Pelos meandros da mente

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Pelos meandros da mente

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A felicidade como subproduto do consumo faz mal. Tom Jobim continua certo, a tristeza não tem fim, já o antônimo sim. Talvez essa letra icônica seja mesmo um jogo de semântica, de que a tristeza não tem finalidade, não tem porquê. E a felicidade sim. Para ela existe razão. Bom, depende de cada interpretação.

Os dias que correm são cheios de apelos. Os conceitos do que seria uma vida de sucesso passa pela aceitação – daquelas redes sociais cheia de seguidores, dos likes sobre fotos, do corpo sarado pelo crossfit – são uma clara prova da época narcisista da qual vivemos.

Mais vale a impressão causada no outro de que estamos felizes do que uma verdadeira paz de espírito, de plenitude entre o alcançado e o desejado. A felicidade passou a ser idealizada como se estivesse dentro de um enlatado. Siga o passo a passo, se mostre pleno(a) e seja feliz. Duvido muito dessa estética e também dos filtros do instagram.

Tenho a sensação de que a sociedade contemporânea exige uma negação da dor com a ideia de que isso nos fará feliz. Em cada observação deste sentido, lembro do Mestre Tatu Bolinha: “aprender a cair é mais importante do que aprender a bater.”

Acho que o mestre foi aluno de Schopenhauer. O filósofo alemão define a felicidade como “a satisfação sucessiva de todo o nosso querer”. A essência disso está na vontade de viver. Ainda assim, insistimos em maquiar a realidade. De almejar outras condições, como se isso garantisse a felicidade. Enfrentar a dor, as incertezas, cair, levantar e continuar em frente é o que nos faz verdadeiramente feliz. Toda conquista com esforço vale mais do que viver de ilusão.


Habilidades em transformação

Da década de 80 para os dias de hoje, o mundo do trabalho passou por mutações extremas. Nunca se imaginou tamanhas possibilidades. A tecnologia alterou o convívio humano em todos os aspectos. Dos relacionamentos pessoais aos afazeres profissionais; da forma de aprender e de ensinar; do esforço físico às condições psicológicas.

Neste caminho, as habilidades individuais também precisaram se desenvolver. Em um ambiente de avanço digital, antigas certezas passaram a ser lembranças do que não pode se repetir hoje. Como a ideia de dissociar o trabalhador das circunstâncias próprias.
De que é preciso deixar de lado as questões subjetivas, os problemas de casa, no momento em que passa a porta da empresa. A complexidade da mente humana é um inteiro. Impossível dividi-la, mas possível treiná-la.

Fácil falar, muito difícil de executar. Ainda assim, há ferramentas que contribuem, com resultados diretos no ânimo, nas sensações e até na conduta. Dos velhos conceitos, ficou para trás a ideia de que personalidade é algo intrínseco. A vida produtiva hoje exige equilíbrio.


A mente dos jovens

Preocupante o expressivo aumento no consumo de medicamentos voltados à ansiedade, hipnóticos e estimulantes por jovens dos 12 aos 17 anos. O diagnóstico do Vida+Viva mostra que 31,1% dos adolescentes relataram dificuldades para dormir. Preocupação e ansiedade além do normal para 58,9% e fadiga o tempo todo para 46,3%. Nestes percentuais sobre saúde mental, quase 30% afirmaram não ter prazer nas atividades do dia a dia.

Assim, mais do que dobrou o uso de fármacos para distúrbios emocionais. Em 2012, era de 8%. Na segunda edição (2017/18) passou para 11% e em 2022 chegou a 29,3%. Esses dados corroboram a pandemia de doenças psíquicas. Ela está em todas as faixas etárias. Passa muito pela forma com que nos relacionamos com o mundo. Da imersão digital, das transformações no trabalho e da ânsia de ser feliz. A vida não passa em uma timeline. Não é possível pular os momentos de tristeza como fazemos com os comerciais no youtube.

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