Eu detesto fofoca, mas…

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Eu detesto fofoca, mas…

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A oralidade brasileira é das mais ricas do mundo, quiçá do universo. Ainda que grupos de estudiosos da ufologia afirmem terem criado técnicas de comunicação com civilizações extraterrenas, ainda não tive essa experiência. Nem mesmo uma fofoquinha tridimensional chegou até mim.

Agora, pelos corredores das empresas, nos supermercados ou no balcão de um botequim, as histórias da vida alheia estão presentes com tamanha força que é difícil não se divertir. O mais curioso disso tudo é o caráter pejorativo das interlocuções.

Sabe aquela lógica, “não critique, não condene e não se queixe”. Pois então, de nada serve na informalidade do cotidiano. Para muitos, é o contrário. Puxar assunto, indiferente do conteúdo, é o que vale à pena, de preferência se for para falar mal dos outros. Esse comportamento nacional é prato cheio à comédia.

“Sabe a vizinha do lado da tua casa. Toda vez que o marido sai com o caminhão, chega um carro diferente”. Ouvi essa frase de um senhor na porta de um mercado no bairro Montanha. Reduzi a velocidade do passo. Adoro um babado matinal em um sábado de sol. A interlocutora, uma senhora perto dos seus 60 anos, tentou se afastar da conversa. Ele continuou. “O marido trabalha tanto. Se descobrir, vai dar tragédia.”

No diálogo, a senhora diz: “É complicado.” Por essas bandas, tal expressão significa “vamos mudar de assunto”. Aquele senhor parece não ter entendido essa tentativa de desconversa e insistiu: “Não sei como ele não descobriu ainda.” Em nova tentativa de cortar o assunto, a senhora diz: “eu prefiro não me meter. Não quero saber da vida dos outros.”

O encerramento foi glorioso: “eu também não. Só comento pois achei estranho. Eu não gosto de fofoca. Eu detesto, mas sabe como é…”
Esse falar mal dos outros, alimentar boatos e promover o telefone sem fio pelas ruas ganhou amplitude. Agora as meias verdades estão pelos grupos de WhatsApp. Um fofoqueiro é como um “espalha fake news”, que desconhece o impacto das mentiras. Sabe aquele: “recebi, não sei se é verdade, e repassei”. De fato, temos uma versão 4.0 da boca pequena.


E o Ideb do Vale?

Agora vamos falar sério. Desde a divulgação dos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), feito pelo MEC e Inep, em 16 de setembro, me dediquei em análises às notas de cada níveis das escolas e das redes públicas de ensino da região.

A avaliação carregava consigo muitas dúvidas sobre qual metodologia seria mais justa para aplicar, tendo em vista que se tratava do período de pandemia, com escolas fechadas e alunos distantes. Há muitos aspectos para serem considerados. Pelo espaço, me concentro em um.

Na região, a melhor avaliação no Ensino Médio foi do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul), campus Lajeado. Em termos estaduais, a pontuação de 6,3 foi a quinta entre todas instituições gaúchas.

As quatro primeiras são escolas Tiradentes. Pertencem à rede estadual, no entanto, são gerenciadas pela Brigada Militar. Tratam-se de instituições militares, com dotação orçamentária distinta dos colégios civis. Com poder de investimento muito maior. Com processo seletivo dos alunos e professores exclusivos.

Em resumo. Avaliar diferentes como iguais é injusto. A qualidade da educação está intimamente ligada ao poderio de investimento.

 

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