Formação diferenciada para qualificar a saúde do Vale

DIA DO MÉDICO

Formação diferenciada para qualificar a saúde do Vale

Na data comemorada em todo o país nesta terça-feira, 18, a região celebra o desenvolvimento no setor da saúde, impulsionado pelo curso de Medicina da Univates. Qualificação de clínicas e formação de novos profissionais estão entre os movimentos para consolidar o Vale como referência na área médica

Formação diferenciada para qualificar a saúde do Vale
Apesar das diferenças entre as gerações, a estudante Talita Valente e o médico Ernany Bender compartilham o mesmo apreço pela medicina e refletem as mudanças na área ao longo dos anos. Crédito: Júlia Amaral
Vale do Taquari

Ser referência em saúde é um objetivo antigo da região. Para isso, iniciativas públicas e privadas desenvolvem estratégias para melhorar os serviços prestados e, junto às universidades, buscam formar médicos capacitados e com diferenciais.

Desde 2014, o curso de medicina da Univates é responsável por capacitar mais de 200 profissionais. Seis turmas já foram formadas, e 519 alunos estão matriculados hoje. Se no fim da década de 80 a capital era o destino dos estudantes, hoje, o movimento é favorável ao interior. Muitos alunos de fora da cidade vêm ao município para estudar e optam pelos trabalhos na região.

Coordenador do curso de medicina da universidade, Luciano Nunes Duro percebe boas oportunidades para os recém-formados, além da busca por qualificação da saúde em Lajeado e municípios vizinhos, inclusive, com programas federais. As iniciativas possibilitam a abertura de novas escolas com currículos formadores de médicos com perfis comunitários e condições ideais de infraestrutura.

Dentro da instituição, Duro cita disciplinas de empreendedorismo destinadas à formação de profissionais mais completos. “O médico do amanhã tem que estar preparado para isso. A ideia da região é justamente essa, complementar a formação do médico já dando o suporte para que, após a formatura, ele esteja introduzido na área, em locais estruturados”, destaca.

Além do Centro Clínico, a Unidade Básica de Saúde Universidade foi criada em 2019, e permite a prática para a formação profissional dos alunos. Crédito: Divulgação

A primeira formatura

Depois de cinco anos da criação do curso, a primeira turma de médicos foi formada pela Univates em 2019. Os 19 profissionais, hoje, estão concluindo as residências, e outros já atuam como educadores do curso de medicina.

Agora, novos estudantes se preparam para a formatura. Entre eles, Talita Benato Valente, 23. Natural de Veranópolis, ela deixou a cidade natal em 2017 para estudar na Univates, e conclui o curso no ano que vem.

Durante os semestres, ela diz ter aprendido a se adequar a muitas situações. “Dentro da área da saúde participamos de momentos muito felizes, como o nascimento de um bebê e a notícia da cura de uma doença, mas também estamos presentes nos momentos de dificuldade, quando pessoas recebem um diagnóstico ou quando perdemos o nosso paciente”, destaca.

Com o diploma em mãos, Talita planeja buscar especialização fora do Vale, em cirurgia ou pediatria. “Ainda assim, não descarto a possibilidade de retornar e marcar Lajeado definitivamente como meu lar”, garante.

Mais médicos para a saúde regional

A data da primeira formatura se tornou um marco para a universidade. Além disso, possibilitou que novas parcerias fossem firmadas entre a instituição e os serviços de saúde do município.

Em 2019, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Lajeado ganhou reforços com a parceria entre o Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Únicos de Saúde (Proadi-SUS) e a Univates, com a administração municipal, por meio da gestão compartilhada da unidade.

“Desta forma estabelece-se uma relação onde a comunidade recebe um atendimento diferenciado no que tange à qualidade e a Univates tem a oportunidade de transferir o conhecimento acadêmico para prática do dia a dia”, destaca a coordenadora da UPA, Ursula Jacobs. Hoje, a unidade atende cerca de 8,5 mil pessoas por mês na urgência e emergência.

Na prática

Outra iniciativa que aproxima os estudantes da comunidade é a criação do Centro Clínico da Univates, em 2016, que já possibilitou a prática da profissão a mais de 450 estudantes de medicina.

Em média, são 250 atendimentos semanais, entre consultas especializadas, de enfermeiro e farmacêutico, exames e procedimentos. Hoje, 250 estudantes passam pelo ambulatório para as aulas práticas.

Conforme a coordenadora do local, Marcele Wagner Brandelli, os estudantes ingressam no Centro Clínico a partir do quarto semestre e participam dos atendimentos aos pacientes em 17 especialidades, desde cardiologia, até oftalmologia e psiquiatria.

Além do trabalho em equipe com os profissionais de outras áreas, os acadêmicos também aprendem com médicos experientes. Para Marcele, a comunidade também ganha. “Além de ter atendimento com profissionais qualificados, a possibilidade de resolver questões de saúde na própria região, sem necessidade de se deslocar a Porto Alegre é um grande benefício”, destaca.

Mais tarde, em 2019, também foi criada a Unidade Básica de Saúde Universidade. De acordo com a coordenadora administrativa, Fabiane Maria Datsch, o objetivo do serviço também é permitir a prática para a formação profissional dos alunos, com atendimentos da atenção primária a pacientes do SUS, com apoio a outras unidades do município.

Mudanças e desafios

Coordenador do curso de medicina, Duro acredita que o aumento das vagas para cursos de medicina trouxeram benefícios para a comunidade, mas, por outro lado, dificuldades aos profissionais. Isso porque a competitividade exige médicos cada vez mais qualificados e, em muitos casos, vagas em locais com falta de estrutura.

Essas mudanças também são percebidas pelo médico Ernany Bender, 72, que atua, hoje, na área de oncologia do Hospital Bruno Born (HBB). O profissional entrou na faculdade em 1971, na Ufrgs. Seis anos depois, estava formado, e levou mais três para terminar a residência em urologia.
E, apesar das dificuldades, acredita que a evolução da medicina deixa para os novos médicos hospitais mais qualificados e com melhores condições de trabalho. “Facilidades no diagnóstico, temos quimio, radioterapias, coisas que no início não havia”, destaca.

Assim que saiu da faculdade, ele lembra que os primeiros equipamentos de auxílio, diagnóstico e tomografia surgiam, no período em que começou a atuar no HBB, em 1980. Os exames de raio-x e ecografias vieram mais tarde.

Ao longo dos anos, também foram criadas as Unidades de Terapias Intensivas (UTIs) como a neonatal e a pediátrica na cidade, assim como adquiridos equipamentos de ressonância magnética.

“A medicina evoluiu muito. Hoje não se opera mais pacientes com cálculo, por exemplo, se faz com um endoscópio, e isso também traz benefícios ao paciente”, ressalta Bender.

Humanidade nos atendimentos

Duro ainda destaca que, hoje, muitos profissionais trocam a conversa e o toque por exames sofisticados. Além disso, os pacientes possuem mais acesso a informações. “Antes, a palavra do médico era lei. Hoje, estar atualizado, baseado em cientificismo, não em empirismo, é uma base segura para o bom profissional da medicina”.

Criticar as informações e compreender o contexto psicossocial e demográfico de cada pessoa também é uma ferramenta que não saiu de moda. O coordenador do curso defende que, apesar dos benefícios das novas tecnologias, elas não substituem a relação médico-pessoa.

 

 

O médico Ernany Bender conta que a evolução tecnológica do hospital passou a ser vista a partir dos anos 90.  Fotos: Arquivo Pessoal

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