De professora a prefeita: a trajetória de Carmen Regina

LUTO EM LAJEADO

De professora a prefeita: a trajetória de Carmen Regina

Com uma trajetória marcada por coragem e superação, a ex-política e educadora foi a primeira mulher a se aventurar pela política de Lajeado. Mais do que conquistas durante o governo, ela deixa um legado de carisma e se tornou um exemplo de mulher

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De professora a prefeita: a trajetória de Carmen Regina
Foto: Arquivo / Grupo A Hora
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Carmen Regina Pereira Cardoso, 79, foi uma mulher pioneira. A primeira vereadora, primeira presidente da Câmara de Vereadores e primeira – e única – prefeita de Lajeado. Filha do médico Thomaz de Assunção Pereira e da dona de casa Donatila Silveira, Dona Carmen, como costumava ser chamada, descobriu dentro da escola a vocação para a política.

Apesar de ter nascido em Cruzeiro do Sul, ninguém dizia que ela não era de Lajeado. Mudou-se para o município aos 25 anos com a família e ingressou no magistério do Colégio Madre Bárbara, onde se formou como professora de séries iniciais, história, geografia e moral e cívica. Foram 10 anos como diretora da Escola Estadual Fernandes Vieira.

Como professora do estado, era envolvida nas causas políticas e sempre buscava o melhor pela educação. Em entrevista à Rádio A Hora 102.9, em junho de 2022, ela contou que a solicitação para concorrer à vereadora surgiu enquanto ainda estava em sala de aula e a primeira campanha foi feita com a ajuda dos alunos e professores da escola.

Os “santinhos” eram impressos em mimeógrafos e, nas eleições de 1988, preencheu a última vaga do Legislativo. Com o tempo, ganhou o carinho da comunidade e foi reeleita por quatro mandatos, até chegar à presidência da Câmara de Vereadores e à prefeitura, por dois governos a partir de 2005, pelo Partido Progressista (PP).

Em uma terra em que, à época, predominava a cultura alemã, Carmen Regina era uma mulher que não falava alemão no governo. O início foi difícil. Mas o carisma e a bondade com que tratava as pessoas fez com que ganhasse votos por toda a cidade.

Quando saiu da prefeitura, em 2012, foi incentivada a se candidatar à deputada estadual, cargo que, com quase 70 anos, decidiu não concorrer. Ela brincava que a senhora havia saído da política, mas a política não tinha saído da senhora.

Parceira política e amiga pessoal

Quem convidou Carmen Regina para participar do Legislativo foi o ex-prefeito Erni Ilmo Petry, 76, que governou o município em meados de 1980. “Dali surgiu nossa amizade. Nós dependíamos dela, que era uma professora estadual”, conta.

De acordo com Petry, a ex-política era convicta em suas opiniões e sempre tinha exigências para a educação, área que se dedicou, também, enquanto prefeita, inclusive, com a criação de creches durante seu mandato.
Carmen Regina era bem recebida pelo povo e gostava de se envolver nas demandas da comunidade. Como colega de trabalho, era decidida, mas também bem humorada. “Um dia fiz uma brincadeira com ela e sobrou pra mim. Ela disse, só porque tu é homem, não posso fazer igual?”, conta Petry.

Mais do que parceiros na política, os dois eram amigos. O ex-político conta que a praia era destino certo de Carmen Regina todo verão. “Ela tinha prometido me visitar quando voltasse. É uma perda muito sentida”.

“Me elegi com a saia na mão”

O ex-vereador Waldir Sérgio Gisch também lembra do período em que atuou com Carmen Regina na política. Ele conta que foi convidado a ser Secretário da Agricultura do governo da ex-prefeita e também Líder de Governo na gestão. Mas, antes disso, presenciou o trabalho dela como vereadora.

“Carmen Regina se elegeu vereadora que nem eu, a última colocada. Ela sempre dizia ‘me elegi com a saia na mão’. Ela ocupou seus espaços, foi líder, participou principalmente da educação”, conta. Gisch relata que ela enxergava os colegas mesmo fora da política, também na rua, em festas e almoços. “Quando menos se esperava, a Carmen estava do lado para conversar, trocar ideia, ver como estavam as coisas”, recorda.

Amigos por todos os lados

Ao longo do período em que atuou como prefeita, Carmen Regina criou a Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer, da qual Isidoro Fornari era secretário. Mais tarde, ele também foi Secretário de Governo do mandato. “Nesse período, conheci ela mais de perto. Tive a honra de participar de algumas atividades. Tinha um envolvimento muito humanizado com a comunidade”.

Fornari diz que ela era sensível às necessidade do povo e muito participativa. Além disso, dava muito valor à sua família e à família dos amigos. “Ela sempre será lembrada pela dedicação e cuidado com o bem público, e com a valorização do ser humano”. Quem a conhecia concorda que Carmen Regina era querida por todos e, por onde passava, fazia amigos.

“Um exemplo de mulher”

Aos 79 anos, ela deixa quatro filhos, Fabíola, Solon, Álvaro e Melissa, e seis netos. Um dos sobrinhos, Thomaz Lopes, conta que a mãe dele, Marta Pereira Lopes e Carmen moravam em apartamentos diferentes, mas no mesmo prédio em Lajeado. Além de irmãs, tinham uma relação de amigas, e davam suporte uma para a outra.

“A tia era de uma personalidade muito forte. A caminhada dela mostra isso. Ela sabia o que queria. Foi um exemplo de mulher e era uma tia muito querida”, salienta.

Pela dedicação e destaque na história de Lajeado, os vereadores do município entregaram o título honorífico de “Cidadão Lajeadense” para Carmen Regina em 19 de julho do ano passado, uma de suas últimas homenagens.

 

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