“Trouxemos um novo entendimento de urbanismo à região”

NEGÓCIOS EM PAUTA

“Trouxemos um novo entendimento de urbanismo à região”

Com três décadas de experiência no mercado imobiliário, José Paulo Richter dirige a Richter Gruppe

“Trouxemos um novo entendimento de urbanismo à região”
Empresário se inspirou em conceitos de urbanismo conhecidos durante dois intercâmbios na Alemanha. Crédito: Thiago Maurique

A história de José Paulo Richter na construção civil começa do outro lado do oceano. Ele fazia intercâmbio na Alemanha quando recebeu visita de Pedro Althaus, pioneiro do setor em Lajeado, e recebeu o convite para trabalhar na área. Um ano depois, criou a Morar Bem, sua primeira empresa no setor, para a qual se dedicou por quase duas décadas.

A ligação com o país germânico, que inclui um momento inusitado com o ex-presidente alemão, Richard von Weizsäcker, inspirou a criação da Richter Gruppe. A empresa, que completa dez anos em 2023, trouxe para o Vale do Taquari conceitos urbanísticos encontrados nas cidades inteligentes do país europeu, e agora prepara expansão para outras regiões do país.


ENTREVISTA

– Qual foi a base para a sua vocação empreendedora?

José Paulo Richter – Nasci em Canudos do Vale, que na época pertencia a Lajeado. Meu pai, Waldemar Richter, foi professor e diretor da escola e, paralelo a isso, começou muito cedo na política. Na infância tínhamos o exemplo de um pai líder que sempre trazia novidades para a escola, e muito arrojado. Na primeira vez que ele se candidatou, não tinha carro, por isso sempre se esforçou muito para atingir seus objetivos. A minha base é familiar, de enxergar os passos do meu pai como professor, diretor e visionário. Também da minha mãe, uma mulher que assumiu a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos, além de muito envolvida na comunidade.

– De que forma o estudo contribuiu para essa trajetória?

Richter – Fiz o ensino fundamental na escola da então localidade de Canudos, onde meu pai era diretor. Por isso, eu e meus três irmãos precisávamos ser o exemplo. Tínhamos que ser muito responsáveis desde novos. Como morávamos a 36 quilômetros do Centro de Lajeado, com 15 anos decidi vir para a cidade. Morei em uma pensão e logo fui atrás de trabalho.

Meu primeiro emprego foi em um escritório de contabilidade. Eu trabalhava durante o dia, no horário do almoço era garçom em um restaurante, onde ganhava a refeição, e de noite estudava no Castelinho. Aos fins de semana, quando voltávamos para casa, trabalhava de cobrador de ônibus. Na volta para Lajeado, de auxiliar de cobrador. Ajudava a colocar as bagagens no porta-malas, para ganhar as passagens. Depois de me formar, tive a oportunidade de fazer um intercâmbio

– Como foi essa experiência?

Richter – Morei por um ano na Alemanha, aos 18 anos, em 1990. Meu irmão mais velho fazia intercâmbio na época e meu pai queria que nós conhecêssemos a Alemanha, país para onde ele havia viajado em 1986. Foi um desprendimento muito grande porque naquele tempo o lugar mais longe que eu conhecia era Porto Alegre, e fui para lá para buscar meu visto. Até então, minha vida era o Vale do Taquari. A viagem foi muito longa, durou quase dois dias.

A comunicação era via carta, porque tínhamos uma central de telefone em Canudos, mas era complicado e muito caro. Morei em uma casa de família no vilarejo de Mussenhausen, cerca de 100 quilômetros de Munique. Trabalhava com a família e estudava alemão. Para matar a saudade de casa, me envolvi bastante na comunidade. Participei de grupo de dança, orquestra, associação de tiro ao alvo e um time de futebol. Também tive uma conexão muito forte com a família com a qual estava.

– Quando você voltou para o Vale do Taquari?

Richter – Voltei para Lajeado no ano do centenário de emancipação da cidade. Me envolvi nessas comemorações, junto com o meu pai, que era o coordenador dos festejos. Como estive em grupos de dança na Alemanha, fui convidado a trabalhar na Secretaria de Cultura, onde desenvolvemos um trabalho voltado para a cultura alemã. Na época, formamos 24 grupos de danças folclóricas, com 400 integrantes. Também mantinha uma coluna no Jornal Informativo denominada Deutsche Sprache (língua alemã), veiculada todos os sábados. Então, recebi o convite do Instituto Goethe, para fazer um curso de idioma alemão na cidade de Schwäbisch Hall. Quando retornei para a Alemanha, vivi um momento muito pitoresco.

– Que momento foi esse?

Richter – Na época, o presidente da Alemanha era o Richard von Weizsäcker. Ele esteve na cidade em um fim de semana e as pessoas da família que me hospedava sugeriram que eu fosse assistir o evento. É uma cidade medieval de 400 mil habitantes, muito bonita, que parou para receber o presidente. Eu estava no meio do público e ele veio até perto de mim. Eu o abordei, disse que era do Brasil e pedi para fazer uma foto. Ele aceitou de bom grado. A pessoa fez uma foto e no mesmo momento deu o barulho de rebobinar o filme, então eu não sabia se havia dado certo. Na segunda-feira, voltei para a escola e contei a história para a professora. Ela chamou o diretor, que chamou um repórter do jornal. Passei o dia com o pessoal do jornal que fez uma matéria sobre o encontro. Depois, por muitos anos continuei me comunicando e trocando livros com o presidente por correspondência. No fim, a foto deu certo.

– Quando você ingressou no ramo da construção civil?

Richter – Durante esse intercâmbio, recebi a visita do Pedrinho Althaus. Ele me perguntou o que iria fazer ao voltar para o Brasil e eu disse que não sabia. Então, me convidou para trabalhar com ele. Hoje, o mercado imobiliário de Lajeado se desenvolveu muito e quase todos os que ingressaram no negócio antigamente passaram pela Althaus.

Fiquei apenas um ano na empresa, mas foi muito marcante porque tive a oportunidade de trabalhar com alguém que tinha uma habilidade extraordinária de fazer negócio. Tenho muito carinho pelo Pedrinho até hoje. Saí para ingressar em uma outra empresa, a Morar Bem onde fiquei sócio por vinte anos.

– Como foi esse início no empreendedorismo?

Richter – Tínhamos um objetivo, foco no trabalho que precisava ser feio para alcançar esse resultado, e a experiência fomos adquirindo ao longo do tempo. Enfrentamos todas as dificuldades inerentes ao início de um negócio, mas meu cartão de visitas foi o meu pai.

A abertura das portas se dava quando eu dizia ser filho do Waldemar Richter, pelo trabalho visionário que ele desenvolveu como secretário de cultura em Lajeado e prefeito em Forquetinha. O negócio foi se desenvolvemos e entendemos que havia espaço para empreender e desenvolver loteamentos. Passado esses quase 20 anos, fundamos a Richter Gruppe.

– Quais as características que diferenciam as duas empresas?

Richter – Quando partimos para a Richter Gruppe, trouxemos um novo entendimento de urbanismo à região, com muitas coisas que eu vi na Alemanha sobre como as cidades eram desenvolvidas. Uma cidade próxima de onde eu estava era Ottobeuren, uma cidade com mais de 1500 anos de história, cujo centro inspira os nossos empreendimentos, por causa da conexão de pessoas, ciclistas e carros, tudo no mesmo espaço.

Hoje, quase dez anos depois, a Richter Gruppe é uma empresa consolidada, que sempre trás aos seus empreendimentos soluções que visam melhorar a vida das pessoas e muito conectada com os conceitos de cidades inteligentes.

– Quando você começou a se envolver em entidades e projetos sociais?

Richter – Na década de 1990 fui convidado a participar do Rotaract à convite do Deoli Graeff, onde fui presidente. Participei da gincana da Câmara Júnior (JCI), onde ficamos campeões como a equipe Rotaract/CCAA/Slam e doamos todo o prêmio para a Slan. Depois fui convidado para participar da JCI, onde tive a felicidade de dirigir o projeto Musivale, em 1995, em uma das maiores Expovales da história. Tivemos muitas bandas inscritas, do Estado inteiro, das quais escolhemos 16 bandas.

A banda campeã ganhou um carro zero km e naquele evento tivemos as bandas Barbarella e Estúdio no mesmo palco. Hoje, dentro da Richter Gruppe temos vários projetos sociais como a cidade consciente e o craque solidário, que une o futebol com o lado social em benefício da Apae. Por meio do craque solidário, conseguimos trazer o Zico para Lajeado.

Em 1993, foto com o ex-presidente da Alemanha, Richard von Weizsäcker, virou matéria de jornal no país europeu. Crédito: Arquivo Pessoal

– O futebol exerce papel importante para a Richter Gruppe?

Richte integra o Craque Solidário, em benefício da Apae. Em 2017, o projeto trouxe o Zico para Lajeado. Crédito: Arquivo Pessoal

Richter – É importante pela causa social, mas também como negócio. Nesta minha caminhada tive uma inserção junto a uma empresa que trabalhava com o futebol na Alemanha. Por um período fui convidado para um projeto de trazer essa empresa para o Brasil. Começou assim um envolvimento muito grande com os atletas e veio a oportunidade de prestar assessoramento aos jogadores.

Temos um braço do nosso negócio para isso, com parceiros que trabalham especificamente nessa área e podemos gradativamente aumentar esse trabalho. Hoje assessoramos dois atletas profissionais, um que joga no futebol árabe e outro é goleiro da base do Chapecoense.

– Como você projeta o futuro da Richter Gruppe?

Richter – Moramos em uma região de muito potencial. Empreendemos no Vale porque acreditamos na região. Hoje, nossos empreendimentos estão muito voltados aos conceitos de cidades inteligentes e de melhorar a vida das pessoas, por isso temos espaço aberto para expandir. Hoje nossa empresa está preparada para empreender em outros lugares.

O Urban Center e o 386 Business Park são únicos no Brasil e tem potencial de escala gigante. Estamos preparados para buscar novos lugares, até porque o 386 Business Park nos deu muita visibilidade e hoje somos procurados por empresários que enxergam esse potencial e querem fazer empreendimentos semelhantes em suas cidades.

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