A síndrome dos pequenos  imperadores

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A síndrome dos pequenos imperadores

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Não há dúvida de que a criação do anticoncepcional mudou a sexualidade humana e o tamanho da população. Ao ter o poder de controlar sua reprodução, as famílias no mundo todo foram diminuindo. No Brasil não foi diferente. As famílias de cinco ou seis filhos dos anos 70, e que já vinham diminuindo, passaram há 40 anos para três ou quatro. Depois, diminuíram para dois e, atualmente, muitos casais, especialmente os mais ricos e mais escolarizados, param no primeiro e único filho.

Desde outubro de 2019, a população de idosos do Rio Grande do Sul superou a de jovens de 0 a 14 anos. O resultado prático disso é que em alguns anos nossa população começará a diminuir e a envelhecer. Tal fato já ocorreu de maneira forçada na China, onde a política do filho único, instituída em 1979 para controle do crescimento populacional, já mostra de forma mais clara seus resultados.

Segundo uma pesquisa, os filhos únicos são mais egoístas, pessimistas e menos dispostos a confiar nos outros do que os indivíduos nascidos antes do Partido Comunista proibir os casais das áreas urbanas de ter mais de um filho. Em alguns casos, a criança é o foco de amor e esperança de dois pais e quatro avós e isso tem levado à síndrome do pequeno imperador, na qual a criança espera sempre ser o centro da atenção e receber mimos.

Em nosso país, não há qualquer imposição sobre o número de filhos e tampouco uma política clara de controle da reprodução, mas a escolha por poucos descendentes tem se tornado uma norma que acaba por levar os pais a uma visão distorcida do seu papel: eles querem fazer seus filhos felizes a qualquer custo.

E embora ninguém saiba bem o que é essa tal felicidade, infeliz de quem tentar frustrar essa busca insensata; seja a escola, o mercado de trabalho ou simplesmente os outros. A reação costuma ser hostil e brutal. Paradoxalmente, esses mesmos pais que não querem frustrar seus filhos, alegam não ter tempo para cuidar deles e delegam essa tarefa às babás, à escola e aos dispositivos digitais.

Infernizadas, tais crianças infernizam os outros. Não se conformam com notas baixas, não aprendem a esperar, não sabem negociar e muito menos ceder e assim vai surgindo uma geração que grita por todos os seus supostos direitos, mas não querem a parte difícil dos deveres. Sem saber o que é certo e o que é errado e sem limites claros, eles são a perfeita combinação de adultos que não querem educar e nem estabelecer regras com escolas que querem apenas doutrinar.

São esses jovens que substituíram o tão sonhado ter pelo ser, mas de forma estranha. Eles querem somente estar onde possam ser (o que não é mau), mas desde que sustentados por alguém que tenha posses. Foi isso que se ouviu de forma gritante na última semana, durante alguns jogos universitários: “Sim, eu sou playboy. Não tenho culpa se seu pai é motoboy.”

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