Como os discos de vinil resistem à tecnologia

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Como os discos de vinil resistem à tecnologia

O número de adeptos ao vinil cresceu nos últimos oito anos. Mesmo em um mundo cada vez mais tecnológico, o clássico deixou de ser apenas peça de colecionador. Hoje, os discos são encontrados em lojas ou na internet, e voltam a ganhar destaque na indústria musical

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Como os discos de vinil resistem à tecnologia
Dos clássicos do rock e pop nacional e internacional, quase 300 LPs fazem parte da coleção de Hélio Etchepare. Crédito: Júlia Amaral
Vale do Taquari
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Com dois tocadores de discos de vinil e um mixer, o DJ Lisandro Figueiró, 50, deixa a tecnologia de lado na hora de se apresentar pela região. Os discos feitos de vinil são, para ele, peças de colecionador e, entre os preferidos, estão álbuns dos anos 70, 80 e 90. O gosto veio de família, e o lajeadense foi um dos tantos apaixonados pelo clássico que não abandonou os discos ao longo das décadas.

O pai era um colecionador e, aos seis anos, Figueiró comprou o primeiro vinil. Era uma coletânea chamada Rádio América, que hoje integra a coleção de mais de 800 discos nas prateleiras de casa. Mesmo com o grande número de álbuns, tem um, em especial, que ele ainda sonha em comprar: o Fancy.
“Como colecionador, nunca deixei de comprar discos. Na transição do vinil para o CD, caiu muito a procura, e muitas fábricas fecharam no mundo todo. Mas para os colecionadores, não existe essa volta, pois os apaixonados nunca deixaram de adquirir”, destaca.

O eletricista, que tem a discoteca como hobby, começou a tocar em festas aos 15 anos. Os amigos também pediam algum disco emprestado, mas ele recusava e sempre teve os objetos bem conservados. Figueiró ainda ressalta que, hoje, as festas no estilo retrô estão em alta, e quando o disco de vinil é utilizado, a nostalgia se completa.

Em busca dos LPs

Nos últimos oito anos, o número de adeptos ao vinil cresceu e, mesmo em um mundo cada vez mais tecnológico, o clássico deixou de ser apenas coisa de colecionador. Uma pequena loja na rua Saldanha Marinho, em Lajeado, é um dos poucos locais da região onde os discos podem ser encontrados. É ali que a família de Eduardo Bender deu início à Game Boy, com a venda de CDs, aparelhos de música e videogames.

O pai de Bender era um colecionador, e passou o gosto para o filho. Parte dos discos ainda estão guardados na casa da família, e outros foram para a loja para serem vendidos. Hoje, são centenas de vinis à disposição dos clientes, assim como tocadores. No espaço, também é feita a reforma dos aparelhos. Na coleção, há álbuns vendidos no valor de R$ 5 até R$ 450, para uma peça em especial.

Com dois tocadores e um mixer, o DJ Lisandro Figueiró utiliza os vinis nas apresentações. Crédito: Júlia Amaral

“É um do AC DC, do último álbum que eles lançaram, em 2020. Ele é lacrado, importado da Alemanha. É uma edição limitada, e o disco é rosa”, conta o vendedor. Como a maior parte dos discos são antigos, é difícil encontrar fornecedores. Por isso, os discos são adquiridos com pessoas interessadas pelos objetos, que procuram a loja, ou são procurados pelos proprietários. Alguns também são encontrados na internet.

“Existem os discos novos de hoje em dia, só que são mais caros, por isso giram mais os usados. Os que temos disponíveis aqui são de todos os gêneros, mas os mais vendidos são os de rock, de bandas como AC DC, Guns N’ Roses, Pink Floyd”, destaca Bender. Entre os clientes que procuram os discos estão pessoas de mais idade e outras mais novas. O público é variado, e o movimento, constante.

Vinil pela história

Na década de 80, no entanto, os discos começaram a perder espaço para novas criações da indústria musical, como os CDs, que marcaram a transição do meio analógico para o digital no setor. Foi a partir desse movimento que os LPs passaram a se tornar ítens de colecionador. Mas, em 2014, o cenário mudou, e o vinil voltou a ganhar espaço, em especial no mercado norte-americano, para se espalhar pelo mundo outra vez. E, mesmo sem as proporções do passado, esse retorno fez com que gravadoras voltassem a produzir os conhecidos “bolachões”.

Nostalgia e paixão

Com isso, novos colecionadores começaram a surgir, e outros puderam aumentar seus acervos. Entre eles, Hélio Etchepare. Na transição da adolescência para a vida adulta, o alegretense foi DJ com discos de vinil. Na época, o jovem precisava ligar para lojas de São Paulo e escolher as músicas preferidas, para que lhe enviassem o LP com a seleção.

“Quando eu me mudei para Porto Alegre, vendi tudo. Aí, quando vim morar em Lajeado, há uns 20 anos, comecei a comprar meu equipamento de som e discos de novo”, lembra. Entre os garimpos e heranças do avô, alguns materiais conservam até registros de seus primeiros donos, como o recorte do jornal que anuncia a morte de John Lennon. “O CD não te dá isso, o Spotify muito menos. Para escutar um disco tem um risco, é um processo mais nostálgico”, comenta.

A família Bender mantém uma das poucas lojas que vendem discos na região, no centro de Lajeado. Crédito: Bibiana Faleiro

Hoje, na casa dele, são quase 300 discos na coleção. Do rock, pop e música popular brasileira, os que mais lhe entusiasmam são aqueles com o material mais diferente. Entre eles, um disco duplo da banda britânica de heavy metal, Black Sabbath, e um clássico dos The Beatles, o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Conforme Etchepare, mesmo com a ascensão do digital, é fácil encontrar discos para comprar. O problema, no entanto, é o valor, sobretudo no mercado de usados. Da sua coleção, alguns discos, como o da banda Rolling Stones, chegam a valer R$ 2 mil.

Mercado aquecido

No Brasil, existem hoje cinco clubes de assinatura que entregam discos. Juntos, os empreendimentos somam cerca de 30 mil assinantes. Nos Estados Unidos, foram 27,5 milhões de vinis vendidos em 2020, 46% a mais que em 2019, conforme a MRC Data.

O mercado brasileiro, por se valer muito do comércio de discos usados, não apresenta dados tão precisos. Mas lojistas das metrópoles como São Paulo, dizem percebem um forte aumento nas vendas durante a pandemia.

Dispositivos de música ao longo da história

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