“Eu tinha medo de não ser bem recebida. Mas foi muito legal”

INSPIRAÇÃO

“Eu tinha medo de não ser bem recebida. Mas foi muito legal”

Aos 61 anos, Salete Giovanella é caloura do curso de medicina da Univates e tira um antigo sonho do Papel. Com o apoio dos filhos, resgatou o objetivo de se formar e atuar como médica de família em postos de saúde do interior

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“Eu tinha medo de não ser bem recebida. Mas foi muito legal”
Desde criança, o sonho de Salete, 61, era cursar medicina. Depois de 40 anos em Porto Alegre, ela volta ao Vale do Taquari como universitária (Foto: Bibiana Faleiro)

O chimarrão faz parte da rotina de estudos de Salete Giovanella. Depois das aulas na Univates, ela chega em casa, toma café e volta aos livros de medicina. Aos 61 anos, é caloura na universidade e tira um antigo sonho do papel. Mais do que exercer a profissão, ser médica é, hoje, um objetivo pessoal.

Natural de Batovira, em Progresso, Salete passou 40 anos em Porto Alegre, até que a oportunidade de fazer a faculdade em Lajeado a trouxe para o Vale outra vez. E, apesar de saber da dificuldade do curso, seu maior medo não tinha relação com o estudo.

“Eu tinha medo de não ser bem recebida pelos colegas mais jovens. Mas foi muito legal”, conta. A relação com a juventude também faz com que ela aprenda sobre coisas novas, em especial, sobre as tecnologias, que Salete ainda não domina tão bem.

Sonho de menina

A estudante conta que o sonho veio da infância, quando ela, os irmãos e primos brincavam de ser médicos. O pai trazia balas coloridas que ela guardava para dar aos “pacientes”, conforme a dor que sentiam durante a brincadeira.

Ela já tinha passado por Lajeado, quando fez a sétima série na cidade. Depois, foi para Porto Alegre, onde terminou os estudos e entrou para o curso de Biologia na PUCRS, sua segunda opção, depois da medicina.

No período, casou e engravidou da primeira filha. Então veio o filho, e, depois de se formar, os planos de estudar medicina foram substituídos pela necessidade de cuidar dos pequenos. Hoje, com os dois formados em direito, ela se permitiu resgatar aquele antigo sonho.

Apoio da família

Há cerca de dois anos, Salete comprou um cursinho online e decidiu voltar a estudar. Com mais de 30 anos fora da sala de aula, o início foi difícil. Mas ela tinha um objetivo maior. Depois de fazer o Enem em 2020, 2021 e 2022, e ter passado em algumas universidades privadas, decidiu que deste ano não passava: ou faria a faculdade, ou desistiria. Então foi aprovada na Univates. A mensalidade cabia no bolso da família, e ela aceitou.

A filha pagou a matrícula, o filho conseguiu a moradia no Share e, na quarta-feira, 22, ela chegou em Lajeado para o início do primeiro semestre. “Minha filha veio comigo e ficou até o fim da primeira semana. Ela ia pra aula comigo, me largava na faculdade e dizia ‘vim deixar minha criança. Eles me apoiam muito”, conta Salete.

Junto com a faculdade, ela ainda mantém o emprego em um abrigo para crianças onde atua há 20 anos em Porto Alegre. A ideia é que até o fim do ano ela esteja aposentada. Por enquanto, Salete precisa voltar para a capital no fim de semana para trabalhar.

Hoje, a estudante conta que o sonho de quando era menina ainda é o mesmo: ajudar as pessoas. Mas algumas coisas mudaram desde a primeira vez que tentou o vestibular. Se antes ela também se preocupava em ganhar dinheiro, hoje a medicina é uma realização pessoal.

Depois de formada, não quer fazer residência, mas atuar como médica de família em postos de saúde do interior. Salete sempre preferiu os ares dos municípios pequenos e garante que todos que passarem por ela serão bem atendidos, mesmo quem não puder pagar.

“Minha filha veio comigo e ficou até o fim da primeira semana. Ela ia pra aula comigo, me largava na faculdade e dizia ‘vim deixar minha criança’. Eles me apoiam muito”, Salete Giovanella, estudante de medicina.

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