Atenção e sensibilidade no Presídio Feminino

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Atenção e sensibilidade no Presídio Feminino

Com foco na segurança pública e melhora na vida de mulheres privadas de liberdade, o Projeto Marias completa cinco anos de ação dentro do Presídio Feminino

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Atenção e sensibilidade no Presídio Feminino
Uma das atividades é a confecção de peças artesanais que podem ser vendidas. Créditos: Bibiana Faleiro
Lajeado

Dança, poesia, teatro, artes e yoga. Ações como essas ocorrem todas as sextas-feiras, há cinco anos, dentro do Presídio Estadual Feminino de Lajeado Miguel Alcides Feldens. A iniciativa é do Projeto Marias Corpo e Linguagem na Instituição Prisional, desenvolvido pela Univates.

Cerca de 10 voluntários dos cursos de diferentes cursos participam das atividades. Conforme a coordenadora, professora Silvane Fensterseifer Isse, a atividade busca contribuir para a humanização, socialização, e qualificação das relações interpessoais das mulheres privadas de liberdade.

“Algumas mulheres têm dificuldade de comunicação e têm uma imagem de si que não é tão interessante, se acham incapazes, acham que não sabem fazer as coisas, que algumas coisas não são para elas”, conta a professora.

Essas percepções são levadas ao planejamento e capacitação da equipe e voluntários, que ocorre uma vez por mês, também nas sextas. Para a professora, o Marias também contribui para a segurança pública. “Essas pessoas que passaram um tempo privadas de liberdade e depois voltam com novas perspectivas, acreditando que há outras possibilidades, porque houve um empoderamento”, salienta.

O Projeto Marias Corpo e Linguagem na Instituição Prisional é uma iniciativa da Univates. Crédito: Divulgação/Univates

O início

O projeto começou em 2017, como um dos eixos do projeto de extensão Veredas da Linguagem. Naquele ano, o Presídio Feminino passava pelo processo de instalação da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A sugestão de que a Univates organizasse trabalhos no presídio partiu da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (Cre) de Estrela. No início, as atividades ocorriam a cada 15 dias. No ano seguinte, as ações passaram a ser semanais.

“Em 2019, houve uma reestruturação na extensão da Univates e a partir de então passamos a ser um projeto independente”, lembra a professora. Ela explica que o Marias busca ser interdisciplinar e, por isso, estudantes de todos os cursos podem participar.

Acolhimento de todas as áreas

Todas as atividades tem o mesmo objetivo: desenvolver espaços para fala e comunicação. “O que a gente quer é que nossa presença lá tenha sentido para as mulheres. Isso é importante para formar vínculos e relações de confiança, e às vezes demora um pouco”, aponta Silvane.

Uma das oficinas é ministrada pela professora de dança Bibiana Fensterseifer, que participa do projeto desde 2018. Assim que soube das ações, teve interesse em participar, mas só conseguiu se dedicar às atividades depois de terminar a graduação em Educação Física.

Para ela, a melhor parte do voluntariado é desenvolver as atividades que deseja, sem precisar ter relação com seu trabalho. “Um arquiteto pode desenvolver atividades na sua área, mas também pode apenas estar lá dentro pra dar um abraço, ser acolhimento, ser escuta”, destaca.

Outra voluntária é a estagiária de arquitetura, Amanda Zerbieli Nicaretta, que passou a integrar o projeto em 2019. A motivação para participar foi a vontade de estar junto em uma ação para mulheres com diferentes áreas em um só espaço.

Com o passar do tempo, as atividades se tornaram cada vez mais importantes para ela. “O Marias é um projeto difícil de falar, por ser tão complexo, sensível e vivo. Ele está sempre em constante mudança e evolução tanto para as voluntárias quanto para as Marias”, afirma.

Trabalho revertido em renda

Entre as atividades, também está a confecção de peças em crochê. Desde bolsas, toucas e chapéus, todo o trabalho é manual, feito pelas mulheres privadas de liberdade. As encomendas podem ser feitas com as administradoras do presídio, e o valor da venda de cada produto vai para as participantes do projeto.

Uma delas já conhecia as técnicas do crochê e consegue confeccionar as peças mesmo sem os exemplos no papel. “Já temos prática. Aí a gente vende as coisas que consegue ajudar até a nossa família que está lá fora”, comenta.

Para a administradora do Presídio Feminino, Rita de Cássia Donini Antocheviz, as atividades só trouxeram benefícios. “O projeto representa um papel fundamental na promoção de empatia e humanização com as mulheres privadas de liberdade”, destaca.

Crédito: Bibiana Faleiro

Histórias em livro

Um dos produtos que o Marias já gerou foi um livro, publicado em forma de e-book. Na obra, intitulada “estão registrados alguns desenhos, poemas e fotografias feitas pelas mulheres apenadas e transformadas em história pelas voluntárias.

Algumas usaram seu nome real e outras preferiram usar pseudônimos, profissionais do presídio ajudaram a produzir o material que inclui também textos das voluntárias e um artigo produzido pela professora, em conjunto com Bibiana.

Quando foi lançado o orçamento dava conta apenas de uma publicação em e-book. A ideia, agora, é publicá-lo em material físico para que o material chegue em diferentes presídios do país. Para isso, o grupo busca parceiros para arrecadar o valor necessário.

Outras iniciativas

1 • CAMPO GRANDE: resgate da autoestima e a transformação do pensamento para o futuro já foram temas de palestras motivacionais para as mulheres privadas de liberdade, inclusive, com curso profissionalizante de corte e escova.

2 • ALAGOAS: as mulheres desenvolvem atividades como o trabalho em oficinas de pintura em tecido, biscuit, corte e costura, entre outras atividades.

3 • RIO DE JANEIRO: a Associação Elas Existem- Mulheres Encarceradas, desenvolve o projeto “LER”, com oficinas de leituras, discussão de livros selecionados, resenhas críticas e relatórios de leitura, encaminhamento de avaliações e relatórios e acompanhamento das remissões.

4 • CEARÁ: quatro projetos do Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Fortaleza promovem o desenvolvimento emocional, educacional e profissional de internas, a fim de garantir uma integração harmônica à sociedade.

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