A língua da metida

Opinião

Jandiro Koch

Jandiro Koch

Escritor

Colunista do Caderno Você

A língua da metida

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Por sugestão de Laura Peixoto, Meire Brod e eu nos reunimos com Gabriela Leal, escritora nascida em Porto Alegre, que fixou residência no Vale do Taquari, em uma das últimas edições do Arte na Praça do ano passado. Era uma bela manhã de domingo em Lajeado.

Leal estava fazendo o lançamento local do livro de contos “A língua da Medusa”, publicado pela editora Zouk, da capital gaúcha. Àquela altura, eu estava encantado por “A bonequinha” e “Aquário”, que aparecem lá pela metade do livro. Não conseguia desligar das duas histórias.

Na primeira, Dona Lúcia e a filha Clarinha são costumeiras usuárias de transporte coletivo. Muitas vezes, estão no mesmo ônibus que a Louca da Boneca, uma moça gorda e baixa, de cabelos curtos, que os motoristas deixam entrar sem pagar. Nos braços, ela carrega uma boneca de plástico velha, que apresenta como sendo sua filha. O final é muito bem elaborado, com direito a um “plot twist”. A reviravolta inesperada acontece com Clarinha. Conclusão acrobática.

Já em “Aquário”, um menino que quer um cachorrinho de estimação é coadjuvante importante na narrativa de sufocamento vivido pela mãe, aparentemente uma dona de casa. Densidade com leveza. Tive a oportunidade, entre outras questões, de perguntar se havia alguma razão para a constância dos personagens infantis em seus textos.

Apesar de tratar de temas complexos, notei a frequência com que o faz pelo olhar de uma criança. A autora respondeu que é algo intencional. A perspectiva dos pequenos, ainda não tomada pelas visões de mundo dos mais velhos, permite trabalhar com tópicos de difícil abordagem com relativa desenvoltura.

Mas tem muito mais, são trinta e um contos em que entra em cena uma miríade de gente que, mesmo vestida, está desnuda. Destreza na escrita, léxico abundante – no ponto. Os temas são atualíssimos, talvez um tanto estranhos à literatura feita pela maioria no Vale do Taquari.

O estilo de prosa, as palavras empregadas como elas são e os posicionamentos – estes, também, durante o bate-papo no evento dominical – podem ter sido responsáveis por um curioso lapso na divulgação feita por um dos presentes, que tratou de compartilhar que havia comparecido ao lançamento de “A língua da metida”.

Contos curtos. Ótimos para pessoas que têm medo de começar a ler por algum calhamaço. Indicados para quem está sem muito tempo. Bons para aqueles que desaprenderam a ler com fôlego, acostumados às postagens de Twitter. Dica de leitura para as férias.

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