Conversando  com os mestres

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Conversando com os mestres

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Durante um período de cinco anos a partir de 1907, Freud  e Jung trabalharam juntos. Na época, acreditava-se que Jung seria o único capaz de continuar o trabalho de Freud. No entanto, diferenças de pontos de vista e temperamento terminaram sua colaboração e, eventualmente, sua amizade. Em particular, Jung desafiou as crenças de Freud em torno da sexualidade como fundamento da neurose. Ele também discordou dos métodos de Freud, afirmando que seu trabalho era muito unilateral. Mas romper com Freud teve consequências para Jung. Freud fechou seu círculo íntimo para o jovem, e outros na comunidade psicanalítica também o evitavam.

Mesmo assim ele seguiu seu caminho e as idéias de Jung continuam a ressoar ainda hoje, em campos tão variados quanto arqueologia, religião, literatura e até mesmo cultura pop.

O senhor foi o discípulo dileto e depois o desafeto de Freud. Em que assunto vocês discordavam?

“Freud nunca se interrogou acerca do motivo pelo qual precisava falar continuamente sobre sexo, e por que esse pensamento a tal ponto se apoderara dele. Nunca percebeu que a ‘monotonia da interpretação’ traduzia uma fuga diante de si mesmo ou de outra parte de si que ele teria talvez que chamar de ‘mística’. Ora, sem reconhecer esse lado de sua personalidade, era-lhe impossível pôr-se em harmonia consigo mesmo.(…) Ele tornou-se vítima do único lado que podia identificar, e é por isso que o considero uma figura trágica: pois era um grande homem.”

E qual é a sua opinião sobre sexualidade?

“O conflito entre ética e sexualidade, em nossos dias, não é uma mera colisão entre instintos e moral, mas uma luta para justificar a presença de um instinto em nossas vidas e para reconhecer neste instinto um poder que procura sua expressão, e com o qual, manifestadamente, não se pode brincar. E é por isso também que esse instinto não quer se submeter às nossas bem-intencionadas leis. ”

Qual a causa, no mundo de hoje, de tanto sofrimento emocional e tanta procura por atendimento psicológico ou psiquiátrico?

“Tenho visto as pessoas tornarem-se frequentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficientes. Se elas conseguem condições para ampliar e desenvolver sua personalidade, sua neurose costuma desaparecer.”

Estamos nos tornando muito materialistas e pouco espirituais, seria isso?

“Não posso provar a você que Deus existe, mas meu trabalho provou empiricamente que o “padrão de Deus” existe em cada homem, e que esse padrão e a crença que ele desperta é a maior energia transformadora de que a vida é capaz de dispor ao indivíduo. Encontre esse padrão em você mesmo e a vida será transformada.”(…) “Não sei dizer como é um homem que desfrute de completa auto realização porque nunca vi nenhum. Antes de buscar a perfeição, devemos viver o homem comum, sem automutilação”(…) “Só que muitas pessoas vão fazer qualquer coisa, não importa o quão absurdo, para evitar olharem para suas próprias almas.”

Qual o objetivo do tratamento psicológico?

“O principal objetivo da Terapia Psicológica não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida acontece no equilíbrio entre a alegria e a dor. Quem não se arrisca para além da realidade jamais encontrará a verdade.”(…) Afinal, “O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o.”

Por que é tão difícil mudarmos nosso comportamento?

“Nós não podemos mudar nada sem que primeiro o aceitemos.”(…) Sendo assim, “o homem que não atravessa o inferno de suas paixões também não as supera.” (…) E finalmente: “Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos.”

 

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