Vale do Taquari estava em êxtase no verão de 1969. Pela primeira vez na história, a região experimentava o ensino superior. É o que conta a professora Vanda Bergmann, de 81 anos. O vestibular foi em fevereiro e as aulas da primeira turma do Curso de Letras da Univates iniciaram em 14 de abril de 1969, em um grande salão do antigo Colégio São José, conhecido, hoje, como Castelinho.
Na época, a Univates atendia pelo nome de Apeaut (Associação Pró-Ensino Universitário no Alto Taquari) e não tinha sede própria. O curso era uma extensão da Universidade de Caxias do Sul (UCS), parceria consolidada pelo esforço do Padre Érico Schmitz.
No livro “APEUAT, Raízes do Ensino Superior” (1995), o historiador José Alfredo Schierholt conta que, em 1968, o religioso foi 25 vezes a Caxias do Sul para garantir a vinda da faculdade ao Vale. A aula magna foi mediada pelo então ministro da Educação, Tarso Dutra, que veio a Lajeado na ocasião.
Vanda lembra que mais de 115 alunos iniciaram o curso, mesmo quem não tinha interesse em Letras. “Era a única opção de ensino superior. Na nossa turma havia, inclusive, profissionais formados, como médicos, um joalheiro, até um pastor”, conta.
Hoje professora aposentada, Vanda recorda da confusão dos dias de prova. ”Era tanta gente, as classes ficavam coladas e os alunos passavam as respostas”. Na época, Vanda já atuava como docente, trabalhava manhã e tarde e estudava à noite. Essa era a realidade de muitos.
Outra professora e formanda da primeira turma, Marisa Hädrich, na época Jaeger, também de 81 anos, lembra que as aulas à noite desafiaram a região. “O ensino superior veio para tirar o Vale da zona de conforto. A maioria já trabalhava, tinha família e precisava se desdobrar para atender as aulas”.
A colação de grau
A formatura desses pioneiros ocorreu no dia 28 de dezembro de 1972, no antigo Cine Teatro Alvorada. Naquela noite, 48 formandos vestiram as togas e receberam os primeiros diplomas de ensino superior concedidos no Vale do Taquari. Marisa recorda da cerimônia com emoção. “Foi a única vez que vi um discurso de formatura ser em jogral”, destaca. Naquela noite, todos os formandos foram oradores. “Era uma turma muito unida’’.
Na cerimônia, o Padre Érico Schmitz foi o paraninfo e uma homenagem póstuma foi feita para Miriam de Menezes, uma das alunas, que havia falecido alguns meses antes, em 1972.
O reencontro 50 anos depois
Nesse sábado, 3, a turma de 1972 se reuniu na Univates para um reencontro histórico. Acompanhados de familiares, mais de 20 ex-alunos receberam uma homenagem da instituição no Teatro, seguido de um almoço de confraternização. Ari Scholz acompanhou a esposa Marilena no encontro.
Ela se formou com a turma de 1972 e ele chegou a frequentar as aulas também. “Fiquei um mês no Curso de Letras, mas vi que não era para mim. Quando abriu o Curso de Ciências Contábeis, em 1970, me formei com a primeira turma”, lembra.
Marisa também estava entre os presentes no sábado. Para ela, o Curso de Letras mudou a visão de mundo de todos os alunos. “Nos incentivou a sempre querer ir adiante”.
O discurso de formatura foi escrito por Osmar Agostini e proferido em jogral, onde todos os formandos foram oradores.
A Aula Magna do ensino superior no Vale foi promovida em 1969, no Castelinho, com a presença de Tarso Dutra, na época, ministro da Educação
CRÉDITOS: Centro de Memória, Documentação e Pesquisa da Univates
