a trabalhar no atendimento de mulheres vítimas de violência em 1994. Foi uma das idealizadoras da Casa de Passagem. No Dia da Mulher, Magda acredita que a sociedade evolui e amplia a vigilância para coibir agressões e abusos contra elas.

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“Nossa missão é romper o ciclo de violência”
(Foto: Filipe Faleiro)

A maioria das ligações para o 190 são de denúncias sobre violência doméstica. Quais os motivos para Lajeado ter índices tão grandes?

Tem relação com uma série de comportamentos, passados por gerações. De uma sociedade machista, de uma educação patriarcal. A ideia de que a mulher tem que suportar, tem que aguentar, de que ela tem que dar conta daquilo.

Como é ajudar a mulher nesse processo de ruptura de um círculo de violência?

Começa por acolher. Conversar, muita escuta e jamais julgar. Muitas mulheres chegam aqui em busca de ajuda e carregam consigo um sentimento de culpa. Como se elas fossem as responsáveis por aquela relação não ter dado certo. Temos de desmistificar isso. Elas não têm culpa do término. Muitas ainda carregam consigo o que viveram com as avós, as mães, de que elas passaram por casamentos abusivos e que ela também tem de passar por isso. E não. Não é assim, não tem que ser assim.

Hoje, sem dúvida, vivemos uma transformação. Os vizinhos avisam quando uma mulher é vítima de agressão pelo marido. Temos uma geração que não aceita mais essa violência.

De quando começou no serviço público até hoje, quais foram as principais mudanças?

Primeiro na legislação. A Lei Maria da Penha foi uma conquista às mulheres. Se ganhou em agilidade no encaminhamento legal, seja para medidas protetivas até prisão de agressores. Junto com isso, há uma maior conscientização das próprias mulheres. Se perdeu o medo de expor uma situação de abuso, de violência. Elas conhecem mais os seus direitos.

Nestes anos de experiência, quais episódios positivos mais te marcaram?

O principal é quando temos uma história de superação. De mulheres que chegaram aqui devastadas e dão a volta por cima. Lembro de uma que inclusive precisava de cesta básica para ela e para os filhos não passarem fome. Hoje ela é uma empresária bem-sucedida e, inclusive, ajuda outras pessoas em situação semelhante da qual passou.

Também daquelas que viveram muitos anos em relações abusivas, que sofreram muito e não acreditavam mais que poderiam viver felizes e em paz com um outro homem. E hoje estão em um casamento saudável, conseguiram romper o ciclo de violência. Perceberam que nem todos os homens são iguais.

Como esse trabalho de cuidar de outras mulheres impacta em ti?

Sou muito diferente. Sai de Lajeado para estudar em Porto Alegre com 18 anos. Para cursar Serviço Social. Tive de me desconstruir e mudar minha forma de ver o mundo. Imagina só, uma interiorana, em uma graduação que por si só te faz pensar. Em que se trabalha com políticas públicas, de pessoas em situações muito diferentes da minha. Precisei rever conceitos e pré-conceitos para poder atender a mulher como um todo, sem qualquer pré julgamento.

Graças a Deus vim de uma família estruturada, que me deu muito amor e carinho. Então preciso entender a outra mulher que não teve nada disso e, hoje, está tendo o reflexo de onde viveu. Nossa missão é romper o ciclo de violência.

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