Quando começou sua história como maquinista?
Gosto de trem desde pequeno. Com 4, 5 anos, estava dentro de locomotivas. Sou engenheiro eletricista e o trem era uma paixão. Sempre esteve no meu sangue e em 1993 tive a oportunidade de fundar a ABPF em Santa Catarina. De lá a gente conseguiu os primeiro vagões e locomotivas e então comecei a conduzir trens. Fiz curso de maquinista e conduzo até hoje. Fui aprendendo devagar. Meus filhos viviam comigo. Com 3, 4 anos, estavam nas locomotivas e aprenderam o ofício dentro do trem. Hoje ainda sou diretor da associação, mas atuo mais como conselheiro, são meus filhos que tocam.
Quais os maiores desafios de conduzir um trem?
Manter a velocidade correta. São metas na verdade. A velocidade é variável, cada quilômetro pode ser diferente. O trem é guiado pelos próprios trilhos, é só frear e acelerar. O peso do trem influi no tempo de resposta para a frenagem ou quando devemos acelerar. Mas isso já estamos acostumados. É como andar de bicicleta. A gente sai toda viagem satisfeitos em fazer tudo certo. É uma satisfação ter conduzido com segurança e chegar bem no destino.
Por onde já passou com as locomotivas? Tem algum local que destaca?
Já fomos até São Paulo, Santana do Livramento, Cascavel, Paranaguá, São Francisco do Sul. Tem muitas paisagens bonitas. Difícil escolher uma. Sempre tem uma montanha diferente, algum trecho, rios. Gosto do Rio Grande do Sul, dos Pampas, o caminho até Santa Maria, acho muito bonito. Aqui no sul tem casas e fazendas bonitas no meio do interior. Mas um dos lugares mais bonitos é o trecho entre Guaporé e Muçum.
Durante as viagens, vocês vivem no trem. Como é essa rotina?
Eu gosto, por isso venho. Não precisaria vir, mas é um verdadeiro amor por isso. A família às vezes trago junto, a esposa, os filhos. Os outros funcionários também trazem, e a gente reveza. A gente dorme no vagão, toma banho no vagão, faz as refeições.
Existe uma ideia de reativar os trilhos de Estrela, como está o projeto?
Já temos uma locomotiva a vapor para reativar os trilhos, mas precisamos de autorização para isso, estamos em tratativas. Da nossa parte já é uma certeza, queremos trazer uns vagões e deixar no Porto.
Você lembra de algum momento curioso nesses 30 anos de profissão?
São muitos. Mas uma coisa que é engraçada é que uma vez tinha um rebanho de gado do lado da linha ferroviária. O trem estava vindo e eles começaram a correr na frente, eram mais de 50 cabeças. A gente não podia avançar, tinha que ir devagar. Na frente tinha uma ponte cruzando um rio. Quando o gado chegou, tentou cruzar a ponte e começou a cair. Tivemos que parar o trem, pegar tábuas, puxar o gado. Aquilo levou muito tempo.