Deputados por um mês

EXPERIÊNCIAS NA CÂMARA E ASSEMBLEIA

Deputados por um mês

Da suplência à improvável convocação. Sidnei Eckert e Márcia Scherer fazem a região novamente ter representação nos parlamentos. Prazo curto de mandato, começo de governos e recessos dificultam ações mais concretas, mas período serve para estabelecer relações com vistas ao desenvolvimento regional

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Deputados por um mês
Eckert teve agenda nesta semana com o governador em exercício e colega de partido, Gabriel Souza. Durante discussão sobre decreto federal em Brasília, Márcia aproveitou espaço para seu primeiro pronunciamento como deputada. Créditos: Joel Vargas/divulgação e Bruno Spada/divulgação
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

O resultado das urnas, em outubro, foi desfavorável a região no que diz respeito à representatividade nos legislativos. Sem deputados eleitos, o Vale dependerá de parlamentares identificados com outras localidades para pleitear demandas junto aos governos federal e estadual.

Ao mesmo tempo em que lamenta o vácuo de representação pelos próximos quatro anos, o Vale retoma – ao menos por um mês – o protagonismo nos legislativos. Suplentes na atual legislatura, Sidnei Eckert e Márcia Scherer foram convocados e exercem mandatos temporários.

Em comum, Eckert e Márcia são filiados ao MDB há décadas e têm Arroio do Meio como cidade natal. Neste período, ainda que curto, buscam construir pontes em prol do desenvolvimento da região. Os mandatos vão até 31 de janeiro, quando começam as novas legislaturas. Na Assembleia, o Vale não tinha um representante legítimo desde que Enio Bacci encerrou seu único mandato de deputado estadual, no começo de 2019. Ele também foi o último deputado federal com domicílio eleitoral na região. Foram cinco mandatos consecutivos entre 1995 e 2015.

Marcar  território

Eckert foi convocado para tomar posse na Assembleia no dia 11. Foi uma surpresa. Então oitavo suplente do MDB, aceitou prontamente o convite. “Nem me passava pela cabeça ser deputado. Estava com a agenda da semana cheia quando, às 11h, tocou o telefone. Às 16h10min do mesmo dia, tomava posse de forma virtual”, recorda.

O novo deputado assumiu o mandato no lugar de Juvir Costella, nomeado secretário de Logística e Transportes do RS. Manteve a equipe de gabinete do antecessor e, já nos primeiros dias, buscou audiências com representantes do alto escalão.

“Enquanto deputado, tenho acesso ao telefone particular de todos os secretários de estado. Procuro conhecer em cada secretaria qual o planejamento e as prioridades. Ter um contato mais próximo com os secretários e chefes de gabinete te tornam, de certa forma, mais conhecido”, ressalta.

Uma das audiências mediadas por Eckert discutiu dois temas sensíveis a Arroio do Meio: as obras na ERS-130 e a UTI do Hospital São José. “Conversei com o secretário de Parcerias (Pedro Capeluppi) e estamos agendando um encontro com a CIC regional, talvez ainda em janeiro ou começo de fevereiro. Nesses poucos dias, são várias coisas a serem resolvidas”.

Ciente do curto tempo, o parlamentar aproveita também o tempo para fortalecer relações e construir pontes para o futuro. “É o que dá para fazer. Não adianta querer dizer que vai trazer alguma coisa para a região. A vida nos apresenta oportunidades a todo momento, nas mais diversas situações. E quando surge uma oportunidade, temos que aproveitar da melhor forma possível”.

Colaborar com o Vale

Márcia era a terceira suplente da bancada do MDB gaúcho. A possibilidade de exercer o mandato se deu após Giovani Feltes, um dos deputados titulares, receber convite para atuar no alto escalão estadual. À frente dela, estavam Darcísio Perondi, que recusou o chamado, e Paulo Pólis, hoje prefeito de Erechim.

Feltes, que não se reelegeu em 2022, aceitou o convite de Leite e abriu caminho para a posse de Márcia na última semana de dezembro. A delegada aposentada afirmou que não esperava receber a oportunidade de legislar nesse período.

“O Feltes estava um pouco receoso em ir para a secretaria. Eu e o coordenador regional do MDB, Celso Cervi, dissemos a ele que seria um grande colaborador do governo por sua reconhecida competência. Então, ele lembrou que, se aceitasse, eu poderia ser deputada durante um mês. Aquilo foi uma grande surpresa para mim”, recorda.

Já nos primeiros dias, Márcia vivenciou uma situação delicada. Os atos antidemocráticos em Brasília, que resultaram na depredação da Praça dos Três Poderes, motivaram reação do Planalto, com o decreto de intervenção federal. Na Câmara, a votação foi simbólica. Márcia foi a favor.

A deputada permanecerá em Brasília até o fim do mês. Segundo Márcia, o simples fato de ser parlamentar por um mês lhe abriu portas que antes estavam fechadas. “Estou aproveitando bem essa oportunidade para fazer uma rede de contatos. E, na medida do possível, defender os interesses das pessoas da nossa região”.

Futuro  político

Sidnei Eckert não concorreu em 2022. Mas não descarta voltar à ativa nos próximos anos. Por ser ex-prefeito de Arroio do Meio por dois mandatos, seu nome é frequentemente citado como um possível candidato. “É natural que alguém que foi prefeito seja lembrado, mas essas coisas são discutidas e decididas dentro dos partidos”. Até lá, pode trabalhar em algum gabinete de deputado do MDB. “Devo continuar trabalhando em prol do Vale do Taquari”.

Márcia Scherer, por outro lado, vai esperar o retorno de Brasília para definir qual rumo tomar. Porém, admite que há chances de ingressar no governo estadual como cargo de confiança indicada pelo partido. “Estamos a disposição do governo para contribuir. Seria uma falta de responsabilidade da nossa parte não fazer isso. Tenho uma vida comunitária muito ativa e mais de 20 anos na segurança pública. Se for do interesse do Executivo, estamos prontas para colaborar”.


ENTREVISTA – Fredi Camargo • Cientista político

“Não podemos exigir deles nada mais do que representatividade simbólica”

O curto período de mandato dificulta a proposição de ações dos deputados do Vale, na avaliação de Camargo. Destaca, porém, o ganho para as trajetórias políticas de ambos.

A Hora: Com apenas um mês de mandato, o que os deputados podem construir de concreto?

Fredi Camargo: Em relação ao período, realmente não se espera muita coisa que eles possam executar, tendo em vista a necessidade de planejamento, respeito a trâmites e outras questões que a gestão pública exige. Logo, não podemos exigir deles nada mais do que a representatividade simbólica e abertura de contatos nas esferas que estão atuando.

AH: O quão benéfico para os dois é este período nos parlamentos?

Camargo: Para eles, obviamente, a questão é bem mais relevante, pois estão documentalmente eternizados na história política em relação à posse. Além disso, a legitimação do cargo por votos traz a ambos uma importância política dentro dos quadros partidários e de relevo dos nomes deles numa possível composição da gestão e também de ajustes para as próximas eleições.

AH: A região novamente não conseguiu emplacar representantes para a próxima legislatura. O que fica de lição para 2026?

Camargo: Enquanto partidos e lideranças não se conscientizarem de que uma representatividade não se cria da noite para o dia, e que não adianta os partidos não se ajustarem internamente para trabalhar para poucos, mas bons nomes, não teremos tão cedo essa representatividade. É uma questão de gestão partidária, que requer entendimento pragmático e menos passionalidade e vaidade. Se entenderam agora, talvez em 2026 tenhamos chances. Se não, a história se repetirá.

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